No "forno de Beja", "nem os cães uivam, nem os gatos miam"

Temperaturas chegaram aos 44 graus, mas não houve afluência anormal aos hospitais.

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Com os termómetros nos 44 graus, Beja é uma cidade silenciosa Miguel Manso/Arquivo

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera confirma: a temperatura ambiente na cidade de Beja chegou neste domingo aos 44 graus. “A cidade está um forno e nós temos que o gramar [ao calor]”, desabafa, de rosto afogueado, Francisco Claudino, 72 anos. Ficou por Beja porque não tem reforma para estâncias balneares, nem para molhar os pés na ondulação das praias da costa alentejana.

Com uma temperatura assim, “nem os cães uivam, nem os gatos miam”, acrescenta. É o tempo da calma. De fechar bem as janelas e portas, correr os estores ou as portadas e esperar por alguma aragem fresca e esperar sentado ou deitado. O Alentejo não dá tréguas quando o calor aperta.

No jardim público da cidade não se ouvia a habitual cavaqueira entre velhos, nem a algaraviada das crianças no parque infantil. Era um espaço verde entregue aos pardais, aos melros e pintassilgos. As pessoas contavam-se pelos dedos de uma mão e estavam de passagem.

Beja mantém uma das suas características mais peculiares durante o estio. É uma cidade sem movimento, silenciosa. Onde estão as pessoas? Escondidas em casa, a maioria. Os mais abonados refugiam-se nos montes na periferia da cidade ou então fogem para o Algarve.

A temperatura mais baixa a nível distrital foi registada em Odemira: 33 graus. Almodôvar, já na fronteira com a região algarvia, ficou-se pelos 38 graus. Todos os outros concelhos do Baixo Alentejo suportaram uma canícula acima dos 40 graus. Em Castro Verde, Moura e Vidigueira os termómetros bateram nos 43 graus. Serpa e Cuba chegaram aos 42 graus.

Apesar da canícula, não se verificaram ocorrências anormais na saúde das pessoas, nos serviços de saúde, nomeadamente no hospital de Beja, nem os bombeiros voluntários tiveram trabalho acrescido. Tudo muito calmo, apesar de as circunstâncias fazerem prever o pior. Uma fonte da unidade hospitalar confirmou ao PÚBLICO que os serviços de saúde tiveram um fim-de-semana normal.

No entanto, mantendo-se as temperaturas altas, as descompensações podem surgir em quem é obrigado a passar noites seguidas mal dormidas. “ É então que a cabeça começa a funcionar mal”, diz a experiência de Emília Corval, 63 anos, que não sai à rua sem uma garrafa de água na mão. “O pior de tudo, são as noites em claro” assinala, derreada de calor, apesar de tudo sempre melhor que o frio por causa das artroses nos joelhos e na coluna.

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