Novas listas, velhos problemas

Começa a saga das candidaturas. Há inovação nos métodos, mas não vão faltar as tradicionais guerras dos aparelhos.

Este ano promete trazer algumas novidades nas candidaturas de deputados à Assembleia da República. Há um partido, o Livre, que faz uma ruptura total com os métodos tradicionais de escolha dos nomes, mas há também nos velhos partidos sinais de alguma renovação geracional, caso do PS, e alterações radicais na colocação de figuras importantes do PSD e do CDS, impostas pela natureza das listas da coligação. Isto, além do aparecimento de novas formações políticas, como é o caso do PDR de Marinho e Pinto. Se daqui vai resultar uma representação de maior qualidade no hemiciclo de S. Bento, isso é o que se verá.

Embora sem dar muito nas vistas, os dois partidos do Governo já se agitam na disputa entre quem entra ou não entra e em que distrito fica, puzzle que o vantajoso acordo arrancado por Paulo Portas a Passos Coelho nas negociações que formalizaram a coligação tornou ainda mais difícil. O líder do CDS conseguiu garantir que a colocação dos candidatos do seu partido nas listas seja feita na base dos resultados obtidos em 2011, o que lhe permite segurar uma fatia considerável dos 24 deputados que os centristas detêm hoje no Parlamento. A dificuldade de compatibilizar interesses, egos e rivalidades com a enorme incerteza sobre os resultados deste sufrágio explica a tentativa das direcções dos dois partidos de empurrar o fecho das listas para o mais tarde possível. O objectivo é limitar os danos de eventuais “guerras” na praça pública que fragilizem uma aliança cuja imagem de sintonia é essencial para colar à mensagem de estabilidade que, já se percebeu, será um dos argumentos fortes da sua campanha. A intenção está votada ao fracasso, até porque há muitos problemas em aberto. O maior deles é politicamente delicado e prende-se com o lugar de Paulo Portas nas listas (ver págs. 2/3). Para compatibilizar a dignidade do seu cargo no Governo com a hierarquia numa lista, Passos poderá ser obrigado a mudar-se do seu confortável posto de número um em Vila Real, onde tem a vitória praticamente garantida, para disputar Lisboa contra António Costa. Irá mesmo arriscar? A escolha é entre uma provável derrota pesada na capital e o aumento do grau de conflitualidade interna na coligação.

À esquerda, o líder do PS propõe-se desafios cuja concretização se afigura tão difícil como fazer a quadratura do círculo. Harmonizar a renovação do pessoal político com a garantia da unidade interna e ainda abrir as listas a independentes sem sofrer a hostilidade do aparelho não é propriamente a imagem de marca do PS. Até porque as feridas ainda são muitas e Costa demora a descolar nas sondagens. No PCP vive-se no mar da tranquilidade e o Bloco parece ter aprendido com a lição das últimas eleições. Irá a tempo? Não se sabe se esta é a última eleição neste sistema eleitoral, pois o PS tem no seu programa as listas uninominais. Se assim for, daqui a quatro anos, então, sim, muda tudo.

 

 

 

  


 
 

 

 

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