Deputado do PS diz que é “vergonha vender a TAP por metade de Jorge Jesus”

PS, PCP e BE atacam Governo pela privatização da companhia e deixam maioria isolada.

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Sérgio Monteiro foi o rosto do Governo no debate Daniel Rocha

Um insulto, uma operação opaca, uma tragédia, um dia de luto, uma venda por trocos. Não faltaram os ataques das bancadas do PS, PCP e BE à privatização da TAP, num debate parlamentar agendado pelos bloquistas. Mas foi da boca de um deputado do PS, Rui Paulo Figueiredo, que veio a comparação com a transferência futebolística do momento: “É uma vergonha vender a TAP por metade de Jorge Jesus.”

O deputado tinha sido desafiado pelo secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, a assumir que posição o PS vai tomar sobre a operação de privatização da TAP, caso seja Governo. “Não hesitaremos em utilizar a cláusula que o Governo aprovou”, respondeu Rui Paulo Figueiredo, numa alusão à possibilidade de reverter o processo de alienação do capital.

A principal crítica do PS — a que também se juntou BE e PCP — é apontada à forma do processo. “Os senhores têm bloqueado o acesso a toda a documentação, o que é que estão a esconder?”, questionou o socialista. Os valores envolvidos no negócio foram outra arma de arremesso. Para José Luís Ferreira, d'Os Verdes, o dia em que foi anunciado o vencedor foi “um dia de luto”. Sérgio Monteiro foi acusado de trocar a TAP “por uns trocos”. “É preciso ser um grande artista, ter uma grande coragem como a do senhor secretário de estado”, atirou o deputado ecologista.

Só com as secretárias de Estado do Tesouro e dos Assuntos Parlamentares a seu lado, Sergio Monteiro ainda ouviu críticas ao vencedor do concurso, David Neelman. “É especializado em retalhar companhias, muitos parabéns senhor secretário de Estado”, apontou Bruno Dias do PCP, contrariando ainda outro argumento do Governo para privatizar a companhia: “É ou não verdade que a dívida está a baixar?”. Na mesma linha, Mariana Mortágua sublinhou que “a TAP paga a sua dívida com os seus cahs-flows” e que “não é paga com dinheiro dos contribuintes”.

Logo na intervenção inicial, a bloquista indignou-se com os valores envolvidos e com o argumentário do Executivo. “Querem saber o que é um mito urbano? O que nos diz o Governo sobre a TAP. Em boa verdade não houve qualquer venda, mas uma oferta por um valor simbólico. 10 milhões pela TAP é um insulto”, afirmou.

Para o PSD estas contas não são sérias. “Desonesto é dizer que se vendeu por 10 milhões quando 61% foi feito por 354 milhões de euros, a que acresce um investimento em aeronaves”, respondeu o social-democrata Nuno Matias, que classificou  operação de privatização como um “sucesso”.

A privatização da companhia como a única solução foi defendida pelo CDS. “A solução do Governo contribui para salvar a TAP, as rotas, os postos de trabalho”, sustentou o líder da bancada Nuno Magalhães, lembrando as dificuldades que pairam na companhia, designadamente "mil milhões de euros de dívida, 500 milhões de capital negativo e necessidade urgente de renovação da frota”.

A defesa da operação foi ainda sustentada pelo secretário de Estado que interveio logo no início do debate. Contrariou a pressa, alegando que “desde o início do mandato do Governo houve a necessidade de encontrar capital”. E acusou os partidos da oposição de ziguezaguearem entre o desconhecimento do caderno de encargos e o vazio do documento.

Sérgio Monteiro garantiu ainda que “a preservação do hub em Portugal está a assegurado por 30 anos, e que não há notícia de hub de um lado e de sede noutro”. Mas já não respondeu à segunda ronda de perguntas (incluindo uma de os Verdes sobre as rotas para as ilhas), deixando mais de um minuto do debate por utilizar. 

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