Reabertura dos bancos gregos na terça-feira não está garantida

Levantamentos limitados a 50 euros, por escassez de notas de 20 euros, e cartões de crédito deixam de ser aceites em alguns estabelecimentos.

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Muitas ATM gregas estão sem dinheiro. Nuno Ferreira Santos

A situação financeira interna da Grécia agrava-se cada vez mais e faz aumentar os receios sobre a abertura dos bancos a partir da próxima terça-feira, por ausência de liquidez e pela incerteza da decisão do Banco Central Europeu (BCE) sobre a garantia de novos financiamentos.

A pouca liquidez dos bancos poderá estar a poucas horas de se esgotar, numa altura em que há muitas caixas automáticas (ATM) sem dinheiro, e outras a permitir apenas o levantamento de 50 euros, abaixo do limite diário autorizado de 60 euros, por escassez de notas de 20 euros. Muitas lojas comerciais, designadamente gasolineiras, estão a deixar de aceitar cartões de crédito, em face da incerteza que pode resultar do referendo de domingo.

As especulações sobre a solidez dos próprio sistema financeiro levou o ministro das Finanças a dizer ao canal Channel 4 News que os quatro maiores bancos do país estão seguros e não vão sofrer um resgate com recurso aos depósitos, como aconteceu em Chipre. Estas garantias e as do primeiro-ministro, Aléxis Tsípras, sobre a segurança dos depósitos estão longe de tranquilizar os gregos.

Também os empresários do país se manifestam cada vez mais preocupados com as repercussões da situação financeira na vida das empresas, impedidas de fazer pagamentos internacionais, fundamentais para comprarem os produtos necessários para manter os negócios a funcionar.

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria, Constantino Michalos, garante que as empresas “estão numa situação extremamente perigosa, porque foram excluídas das transferências electrónicas de sistema Target2 da Europa” (sistema de pagamento internacional).

O líder da associação de bancos gregos admitiu nesta sexta-feira que as instituições financeiras têm uma almofada de mil milhões de euros, mas reconheceu que, depois de segunda-feira, a liquidez depende exclusivamente do BCE. "A liquidez está assegurada até segunda-feira”, afirmou Louka Katseli.

Mas há declarações de outros responsáveis que colocam a disponibilidade dos bancos em níveis mais baixos e que têm dúvidas sobre a disponibilidade do BCE para aumentar a linha de liquidez à banca grega na reunião de segunda-feira, de forma a permitir a reabertura dos bancos no dia seguinte.

A contrastar com as declarações do ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis , que numa entrevista à Bloomberg  admitiu como possível a reabertura dos bancos na data prevista, Constantino Michalos admite que serão precisos vários dias para que isso aconteça.

“Mesmo que os eleitores aceitem os termos de resgate da zona do euro, os bancos estão sem dinheiro e provavelmente não vão abrir até pelo menos 20 de Julho”, admitiu o presidente da Câmara de Comércio e Indústria, em entrevista à cadeia de televisão norte-americana CNBC.

"É absolutamente impossível [a reabertura] a menos que haja um acordo”, referiu, reforçando que a aprovação de um novo entendimento e o desbloqueamento de nova cedência de liquidez por parte do BCE vão demorar algum tempo.

Constantino Michalos considera que a liquidez actual dos bancos não ultrapassa os 500 a 600 milhões de euros, abaixo do valor estimado pelo presidente da associação de bancos gregos.

A pressão dos empresários volta-se para o Banco da Grécia, a quem pedem a libertação imediata de fundos de liquidez de emergência (ELA) para cobrir as importações de alimentos, produtos farmacêuticos e muitos outros.

Esta linha de liquidez depende do BCE, que se mostra cauteloso sobre as próximas decisões, remetendo para a reunião marcada para segunda-feira. Em declarações aos jornalistas, Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE, admitiu nesta sexta-feira que se o “não” sair vencedor no referendo de domingo pode ter consequências no financiamento aos bancos gregos.

O vice-presidente do BCE admitiu que o resultado do referendo será “relevante” para as decisões que o BCE venha a tomar na segunda-feira, admitindo que, se o resultado vencedor for o “não”, as possibilidades de acordo serão menores e esse cenário terá de ser tido em conta “na análise sobre a situação dos bancos gregos".

Esta semana, o BCE manteve a linha de liquidez à banca grega em 85 mil milhões de euros, montante que pode ser insuficiente.

Apesar de considerar que a Grécia está oficialmente em incumprimento, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) da zona euro anunciou nesta sexta-feira não vai pedir o reembolso antecipado dos empréstimos concedidos.Com agências

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