Sócrates volta a ser interrogado após defesa ter provas de movimentos bancários

Advogados aguardam receber cópias de documentos que pediram ao procurador e Sócrates deverá voltar a Lisboa na próxima semana. Defesa diz-se muito satisfeita com interrogatório que abordou dados relativos às contas na Suíça.

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Sócrates reúne-se hoje ao almoço com militantes socialistas MAXIM MARMUR/AFP

O ex-primeiro-ministro José Sócrates voltará a ser interrogado em Lisboa pelo Ministério Público (MP) na próxima semana quando a sua defesa tiver acesso à cópia de documentos que requereu ao procurador, nomeadamente de natureza bancária, confirmou ao PÚBLICO, um dos seus advogados, João Araújo. “O interrogatório [desta quarta-feira] foi suspenso e continuará na próxima semana quando tivermos as cópias”, disse. Não existe, contudo, uma dia agendado para o interrogatório.

Sócrates é actualmente o único arguido que continua na cadeia. Está em prisão preventiva há mais de seis meses e o interrogatório ocorre numa altura em que a lei impõe que a medida de coacção seja revista. Tal deverá ocorrer na próxima semana, sendo que o juiz Carlos Alexandre tem até dia 9 do próximo mês para decidir se Sócrates continua ou não na cadeia. Antes disso, o procurador Rosário Teixeira, titular do processo, tomará uma posição.

Foi o próprio MP quem quis chamar Sócrates para interrogatório. Desde Dezembro, contudo, que a defesa pedia que Sócrates fosse novamente ouvido “para esclarecer as imputações que lhe são feitas”. Fê-lo em vários requerimentos, nomeadamente num em que pediu a nulidade de todos os actos praticados no inquérito a partir de 31 de Maio. Há três meses, porém, no último reexame da medida de coacção, tal não aconteceu.

No interrogatório desta quarta-feira, o magistrado terá confrontado Sócrates com dados relativos a contas bancárias na Suíça. João Araújo admitiu, aliás, esta quinta-feira à saída da cadeia de Évora onde está preso o ex-governante, que o assunto foi abordado e que surgiram “um ou dois novos factos” com os quais está “muito satisfeito”. Fez questão, porém, de afastar a importância eventualmente incriminatória dos dados bancários. Em “relação às contas na Suíça, julgo que o assunto está mais do que esclarecido. Há para lá umas contas na Suíça, há para lá umas pessoas que têm contas na Suíça. O engenheiro José Sócrates – o que se demonstra com as contas na Suíça – é que não tem nada a ver com as contas na Suíça”, disse citado pela Lusa.

Por outro lado, o advogado garantiu que durante a inquirição não se falou sobre o Grupo Lena e a sua relação com Sócrates. O administrador do grupo, Joaquim Barroca Rodrigues, é arguido no processo e suspeito de ser um dos principais corruptores do ex-governante.

Sócrates, indiciado por fraude fiscal qualificada, corrupção e braqueamento de capitais, foi interrogado durante mais de quatro horas e regresso ao final da tarde à cadeia de Évora.

João Araújo defende que Sócrates deveria ser libertado o mais cedo possível, considerando que “não é natural” a prisão preventiva. Os restantes arguidos, a quem foi inicialmente decretada a mesma medida, já regressaram a casa. 

O empresário Carlos Santos Silva, amigo do ex-primeiro-ministro, voltou ao final da tarde de terça-feira a casa, em Lisboa, onde ficará vigiado com pulseira electrónica. O empresário esteve seis meses em prisão preventiva até que o juiz despachou favoravelmente a atenuação da medida de coacção. Carlos Santos Silva será o “testa-de-ferro” de Sócrates relativamente à titularidade das contas bancárias na Suíça, segundo a tese do MP.

O ex-motorista de Sócrates João Perna, que esteve inicialmente na cadeia, foi libertado em Fevereiro. Igualmente o administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca Rodrigues deixou no mês passado o Hospital-Prisão de Caxias e aguardará o inquérito em prisão domiciliária.

Entre os restantes arguidos estão o advogado Gonçalo Ferreira, o administrador da Octapharma Paulo Lalanda Castro e António Morais, ex-professor de Sócrates.

A defesa de Sócrates já foi notificada para alegar no Tribunal Constitucional face ao recurso que entregou a contestar a decisão da Relação de Lisboa que, em Março passado, confirmou a prisão preventiva de Sócrates.

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