Credores não aceitaram proposta grega e negociações voltam a falhar

Atenas diz que FMI e UE insistem num acordo "irracional". Junker está convencido de que haverá entendimento até ao fim do mês, quando Atenas tem que pagar 1,6 mil milhões de euros.

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Angela Merkel e o seu vice-chanceler, Sigmar Gabriel , que disse que a Europa está a perder a paciência com a Grécia Thomas Peter/Reuters

Fracassaram as negociações que decorreram sábado e domingo em Bruxelas entre a delegação do Governo grego e os credores (Fundo Monetário Internacional e União Europeia). Segundo um porta-voz da Comissão Europeia, subsistem "divergências importantes" entre as duas partes.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou entretanto estar disposto a “esperar pacientemente” até que as instituições tenham uma posição “realista”. 

Numa nota enviada ao jornal Efimerida Ton Syntakton (de esquerda), Tsipras declarou estar disposto a “esperar pacientemente” até que as instituições tenham uma posição “realista”. E acrescentou que só vê uma razão para a sua insistência nos cortes de pensões: um motivo político.

Tsipras teve ainda uma palavra para os que vêem os compromissos que já vez aos credores como indo longe demais: “Se alguns interpretam a vontade honesta do Governo chegar a um compromisso e os passos que deu para fazer diminuir as diferenças como fraqueza, deviam considerar isto: “Não temos apenas uma história de luta. Estamos a carregar nas costas a dignidade de um povo, mas também as esperanças do povo da Europa. É um fardo demasiado pesado para ignorar.” Assim, aos que acusam o seu Governo de “teimosia ideológica”, Tsipras contrapõe que é “uma questão de democracia.”

Na véspera, Tsipras dissera estar preparado para assumir "compromissos difíceis" com os credores, mas pediu em troca um acordo "viável" com um perdão parcial da dívida, o que é rejeitado pela Alemanha (que detém a maior parte da dívida grega).

Enviou emissários a Bruxelas com uma contra-proposta, mas esta não foi aceite. O encontro de domingo acabou ao fim de apenas 45 minutos.

No dia 30 de Junho, o Governo de Atenas tem que pagar 1,6 milhões de euros aos credores e, sem um acordo que lhe assegure um novo empréstimo (de mais de sete mil milhões de euros, acordado em 2012), pode entrar em incumprimento.

Enquanto em Atenas o vice-primeiro-ministro, Yannis Dragasakis, dizia que as exigências dos credores são "irracionais", em Bruxelas o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker, estava "esperançado" num entendimento.

"As exigências são irracionais. A posição deles é intransigente e dura", disse Dragasakis, explicando que o FMI e a UE insistem num programa de aumento da austeridade que não ajudará a Grécia a sair da situação em que está - exigem o corte de salários e pensões, o aumento substancial do IVA e que seja ficado em 1% a meta do excedente orçamental (Atenas propõe 0,75%).

"As propostas gregas continuam incompletas", respondeu um porta-voz da Comissão Europeia à AFP, acrescentando que Juncker "continua convencido" que "pode ser encontrada [uma solução] até ao final do mês".

"Apesar de terem sido feitos alguns progressos, as conversações não tiveram sucesso e existe ainda um afastamento significativo", disse uma mensagem da comissão citada pela emissora Bloomberg. "Assim, mais discussões terão de ser levadas a cabo no Eurogrupo", que se reúne quinta-feira.

Os trabalhos para a aproximação das propostas vão continuar até lá, quando se realiza uma reunião do Eurogrupo, onde já começou a ser discutido o cenário do incumprimentro grego e as suas consequências, nomeadamente a saída da Grécia do euro.

Na quarta-feira, a posição do BCE em relação aos limites da assistência de liquidez de emergência aos bancos (ELA) que está a permitir a sobrevivência dos bancos gregos é vista como um sinal do que poderá acontecer e das probabilidades que os credores vêem de um acordo.

Na Alemanha, que tem mantido a sua posição de não ceder às propostas apresentadas pelo Governo de Tsipras, o vice-chanceler e ministro da Economia Sigmar Gabriel disse que a Europa está a perder a paciência com a Grécia. Explicou que Berlim quer manter a Grécia na zona euro, mas disse que "o tempo está a esgotar-se, assim como a paciência da Europa".

O perdão da dívida em que Atenas está a insistir é recusado terminantemente pela Alemanha, mas é defendido pelo FMI. O economista-chefe do Fundo Olivier Blanchard escreveu num fórum da instituição um artigo defendendo uma redução da dívida para que um acordo seja possível.

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