José: mudar de vida, da engenharia para a fotografia

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Nuno Ferreira Santos

José de Oliveira formou-se em Engenharia Eletrotécnica em 1979. Depois de se licenciar pelo Instituto Superior Técnico começou a construir uma carreira em multinacionais ligadas à informação. Casou e teve dois filhos. Tinha um bom ordenado, um carro da empresa, seguro de saúde, estabilidade e uma série de benefícios conquistados em 20 anos de trabalho. Pelo meio, havia uma paixão por fotografia. No início do segundo milénio, decidiu entregar-se a um desafio pessoal: trabalhar em fotografia. Resolveu por isso voltar a estudar, mas desta vez afastou-se das ciências exactas e entrou no mundo da História de Arte. A paixão pelas ciências sociais foi maior do que esperava e uma década depois de entrar no mestrado continua a investigar, agora já na conclusão do seu doutoramento.

António Variações cantava “Muda de vida/Se tu não vives satisfeito/ Muda de vida,/estás sempre a tempo de mudar”. Para José, a música não poderia fazer mais sentido. Se ainda continuasse na multinacional, José admite que provavelmente o gosto não estaria lá e que mais cedo ou mais tarde isso se iria reflectir na sua carreira profissional e pessoal. Entre 1980 e 2002, José trabalhou como técnico de manutenção, em suporte de vendas, marketing, gestão de produto e gestão de vendas. Mas já no final dos anos 90 frequentou um curso profissional de fotografia, antecipando aquela que viria a ser a sua nova ocupação.

“Foi tudo novo para mim. Foi uma reaprendizagem”, conta José de Oliveira. Enquanto engenheiro, José de Oliveira estava habituado a uma formação contínua, mas “muito mais pragmática, onde um mais um é igual a dois e não sai dali”. Foi, no entanto, justamente essa dissemelhança que o fascinou. “Abriu-me os horizontes a coisas completamente diferentes, não só estritamente sobre História de Arte, mas sobre a vida de uma maneira geral. E isso foi também importante como formação pessoal”.

Nos critérios de selecção para integrar a turma de mestrado, José de Oliveira teve apresentar uma nota de licenciatura superior a 14 valores, escrever um trabalho sobre um livro e passar numa entrevista com dois professores do departamento. Para se preparar, José dedicou meses de trabalho e de exaustiva leitura “para perceber os contextos e fazer uma prova minimamente aceitável”.

Quando integrou o mestrado, já tinha começado a dar aulas de Fotografia Digital no IADE. Concluiu o mestrado em História da Arte em 2009, com o apoio de uma bolsa pelo Centro Português de Fotografia. Paralelamente ao mestrado, continuou a investir em formações complementares em fotografia, design gráfico e ferramentas de edição de imagem.

O professor de Fotografia afirma ter sido “um salto no escuro”, mas acredita que a vontade de fazer o que se gosta dá “alento para fazermos as coisas bem e o resto vem por acrescento”. Se a vida propõe uma escolha entre o que pode dar algum conforto financeiro ou fazer o que gosta, responde: “A prioridade deve ser aquilo que gostamos de fazer”. “Se somos bons naquilo que fazemos o mercado acolhe-nos de maneira diferente e portanto o retorno financeiro virá a seguir. Não sei se é algum romantismo à volta desta opinião, mas tenho pautado a minha vida nos últimos anos por isso”, acrescenta.

Apesar da mudança de área, não esqueceu Engenharia. A tese de doutoramento em que está a trabalhar debruça-se sobre “A tecnologia e arte na 2.ª metade do século XX”.

“É uma navegação um bocado complicada.” Com 60 anos, José sorri e diz que já devia estar a pensar na reforma, mas a verdade é que nem sabe bem o que será o futuro no próximo ano, quando terminar o doutoramento. “Esta incerteza vem com o pacote”, justifica entre um encolher de ombros. Idealmente espera estar a dar aulas. “[O importante] é não ter medo de experimentar e investirmos em nós próprios e mantermos um constante espírito crítico”, diz. Vê, no entanto, o espírito crítico em desuso, “talvez pelo bombardeamento de informação e pelo andar ao sabor das coisas”.

Reconhece que a incerteza surge numa actualidade onde é difícil falar a longo prazo. “Até mesmo a médio prazo. As decisões têm de ser bem equacionadas, mas depois de as tomarmos temos de lutar. É como se nos mandassem ao mar e tivéssemos de nadar com todas as nossas forças.” E, para isso, segue os conselhos dá aos seus alunos. “Há cada vez mais coisas a acontecer. Temos de ir procurando. Ninguém nos vem buscar o trabalho dentro da gaveta”.

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