A regra do céu

O excepcional passou a ser normal. Entretanto, corre-se o risco de perder o significado da palavra.

É sempre uma alegria abrir uma excepção. É como abrir uma garrafa de Champagne. Não há nada menos justo ou democrático. Mas sabe sempre bem ouvir que normalmente não é permitido uma coisa qualquer, mas que, no nosso caso, vão abrir uma excepção.

O pior são as falsas excepções. Estamos rodeados por elas. A menos convincente é aquela que diz que somos o milionésimo visitante de um site aonde nunca fomos e que podemos ter ganho um iPhone.

Na publicidade vemos anúncios de objectos caríssimos que são rigorosamente para pessoas excepcionais, que não pertencem à manada. Há umas décadas, era mais honesta e seguia a fórmula "se queres saber o preço, é porque não tens dinheiro para comprar isto".

Hoje até as coisas mais baratas são de qualidade excepcional a preços excepcionais. Semana após semana aparecem nos mesmos panfletos sempre tão excepcionais que se começa a desconfiar que deixaram de existir coisas normais, habituais ou regulares.

O excepcional passou a ser normal. Entretanto, corre-se o risco de perder o significado da palavra. Para haver uma excepção tem de haver uma regra. Toda a gente pensa que percebe o que quer dizer "a excepção prova a regra". Pensam, absurdamente, que a excepção prova que a regra é verdadeira. Na verdade significa que a excepção põe à prova a regra, podendo provar que é falsa ou verdadeira.

O tempo tem estado excepcional. Ontem às duas da tarde estavam 30 graus e choveram 20 gotas de água quente de um céu azul.

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