O xadrez dos protagonistas da privatização

Há seis rostos e entidades que se têm destacado na segunda tentativa de venda da TAP: António Costa, Pires de Lima, o sindicato dos pilotos, Fernando Pinto, António-Pedro Vasconcelos e a M&E Brasil.

António Costa
O secretário-geral do PS tem sido uma verdadeira pedra no caminho do Governo, pelo facto de já ter garantido que tudo fará para reverter a venda da TAP quando chegar ao poder. Ainda esta quinta-feira, António Costa veio dizer que esta venda só está a ser concretizada por “teimosia” e “puro radicalismo ideológico”. A posição do ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa teve fortes implicações no processo, causando receios aos investidores, já que o caderno de encargos prevê que a privatização possa ser suspensa até à efectiva transferência das acções.


Sindicato dos pilotos
A greve de dez dias convocada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil causou um rombo de 35 milhões de euros nas contas da TAP e, acima de tudo, teve consequências na forma como os potenciais candidatos avaliam os riscos de concorrerem à privatização da companhia. A instabilidade laboral que a empresa vive é vista como uma dificuldade acrescida.

 

António Pires de Lima
O ministro da Economia sempre soube que estava a assumir um risco quando tomou a decisão de relançar a privatização da transportadora aérea portuguesa num momento demasiado próximo das eleições legislativas marcadas para este ano. Entre os ataques da oposição, a derrapagem nas contas da TAP e os protestos dos pilotos, Pires de Lima foi fazendo a defesa da opção do Governo, sobretudo pelo lado da ameaça que representaria a via da capitalização pública. Mas só o tempo dirá se a decisão terá sido a mais sensata e oportuna.


António-Pedro Vasconcelos
O movimento Não TAP os Olhos, promovido pelo cineasta, foi conquistando palco nos últimos meses fruto da acesa contestação à venda da companhia. Um dos pontos mais altos foi a interposição de uma acção e de uma providência cautelar para suspender o caderno de encargos que serve de base à privatização. O Supremo Tribunal Administrativo aceitou julgar o processo, mas ontem o Governo apresentou as suas alegações aos juízes, invocando o interesse público para prosseguir com o negócio. A decisão será conhecida em breve.


Fernando Pinto
Chegou à TAP no ano 2000 com a missão de a vender a privados e ainda não há garantias de que cumpra o objectivo este ano. O gestor brasileiro deu um impulso sem precedentes à companhia, mas também tomou decisões pelas quais a empresa continua a pagar caro, como a compra da M&E Brasil. No ano passado, os sucessivos protestos dos trabalhadores, a queda nas tarifas e as fragilidades no planeamento obrigaram-no a assumir prejuízos superiores a 85 milhões de euros.


M&E Brasil
A empresa de manutenção que a TAP comprou no Brasil em 2005 foi sempre um dos grandes bloqueios desta privatização, não só por ser deficitária, mas sobretudo pelos passivos e contingências que herdou da sua antiga dona, a Varig. O negócio, do qual a Geocapital (de Stanley Ho e Ferro Ribeiro) saiu rapidamente, também abriu feridas de outro tipo, dando lugar a investigações que já levaram Fernando Pinto à Polícia Judiciária por duas vezes.

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