A pressão dos exames e a descontracção das pausas escolares

É preciso mudar muita coisa no ensino até os resultados das provas nacionais alcançarem um patamar mais elevado. E não serão mais férias, com certeza.

Os exames estão à porta e o nervosismo apodera-se da comunidade escolar. Os pais, porque temem as consequências de um mau resultado para o futuro dos seus filhos; os jovens, porque são duplamente pressionados por família e professores e estes porque uma avaliação negativa dos seus alunos acaba por fazer recair sobre si próprios uma dupla consequência. Por um lado, a frustração de verem gorados os esforços de um ano de trabalho; por outro, a inevitabilidade de se sentirem postos em causa.

Talvez fosse a hora de a comunidade escolar encarar os exames como  Joaquim Homem de Gouveia, um de jovem de 15 anos com quem o PÚBLICO falou, no Funchal, a propósito dos exames nacionais que começam amanhã (ver págs de 4 a 9). “Não estou nada nervoso”, diz ele, que encara esta prova como “só mais um teste”, apesar de ter perfeita consciência de que esta “tem mais peso na nota final”. O que ele não percebe mesmo é porque é que as escolas colocam tanta pressão sobre os alunos. “Não entendo porque fazem isso. Estão sempre a falar do que vem e do que pode vir no exame”, exclama.

Sem o saber, Joaquim está a pôr o dedo na ferida, fazendo o mesmo diagnóstico que o presidente do Instituto de Avaliação Educativa (Iave) faz sobre o treino intensivo feito nas escolas para preparação dos exames. Numa interessante entrevista conduzida pela jornalista Clara Viana, Hélder de Sousa não hesita em considerar ser esse “o maior erro que se comete em matéria de prática de sala de aula”, com impacto “zero” na melhoria das aprendizagens e que dá “um péssimo retrato da escola”. Se o retrato e os resultados são assim tão maus, é óbvio que essa realidade dá trunfos a todos os que contestam a própria realização dos exames. Hélder de Sousa recusa esse caminho por se “retirar do sistema o único mecanismo de regulação do que se faz nas escolas e centrar toda a avaliação na avaliação interna”. Mas aponta outra via, mais trabalhosa e, aparentemente, mais consequente, cujo objectivo seria as escolas darem prioridade à identificação das competências-padrão necessárias para os alunos serem capazes de processar a informação em qualquer contexto.

A proposta comporta uma autêntica ruptura na mudança de mentalidades em toda a comunidade escolar, que teria de ser capaz de sacudir a pressão e não ter medo de enfrentar conclusões adversas. A avaliação minuciosa dos conhecimentos dos alunos nos vários domínios, analisar a evolução dos seus resultados ao longo do ano e, sobretudo, ensiná-los no que está mal aprendido requer tempo. E é por isso que não se entende a proposta agora feita pelo Conselho das Escolas ao Ministério da Educação de fazer uma pausa no meio do primeiro período de aulas. Quando toda a gente se queixa, inclusivamente os professores, de falta de tempo para dar as matérias e quando já existem tantas férias escolares, esta é uma ideia ao arrepio de todas as exigências. E que não abona nada a favor da imagem das escolas. 

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