As três escolhas de Alexis Tsipras na política interna

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Alexis Tsipras Alkis Konstantinidis/Reuters

No final da maratona parlamentar em que recebeu um mandato para negociar uma proposta com o Eurogrupo, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou que o mais importante era que fosse assinado um acordo. Tudo o resto — ou seja, as questões internas — ver-se-ia depois.

Alguns números dão força a Tsipras: teve 36% dos votos nas eleições de Janeiro, o ‘não’ que defendeu no referendo obteve 61% (é de notar que deu a entender que sairia se o ‘sim’ vencesse), e mais de 80% dos deputados aprovaram o seu plano na madrugada de sábado – 251 numa câmara composta por 300 deputados, mais do que os 199 que em 2012 aprovaram o segundo memorando sob a liderança do tecnocrata Lucas Papademos.

No entanto, outros números são problemáticos. O facto de 17 deputados da coligação não terem votado a favor – oito abstiveram-se, dois votaram não e sete estiveram ausentes, todos do Syriza – quer dizer que o Governo não conseguiria assegurar sozinho a maioria.

Há um número ainda pior: 79% dos gregos estão contra as propostas que estão agora a ser negociadas, segundo uma sondagem do instituto grego Bridging Europe. Muitos gregos vêem este acordo como exactamente igual ao anterior, não tendo em conta que este durará três anos, um argumento que Tsipras repetiu no Parlamento.

Quanto à política interna, Tspiras tem três opções, resume o jornalista do jornal conservador Kathimerini e director do site de análise Macropolis, Nick Malkoutzis: mudanças no Syriza, eleições antecipadas ou remodelação do Governo.

O primeiro cenário seria a expulsão dos deputados do Syriza que votaram não, ou obrigar todos os deputados do partido a assinar uma declaração dizendo que se deixarem o Parlamento o seu lugar fica vago, para que possam ser substituídos sem o Syriza perder número de deputados em caso de desacordo.

Eleições antecipadas seria complicado numa altura em que é preciso estabilidade para convencer as instituições de que é possível aplicar as medidas. A Constituição grega exige um mínimo de 30 dias para eleições. E no Parlamento, os deputados que ficaram sozinhos a defender o “não” foram o partido neonazi Aurora Dourada e o Partido Comunista. Uma eleição arriscaria deixar a extrema-direita com mais lugares.

Quanto ao último cenário, a remodelação, Tsipras já fez uma aproximação a toda a oposição com o encontro para aprovação da proposta a levar às instituições, mas a cisão dos últimos tempos e a polarização durante o referendo deixaram as suas marcas. O ministro grego da Economia, Giorgos Stathakis, disse que faz sentido que os que não estão de acordo “se afastem” – um deles é o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis.

Há ainda quem imagine que um governo de unidade pudesse ser não só o cenário preferido dos credores como uma das condições para os europeus aprovarem o acordo. Stavros Theodorakis, líder do partido To Potami, que tem sido muito acarinhado por algumas figuras europeias, já pediu um executivo de unidade nacional. E a palavra mais repetida entre responsáveis do Eurogrupo com dúvidas era “confiança” como ter confiança no Governo grego para levar a cabo as reformas.

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