Universidades vão acompanhar professores chineses que darão aulas no 10.º ano

Suspeitas em relação ao Instituto Confúcio da República Popular da China não são partilhadas em Portugal.

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Crato garantiu que os professores chineses não serão contralados pelo Governo de Pequim Nuno Ferreira Santos

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) vai contar com a colaboração de oito instituições do ensino superior para desenvolver um projecto-piloto de ensino de mandarim em 21 escolas secundárias portuguesas, cujas aulas serão asseguradas por professores escolhidos e pagos pela República Popular da China.

Para assegurar este projecto, o ministro da Educação, Nuno Crato, assinou nesta terça-feira um protocolo com o Instituto Confúcio da República Popular da China (Hanban), que já estava a ser ultimado desde Maio de 2014.

Para já aderiram ao projecto 21 escolas secundárias, onde a partir de Setembro cerca de 400 alunos poderão ter mandarim no 10.º ano. O protocolo assinado nesta terça-feira prevê que os professores chineses que vão dar aulas nestas escolas sejam acompanhados pelas Universidades de Lisboa, Coimbra, Minho, Aveiro e Algarve e pelos institutos Politécnicos de Viseu, Castelo Branco e Leiria.

Em várias destas instituições existem já delegações do Instituto Confúcio e outras estão em vias de ultimar acordos com esse objectivo, o que aconteceu numa altura em que noutros países existem várias universidades a não renovarem estes acordos por considerarem que a sua presença pode “ameaçar a liberdade académica e promover a vigilância de estudantes chineses no estrangeiro”, conforme o PÚBLICO noticiou em Junho.

Questionado sobre esta polémica durante a assinatura do protocolo, Nuno Crato, citado pela Lusa, garantiu que “não há controlo absolutamente nenhum por parte do Governo”. “Nós temos falado sobre isto e estes professores vêm ensinar mandarim”, acrescentou, explicando que as orientações curriculares estão a ser preparadas por um grupo de trabalho coordenado pela Direcção-Geral da Educação, que integra igualmente professores do ensino superior e secundário.

Durante a assinatura do protocolo com o Hanban, o embaixador da República Popular da China em Portugal, Huang Songfu, lembrou que o mandarim é a actualmente a língua mais falada em todo o mundo.

Ao contrário do que acontece com o britânico British Council ou o alemão Goethe Institut, o Instituto Confúcio não tem instalações próprias no estrangeiro, funcionando no interior das universidades com quem estabelece protocolos que envolvem o financiamento de actividades e a atribuição de bolsas. O PÚBLICO questionou as universidades de Lisboa, Minho e Aveiro sobre a manutenção dois protocolos existentes com o Instituto Confúcio e a avaliação que fazem da relação com o Hanban.

A Universidade do Minho, que no ano passado foi palco de um acto de censura aberta por parte da presidente do Hanban, Xu Lin, não respondeu. Das outras duas instituições chegaram respostas genéricas

O vice-reitor da UL, João Barreiros, frisou que “a procura de formação em língua chinesa tem uma expressão muito significativa” ao nível daquela universidade e que esta “mantém uma relação protocolar de cooperação com o Instituto Confúcio que permite o desenvolvimento de iniciativas conjuntas no domínio da aprendizagem e aperfeiçoamento da língua chinesa em Portugal”. “A actividade do Instituto Confúcio mantém uma reserva de autonomia própria que lhe é conferida pela necessidade de planear e dirigir as actividades que melhor sirvam a sua missão essencial”, acrescentou.

Para o reitor da Universidade de Aveiro Manuel António Assunção, a colaboração com o Instituto Confúcio, inaugurada a 23 de Abril, “permitirá alargar a oferta de formação em língua e cultura chinesas, que atraem, como é notório, um número crescente de interessados”.

A presidente do Hanban, Xu Lin, foi a interlocutora de Crato nas negociações do protocolo assinado nesta terça-feira. No ano passado, durante uma conferência da Associação Europeia de Estudos Chineses na Universidade do Minho, mandou retirar os programas do evento por conterem referências a instituições de Taiwan. Os documentos foram depois devolvidos aos congressistas, mas já sem as páginas com as referências àquela ilha, que foram arrancadas pela delegação chinesa, segundo confirmaram vários participantes.

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