Empresas querem reforma que leve o Estado a pagar a horas

Mercado de trabalho sem grande destaque em inquérito feito pelo FMI.

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Incentivos ao investimento destacam-se pela positiva Miguel Manso

Pagamentos fora do prazo por parte da administração central e regional, bem como por parte das empresas detidas pelo Estado. Estes são os principais problemas da economia portuguesa e que as empresas gostariam de ver resolvidos, de acordo com um inquérito elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao todo, foram questionadas 500 empresas, das quais 300 são PME (mas com o estatuto de Líder, ou seja, com boas condições financeiras), mas apenas 17,4% responderam. Estas foram confrontadas com dois tipos de questionários: um sobre o impacto das reformas, e outro sobre a necessidade de mais reformas, e onde deviam ocorrer.

Neste segundo grupo de respostas o Estado sai mal na fotografia, com os privados a pedirem mudanças nos atrasos de pagamentos devidos pelas câmaras, administração central e empresas públicas (que são as que surgem mais destacadas pela negativa), bem como melhorias no seu funcionamento.

Outros dois pontos onde os privados pedem alterações são a importância de haver maior eficácia na resolução de problemas fora dos tribunais, e a cedência de créditos por parte dos bancos. Junte-se esta última à questão dos pagamentos por parte do Estado, e percebe-se que a grande preocupação prende-se com questões de liquidez e financiamento.

Na conferência de imprensa feita por telefone esta tarde, o chefe de missão do FMI, Subir Lall,  afirmou que o problema dos atrasos nos pagamentos por parte do Estado era "era algo que não estava muito alto" na lista de prioridades, e que, por isso mesmo, "foi importante" contar com estas respostas.

Impostos ganham ao trabalho
Já sobre o impacto das reformas estruturais implementadas no âmbito do programa assinado pelo Governo e pela troika de credores, as empresas inquiridas destacam que a mais relevante foi a descida do custo dos impostos (o IRC desceu), que ficou acima de outras, como o menor encargo com os despedimentos.

Na parte do trabalho, o destaque vai para a maior flexibilidade nos horários de trabalho (que fica em segundo lugar, após os impostos), enquanto o aumento das horas de trabalho (houve a redução dos feriados e fim dos dias de férias por assiduidade) fica abaixo das alterações nos incentivos ao investimento.

Por outro lado, temas a que tanto a troika como o Governo têm dado grande importância, como o dos custos da energia, surgem num plano secundário. 

No documento divulgado esta segunda-feira, o FMI defende que haverá várias questões que podem afectar a forma como as empresas avaliam o que foi feito. Uma delas é o facto de haver reformas que precisam de mais tempo até que o seu impacto seja reconhecido. Na análise que esta organização faz ao inquérito, afirma-se que “as empresas podem ter dificuldades em distinguir os efeitos da crise económica do impacto das reformas”.

Outro aspecto a ter em conta, diz o FMI, é a possibilidade de as empresas não serem capazes de percepcionar os resultados das reformas, mas, mesmo assim, terem “fortes opiniões” sobre as mesmas, além de poderem “culpar as adversidades com que se defrontam" com  a "falta de progresso nas reformas”, quando o problema poderá estar em “factores internos”, como “a falta de aptidões ao nível da gestão”.

Do ponto de vista do FMI, o facto de as empresas darem pouco destaque às reformas de produto (como a da energia) explica-se ainda pela “falta de profundidade” dessas mesmas reformas. 

Para Subir Lall, que afirmou ter ficado sobre positivamente surpreendido com as respostas, destacou que "as empresas não parecem muito preocupadas com entraves no mercado de trabalho ou de produtos e isso deixa-nos satisfeitos". No entanto, disse, as empresas "estão a ver a realidade do seu ponto de vista. Do ponto de vista macroeconómico, com o desemprego como está, vemos essas reformas como muito importantes". Com Sérgio Aníbal

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