Costa entre a renovação geracional e a unidade interna

A direcção socialista não quer repetir nomes em cargos públicos e tenderá a abrir-se a independentes. Mas não se conte com "limpezas": seguristas e socráticos estarão nas listas.

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António Costa diz que vai avaliar consequências "exactas" do OE nas finanças da câmara Foto: Nuno Ferreira Santos

O assunto já é tema de “conversas” no PS. Foi assim que um dirigente socialista resumiu o actual estado da elaboração das listas a candidatos à Assembleia da República no principal partido da oposição. Afinal, as “eleições ainda não estão marcadas”, acrescenta o mesmo socialista, mas considerando que o PS “tem de fugir a Agosto”. Os candidatos a deputados só serão definitivamente escolhidos em finais de Julho. O líder já deu sinais disso mesmo ao definir um calendário. Sem, contudo, definir os critérios para a escolha.

Apesar de o secretário-geral não ter ainda sinalizado os ingredientes com que pretende cozinhar as listas, para actuais e antigos dirigentes do PS há factores que se conseguem antecipar. Mas um critério é dado como adquirido: “renovação geracional”. “Isso vai haver”, reconheceu um elemento do secretariado nacional ao PÚBLICO.

Esta é uma necessidade reconhecida no interior do próprio partido. “Acho que [António Costa] devia promover esse arejamento”, concorda um líder distrital do PS. Este mesmo dirigente frisa, no entanto, que esse esforço não tem de implicar limpeza, antes apostando no “protagonismo” de outros nomes em termos de posicionamento nas listas.

Existem pistas que sugerem a apetência de Costa por essa opção, como o “exemplo [que] foram as eleições para a câmara de Lisboa”. Onde a “lista e o gabinete” do então presidente da câmara já reflectia essa preocupação, além dos “presidentes de junta entre os 30 e os 40 anos” que substituíram titulares acima dos 60 anos.

A juntar a isto, há a questão dos independentes. António Costa quer dar espaço a não militantes para sinalizar a abertura do partido à sociedade civil. Que resultará até na apresentação de algumas destas figuras como cabeças de lista. 

Esta tarefa de António Costa pode ser facilitada por actuais deputados. É que há quem esteja a olhar para o fim da legislatura como o momento adequado para sair. Nos corredores parlamentares fala-se, por exemplo, de José Lello. Depois, há ainda figuras que se afastaram com a liderança de Seguro e que não estão disponíveis para regressar, como o ex-ministro da Defesa, Augusto Santos Silva.

Existe ainda outro critério a ter em conta. A actual direcção socialista não quer repetir nomes em diferentes cargos públicos. Nomeadamente, possíveis candidatos às próximas autárquicas, que se realizam daqui a dois anos. Por exemplo, o actual deputado e vereador na Figueira da Foz, João Portugal.

Mas esse critério terá de ser temperado. “De acordo com o que tem sido o timbre de António Costa, as listas serão o mais consensuais e unificadoras possível”, assevera um ex-dirigente nacional ao PÚBLICO. Ao contrário do que Seguro e alguns dos seus tenentes assumiam quando estavam na liderança, Costa não quer fazer limpezas. “O sectarismo criaria ruído”, justifica o mesmo socialista. Haverá, portanto, um esforço para incluir tanto elementos seguristas como actores políticos que já estiveram com José Sócrates.

Um exemplo disso é o que se passa na distrital do Porto, que após as últimas eleições internas ficou partida ao meio entre apoiantes de Costa e de Seguro.

Uma mulher no Porto?
No PS-Porto existe uma enorme expectativa em relação às listas de deputados e muitos esperam que haja, de facto, uma grande renovação. Uma parte dessa renovação será geracional, segundo prognosticam fontes socialistas. Por si só, as saídas de Manuel Seabra, Manuel Pizarro, Augusto Santos Silva e Francisco Assis da lista de deputados de 2011 permitem algum refrescamento.

No Porto, onde o processo de escolha dos candidatos é sempre demasiado conturbado, há quem defenda que a lista seja encabeçada por uma mulher e se isso acontecer muda toda a dinâmica da lista. A questão é saber quem tem perfil para encabeçar a candidatura socialista se esta opção vingar, como defendem apoiantes do secretário-geral.

Há quatro anos, a primeira mulher a surgir na lista foi Isabel Santos, uma deputada próxima de José Sócrates, que terá o seu lugar garantido nas listas. A segunda foi a ex-secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que entrou pela quota do então secretário-geral. No entanto, nenhum destes parece ser suficientemente forte para reunir o consenso para encabeçar a candidatura no segundo círculo eleitoral do país.

Nas últimas legislativas, a lista do Porto foi liderada por Alberto Martins, que apoiou António José Seguro na disputa interna, mas poucos acreditam que o actual deputado ocupe um lugar de destaque na lista. E há quem arrisque dizer que o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares vai ficar fora das listas num claro sinal de renovação da nova direcção do partido.

No Porto, uma parte dos candidatos a deputados será indicada pelo líder da federação, José Luís Carneiro, que esteve ao lado de Seguro nas eleições primárias, e também por Manuel Pizarro/Renato Sampaio, afectos a António Costa. Os critérios de entrada na lista, terão sido, de resto, definidos há mais de um mês num encontro que juntou Carneiro, Pizarro e Sampaio. Mas nesta contabilidade entra também a quota do secretário-geral, que tem direito a indicar um terço dos nomes eleitos nas legislativas de 2011.

Ao que o PÚBLICO apurou, no acordo que ficou estabelecido, José Luís Carneiro ficou de indicar os homens e Pizarro/Sampaio as mulheres. Segundo vários socialistas ouvidos pelo PÚBLICO, José Luís Carneiro, não terá uma tarefa fácil, uma vez que terá prometido lugares a muita gente na altura em que Seguro e Costa disputaram a liderança do partido.

Para além de Carneiro, Ricardo Bexiga ocupará um lugar elegível na lista pela quota da distrital. Mas não só. António Leite, ex-responsável da então Direcção Regional de Educação do Norte, Carla Miranda, actual vereadora da Câmara do Porto, João Paulo Correia, deputado, e Armindo Abreu, ex-presidente da Câmara de Amarante, são dados como garantidos na lista pela quota da federação.

Há uma grande especulação em relação à entrada de Joana Lima nas listas, mas ninguém arrisca. Primeiro, porque a ex-presidente da Câmara da Trofa perdeu, em 2013, a presidência da autarquia para Sérgio Humberto do PSD, depois, porque está a ser julgada por abuso de poder. O líder da Juventude Socialista, João Torres, também vai entrar pelo Porto.

Fontes socialistas garantem que as deputadas Isabel Santos e Luísa Salgueiros estão seguras nas listas, bem como Renato Sampaio, Tiago Barbosa Ribeiro, presidente da concelhia socialista, e Cristina Vieira, líder da concelhia do PS do Marco de Canaveses. Alguns deputados eleitos pelo Porto - André Figueiredo, Miranda Calha, Celeste Correia - e que foram indicados pela quota do então secretário-geral socialista devem ficar fora da lista. A entrada da deputada Glória Araújo, detida numa operação stop em Janeiro de 2013 por condução com excesso de álcool no sangue, é, para já, uma incógnita.

Nos últimos dias, o nome do empresário e ex-presidente da Associação Empresarial do Porto (AEP), José António Barros, terá sido falado para integrar a lista de deputados, mas fontes socialistas garantem que o partido tem outras prioridades. José António Barros, actual vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal, foi um dos convidados para intervir na convenção nacional do PS, no Coliseu dos Recreios.

Fonte socialista advertia, em declarações ao PÚBLICO, para a necessidade de a lista de deputados do Porto obedecer a “um equilíbrio que deve ter em conta o resultado das primárias, de forma a envolver todas as estruturas do partido”. É que o equilíbrio da lista vai garantir a sua aprovação pela distrital. A lista deve demonstrar uma representatividade territorial pelo que se espera que o concelho do Porto não tenha uma grande visibilidade nas listas.

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