FMI vê uma economia mundial mais frágil e sob o risco de novas “tensões”

Situação na Grécia e subida dos juros prejudica expansão da actividade económica dos países mais frágeis do euro. Este ano, a economia global deverá crescer 3,3%, projecta o FMI.

Foto
A economia chinesa deverá abrandar este ano para 6,8% KIM KYUNG-HOON/Reuters

O Fundo Monetário Internacional (FMI) está menos optimista em relação ao desempenho da economia global este ano. O “enfraquecimento inesperado” da actividade económica nos Estados Unidos levou a instituição liderada por Christine Lagarde a baixar nesta quinta-feira a projecção de crescimento mundial para 3,3% em 2015. Mas o rol de factores de risco que pairam sobre a actividade económica mundial não fica por aqui, diz o FMI. Se a crise na Grécia e o seu impacto nos países da periferia do euro alimentam o perigo de um regresso das “tensões financeiras”, a isso soma-se o “aumento das dificuldades da transição da China para um novo modelo de crescimento” e o risco latente com as tensões geopolíticas na Ucrânia, no Médio Oriente e nalgumas zonas de África.

No relatório Perspectivas da Economia Mundial, divulgado nesta quinta-feira, o FMI diminuiu a previsão de crescimento mundial em 0,2 pontos percentuais face à estimativa feita em Abril. Isto significa que o FMI já está a contar que a economia global cresça menos do que no ano passado, ao contrário do esperado três meses antes. O Fundo esperava que, depois de um crescimento de 3,4% em 2014, a economia avançasse 3,5%, uma previsão que agora já não arrisca manter de pé. Ainda assim, a expectativa é que haja uma retoma gradual nos países desenvolvidos e um abrandamento nos mercados emergentes, esperando-se que a economia mundial acelere no próximo ano, com um crescimento de 3,8%.

O que mais pesou na decisão do FMI de rever em baixa a previsão deste ano foi a desaceleração da actividade económica nos EUA no primeiro trimestre, que surpreendeu economistas e que teve um impacto no desempenho das economias do Canadá e do México. “Factores excepcionais, nomeadamente um Inverno rigoroso e o encerramento dos portos, assim como uma forte diminuição das despesas de equipamento no sector petrolífero, contribuíram para o abrandamento da actividade nos Estados Unidos”, justifica o FMI. “No entanto, os factores de aceleração progressiva da actividade económica nos países desenvolvidos – condições financeiras acessíveis, uma política orçamental mais neutra na zona euro, a descida dos preços dos combustíveis, uma retoma da confiança e a melhoria no mercado de trabalho – continuam intactos”.

Os EUA deverão crescer este ano 2,5%, menos 0,6 pontos do que o FMI previa em Abril. Há, mesmo assim, uma ténue aceleração face ao ano anterior, movimento que deverá continuar em 2016, com a economia a crescer já a um ritmo de 3%.

Para a zona euro, o FMI mantém a previsão de crescimento prevista há três meses, embora veja na zona euro um foco de grande incerteza. A estimativa é de um crescimento do PIB de 1,5% em 2015, seguido de um aumento de 1,7% no próximo ano.

É crítica a análise que o FMI faz aos últimos acontecimentos na zona euro por causa da agudização da crise grega. O FMI alerta que o encerramento dos bancos e o referendo lançado por Alexis Tsipras, que resultou num expressivo “Não” popular às propostas dos credores, veio aumentar a “incerteza quanto às perspectivas e à natureza de uma ajuda futura da comunidade internacional”, gerando alguma agitação nos mercados, embora as reacções tenham sido “relativamente moderadas” e a subida dos juros da dívida tenha sido “modesta”.

“A retoma económica na zona euro parece estar globalmente no bom caminho, com uma recuperação robusta da procura interna e a inflação a começar a acelerar. As projecções de crescimento foram revistas em alta para vários países da zona euro, mas, na Grécia, os desenvolvimentos actuais deverão prejudicar a actividade económica bem mais do que o previsto”, enfatiza o FMI.

Ainda que a situação na Grécia não tenha tido um efeito de contágio significativo, a zona euro deve estar preparada para “lidar com esses riscos, caso eles se materializem”. Que economias mais podem sofrer com o efeito de choque? O FMI não se refere a países concretos, mas deixa implícito de que se refere aos países da periferia da moeda única, onde a reacção, ainda que contida, dos mercados mais se fez sentir nas últimas semanas. “A subida recente das taxas de juro soberanas em algumas economias da zona euro reduz a possibilidade de um aumento da actividade nestes países, permanecendo alguns riscos de um reaparecimento das tensões financeiras”, avisa o FMI.

A mudança chinesa
Às “surpresas positivas e negativas” que levaram o Fundo a ajustar as suas projecções soma-se ainda o facto de o crescimento e a procura interna dos países emergentes e países em desenvolvimento ter enfraquecido. A China, a adaptar-se com dificuldade a um “novo modelo de crescimento”, deverá ver o seu PIB avançar 6,8%, quando no ano passado o ritmo de progressão foi de 7,4%.

O FMI nota que o mercado bolsista chinês enfrentou nos últimos dias uma queda de 30% (o que levou o Governo a injectar dinheiro no mercado para estancar a desvalorização), mas vinca que os últimos desenvolvimentos, tanto em relação à China como à Grécia, não alteraram as previsões globais de crescimento da economia mundial.

Nos países emergentes, diz a instituição, o abrandamento progressivo do crescimento poderá dever-se a uma “baixa dos preços dos produtos base e o endurecimento das condições de financiamento externas, os estrangulamentos estruturais, o reequilíbrio da economia chinesa e as dificuldades económicas ligadas a factores geopolíticos”.

Do lado positivo, a baixa dos preços do petróleo pode ajudar as economias desenvolvidas a dinamizar a actividade económica no mundo. Mas do lado negativo, o FMI avisa que as variações dos activos (nomeadamente num cenário de aumento do preço do petróleo) e o aumento da volatilidade nos mercados financeiros mantêm os riscos de degradação” das economias.

Sugerir correcção
Comentar