Grécia poderá ter extensão de empréstimo até ao Outono

Na ausência de um acordo completo, o incumprimento poderá ser evitado com a entrega de parte das verbas do empréstimo.

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Aproxima-se a data em que a Grécia deverá ficar sem verbas para pagar aos credores. Solução poderá ser uma espécie de acordo intermédio LOUISA GOULIAMAKI/AFP

A última versão de um "plano B" para a Grécia na falta de um acordo até à data-limite de 5 de Junho é a de que Atenas poderá obter uma extensão do programa de resgate até ao Outono. Isto permitirá que possa receber uma parte do empréstimo e assim evitar entrar em incumprimento.

Esta proposta seria discutida no âmbito da cimeira de líderes europeus em Riga, ou à margem da reunião, que deverá centrar-se no conflito na Ucrânia.

Jornalistas procuravam pistas que confirmassem esta hipótese. Rumores indicavam que a chanceler alemã, Angela Merkel, se sentaria ao lado do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, no jantar que se segue à cimeira; depois fontes diziam que afinal tinha havido uma troca de lugares. Bruxelas não confirmou – mas também não negou – este “plano B”, noticiado pelo diário alemão Süddeutsche Zeitung e depois também pelo diário britânico The Guardian. “Estamos a trabalhar para concluir a revisão existente o mais rapidamente possível”, foi a reacção da Comissão Europeia.

Esse plano daria a Atenas quase 4 mil milhões de euros (a última tranche que tem para receber a troco das reformas é de 7 mil milhões) em troca da reforma do sistema fiscal, deixando para mais tarde a negociação sobre o mercado de trabalho (facilitando despedimentos no sector privado) ou a Segurança Social (o Governo de Tsipras recusa-se a cortar mais uma vez as pensões, que já foram alvo de cinco cortes nos últimos anos). Com a extensão (de novo) do programa, a Grécia poderia continuar a receber empréstimos. Caso não houvesse entretanto um acordo para a entrega da última tranche, e o programa terminasse em Junho como previsto, Atenas não poderia receber esta verba.  

O grande argumento a favor deste plano é que daria tempo ao Governo grego para levar a cabo eleições ou um referendo e poderia assim avançar para reformas que de outro modo seriam difíceis ou impossíveis. O Guardian antecipa, no entanto, que estes 4 mil milhões não serão suficientes para as necessidades de financiamento da Grécia  – só ao Banco Central Europeu Atenas terá de pagar 6,2 mil milhões de euros entre Julho e Agosto

Antes, um porta-voz do executivo de Atenas argumentava que a Grécia já fez várias cedências (por exemplo, nas privatizações) e que era agora a vez de os credores cederem também um pouco.

Analistas lembram que há menos de seis meses o Governo anterior, de Antonis Samaras, não chegou a levar as reformas das pensões e do trabalho ao Parlamento, provocando as eleições antecipadas presidenciais e legislativas. Não o fez, porque saberia que seria muito difícil ou impossível a sua aprovação.

Quando os líderes europeus se preparavam para seguir para Riga, replicavam-se os soundbites dos ministros das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, e da Alemanha, Wolfgang Schäuble. Varoufakis disse que, se for possível, a Grécia pagará a 5 de Junho a prestação ao FMI, as obrigações a outros credores, e as pensões e salários dos gregos. “Se não, teremos de dar prioridade aos reformados e funcionários públicos.”

Ao jornal Die Zeit Varoufakis disse, em relação a Schäuble: “É frustrante não podermos falar um com o outro num contexto em que os argumentos contem mais do que o poder relativo.”

Schäuble veio, pelo seu lado, dizer que não tem a certeza de que a Grécia consiga evitar a insolvência, quando lhe perguntaram se repetiria a garantia que deu em 2012 em relação à situação financeira do país. “Teria de pensar mesmo muito bem antes de repetir isso na actual situação”, disse aos jornais financeiros Wall Street Journal e Les Echos. “Não posso excluir nada.”

Mais tarde disse à Reuters que “o optimismo vindo de Atenas” não tinha base: “Não há qualquer substância para apoiar a ideia de que estejamos mais perto de um acordo.”

Já houve vários avisos em relação à capacidade de a Grécia pagar prestações de empréstimos aos credores e salários públicos. Até agora o país tem sempre conseguido pagar, mas recorrendo a medidas extremas – a última foi usar um fundo de emergência do FMI para pagar uma prestação de 750 milhões de euros ao próprio FMI.

Enquanto a nível interno na Grécia se relatam cada vez mais conversas sobre a possibilidade de uma saída do euro, da Alemanha as notícias eram as de que Merkel se preparava para um discurso em que explica aos alemães porque é que é necessário um acordo com a Grécia.

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