DGPC compra papeleira do século XVIII por 20 mil euros

Exemplar raro do mobiliário português está assinado pelo mestre marceneiro que o fez e vai agora para a colecção do museu de Arte Antiga.

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Pormenor da inscrição com o nome do autor e o ano de execução Cortesia: Cabral Moncada Leilões
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É a segunda compra que a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) faz para o Museu Nacional de Arte Antiga em menos de três meses. Depois de em meados de Março ter adquirido em leilão, e por 30 mil euros, um tríptico a óleo sobre madeira atribuído ao Mestre de Santa Clara – uma pintura do século XV representando a Virgem ladeada por dois anjos –, a DGPC arrematou agora uma papeleira do século XVIII para a mesma exposição permanente.

Este exemplar do mobiliário neoclássico português foi levado à praça pela Cabral Moncada na segunda-feira e custou ao Estado 20 mil euros (valor da base de licitação). Na nota em que dá conta da aquisição, a direcção-geral garante que se trata de uma peça rara que vem “colmatar uma lacuna importante” na exposição de Arte Antiga. Conceição Borges de Sousa, conservadora de mobiliário do museu, explica porquê: “Conheço apenas quatro papeleiras deste marceneiro e nós não tínhamos nenhuma. É uma peça interessantíssima do ponto de vista estético e de grande qualidade de execução. Mas o que a torna muito rara é o facto de estar assinada – na sua maioria, e apesar da lei os obrigar a isso, os marceneiros portugueses, e não só, não assinavam os móveis que faziam.”

A papeleira agora comprada não só está assinada, como está datada. Baixada a batente, o interior guarda uma série de pequenas gavetas decoradas com flores e escondidas por imitações de lombadas de livros. É numa delas que está inscrito a ouro o nome do marceneiro que a executou – Domingos Tenuta – e o ano em que o fez – 1790 ( a inscrição em português da época é “Domingos Tenuta fes em Lisboa esta obra no anno de 1790”).

A conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) acrescentou ao PÚBLICO que Tenuta começou por recorrer apenas a motivos geométricos na decoração deste tipo de móvel, mas que, gradualmente, foi misturando outros florais. “Aqui temos esta combinação na técnica decorativa. As flores coincidem com o fim do reinado de D. Maria I.”

Conceição Borges de Sousa lembra que o Museu Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro tem uma peça semelhante, do mesmo autor, que chegou a trabalhar no Brasil. Promete agora estudá-las em profundidade, contando com a colaboração dos colegas brasileiros, para analisar em detalhe os materiais e técnicas de construção usados por Domingos Tenuta.

Para esta conservadora, a aquisição desta papeleira de inspiração francesa é uma “óptima notícia”, sobretudo quando se leva em conta a falta de investimento público no acervo: “Temos recebido doações interessantes, mas é só. Há já décadas que não se compra nada para a colecção de mobiliário português do museu.”

Na colecção do MNAA havia até aqui apenas um exemplar de mobiliário assinado: uma xiloteca (arquivo em que se guardam amostras de vários tipos de madeira) feita por José Aniceto Rapozo (1756-1824), tido como o mestre dos marceneiros portugueses, que é também o autor de um móvel com o mesmo propósito executado como mostruário dos recursos florestais do Brasil e hoje no Museu da Academia das Ciências de Lisboa.

A papeleira de Tenuta que agora pertence ao MNAA esteve no Museu nacional Soares dos Reis em 1969, na Exposição de Ambientes Portugueses dos séculos XVI a XIX.

 

 

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