Na cabeça de Alexis Tsipras

A cinco dias do referendo, por si convocado, primeiro-ministro faz proposta desconcertante. Para quê?

Percebeu a nova proposta do Governo grego, entregue a poucas horas de expirar o deadline para o pagamento de 1544 milhões de euros ao FMI? Se não percebeu, não está sozinho. Há várias interpretações possíveis, mas nenhuma passa o teste da razão lógica.

Claro que a crise grega é uma questão política e que é política que tem faltado à Europa. Mas que sentido faz um primeiro-ministro que na sexta-feira às 11 da noite interrompe as negociações em Bruxelas para anunciar um referendo vir agora – quatro dias depois dessa decisão e a cinco do referendo – fazer uma proposta totalmente irrealista?

A proposta contradiz a ideia de pedir aos gregos que decidam eles o caminho a tomar. Se decidiu ouvir os gregos no domingo, para quê pedir na terça-feira um terceiro resgate, ainda por cima aquilo que disse que jamais pediria?

Por outro lado, a probabilidade de a proposta – nova e à margem das regras – ser discutida e aprovada antes da meia-noite era nula.

Estamos há 150 dias dentro de um incrível laboratório político. Independentemente de quem tem mais culpa e menos visão neste processo – e a Europa hoje tem claramente muito da primeira e pouco da segunda –, a estratégia grega está em desnorte. Alexis Tsipras quer ainda cancelar o referendo? Nunca teve intenção real de o concretizar? A ideia é ganhar um argumento para dizer aos gregos que tentou negociar até ao fim e evitar a ruptura e que foi a intransigência europeia que empurrou a Grécia para o “não”? Tsipras achou que Merkel estava a fazer bluff ao dizer que só volta a negociar com a Grécia depois do referendo? Não sabe já como Merkel funciona? Não sabe que há meses os gregos dizem que não querem austeridade, mas também que não querem sair do euro nem da Europa? Nada faz grande sentido. Alexis Tsipras jogou uma carta alta e não está a saber o que fazer com ela.

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