Muse: “Era altura de um bom disco de rock robusto e pesado”

Cabeças de cartaz no Nos Alive, os Muse falaram ao PÚBLICO da recusa em tornar-se uma banda electrónica.

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Horas antes da actuação do grupo como cabeça de cartaz do Nos Alive, o PÚBLICO encontrou-se nos camarins com o baixista Christopher Wolstenholme Miguel Manso

Não sendo surpreendente que os Muse correspondam a uma arquitectura sonora e temática que reproduz com minúcia aquilo que se passa na cabeça do seu vocalista, Matt Bellamy, conversar com outro dos membros do trio inglês apenas reforça essa convicção.

Horas antes da actuação do grupo como cabeça de cartaz do Nos Alive, o PÚBLICO encontrou-se nos camarins com o baixista Christopher Wolstenholme, que finta qualquer alusão à temática do álbum conceptual Drones, ancorado numa narrativa sobre a sociedade hipervigilante de um Big Brother já em curso em que vivemos. “Claro que é o Matt que escreve as canções e as letras e temáticas exploradas são sempre algo de muito pessoal”, confirma. “Não é algo que permita muita colaboração – o nosso processo colaborativo é musical.”

Não passando uma ideia de serem meros fantoches musicais nas mãos de Bellamy, Wolstenholme é explícito no seu entendimento de que são as leituras e o olhar do vocalista sobre “o tempo em que nos encontramos” que ditam os caminhos da música dos Muse e dos ambientes sonoros explorados para servir essas premissas temáticas. “Há quem só escreva canções de amor”, comenta, “o Matt gosta de se referir ao que está a acontecer no mundo e àquilo com que nos confrontamos diariamente". "Acho que já havia algumas ideias soltas sobre isto", a abordagem da guerra com recurso a drones, "nos álbuns anteriores, sobretudo em Black Holes and Revelations, mas também em temas como Citizen Erased e Uprising". "O Drones é o álbum em que tudo isto se junta e forma um conceito sólido.”

Foi esse conceito unificador que, por um lado, levou o grupo a recuar na escalada megalómana de complexificação dos temas que os conduziu até ao anterior The 2nd Law. Sem renegar esse disco, Wolstenholme admite que havia nele um excesso de dispersão musical, naquilo que considera ter-se tratado de uma tentativa de “enfiar todas as coisas que nos influenciaram ao longo dos anos num só disco, o que resultou numa colecção de canções que talvez não fizesse muito sentido”. “Se tivéssemos esticado mais a influência electrónica”, acrescenta, “ter-nos-íamos certamente tornado uma banda electrónica.”

Em vez disso, dispensaram a miríade de soluções de estúdio que nos últimos anos fizera com que passassem mais tempo a rodar botões nas mesas de mistura do que efectivamente a tocar. Regressando a um formato de trio, apostaram então na construção de “um bom disco de rock robusto e pesado”. “Quando éramos adolescentes, nos anos 90, havia imensos bons álbuns de rock pesado a serem lançados a toda a hora. Agora, pelo menos no mainstream, parece que já ninguém o faz. E sentimos que era altura de as pessoas voltarem a ouvir rock.”

Nesse processo, acabaria por ser fundamental a escolha do produtor Robert ‘Mutt’ Lange, cujos créditos incluem álbuns como Back in Black, dos AC/DC, ou Hysteria, dos Def Leppard. E bastou-lhes ter presente que Lange colocou a sua assinatura em Back in Black, “provavelmente o maior disco de rock da história”, considera o baixista dos Muse, para a decisão ser clara. Tratando-se de uma banda assumidamente ambiciosa, foi essa pista que os Muse seguiram. Recuar na profusão estilística é uma coisa; prescindir de ombrear com os feitos dos seus heróis é outra bem diferente.

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