Governo vê retoma “sustentável”, oposição diz que crescimento ficou abaixo das previsões

Partidos reagem aos números do PIB no primeiro trimestre. O CDS-PP “fica contente”, o PSD não entra “em euforias”, o PS diz que o Governo foi “enganado”, o PCP considera o crescimento “insuficiente” e o BE vê uma economia ainda “destruída”.

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O PIB português cresceu de Janeiro a Março 0,4% face aos três meses anteriores e 1,4% em termos homólogos Daniel Rocha

O Governo e os partidos da maioria vieram nesta quarta-feira saudar os números do PIB divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para o primeiro trimestre, considerando que o crescimento económico homólogo de 1,4% e de 0,4% face ao último trimestre do ano passado mostra uma retoma robusta e que dá sentido aos “sacrifícios” dos últimos anos. A oposição contrapõe que o ritmo de progressão é conservador — mais baixo do que o projectado — e considera que a actividade económica não traduz a realidade da vida das pessoas.

O ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, vê nos números do INE a confirmação de que o crescimento tem uma natureza “sustentável” e que assenta “num tecido económico mais inovador, mais jovem, com base nos bens e serviços transaccionáveis, menos dependente das rendas do Estado e com maior capacidade de exportação”.

Para Poiares Maduro, esta é uma “muito boa notícia” que “dá sentido aos sacrifícios que os portugueses fizeram ao longo destes anos e confirma também que o crescimento económico que estamos a ter é de natureza diferente do passado, é mais sustentável”.

O PSD e CDS-PP aplaudiram o ritmo de crescimento e apontaram críticas ao PS. O líder parlamentar do PSD defendeu que o discurso do PS colide com a realidade. “Com estes dados, a conclusão é relativamente simples de tirar. Há um discurso político coerente com a realidade, que é o discurso da maioria e do Governo, e há um discurso político que tem hoje uma grande confrontação com a realidade, que é um bocadinho a antítese da realidade, que é o discurso político da oposição”, disse Luís Montenegro. E questionou: “O que dirá o PS que todos os dias tem apregoado, através do seu secretário-geral, que é preciso inverter o caminho, inverter tudo aquilo que tem sido a política do Governo, quando confrontado com uma realidade que vem desmentir aquilo que era o seu prognóstico”.

Apesar de dizer que não entra “em euforias”, Montenegro disse que os sociais-democratas estão “muito confiantes com o futuro” e admitiu mesmo que se possa verificar “um crescimento da economia superior ao que está plasmado no Orçamento do Estado e nas últimas estimativas do Governo”. O líder parlamentar do PSD argumentou que estes são “números e factos que são também a vida das pessoas”.

A deputada centrista Cecília Meireles também lamentou que os socialistas não se congratulem com o que considera serem “boas notícias para os portugueses”. “Há seis trimestres consecutivos, há um ano e meio, que estamos com dados de crescimento bom. Significa que a retoma é sustentada e que esta nova fase é sólida e é robusta. Aquilo que muitos chamaram, no início, de crescimento pouco sustentado ou dados pouco significativos, agora estamos a falar de um crescimento que é real, robusto e sólido", afirmou Cecília Meireles. “O CDS, quando vê boas notícias para os portugueses, alegra-se e fica contente. Acho uma pena que a oposição não faça o mesmo”, afirmou a deputada, quando confrontada com declarações do deputado do PS João Galamba que, em nome dos socialistas, afirmou que o crescimento está abaixo das previsões e do orçamentado pelo Governo.

Procura interna e consumo
Galamba afirmara que o Governo foi “enganado” pelas estimativas de dois economistas que trabalham para o PSD. “Estamos perante um valor que fica no limite inferior e mais conservador de todas as estimativas conhecidas para o crescimento do PIB no primeiro trimestre deste ano e abaixo do que está orçamentado.”

O deputado socialista e membro do Secretariado Nacional do PS referiu que o primeiro-ministro se mostrou “ufano”, alegando ter fortes indicações de que o PIB poderia ficar acima das estimativas, “mas enganou-se, porque foi enganado”. Passos Coelho “confiou em dois economistas que convidou para fazerem parte do seu grupo destinado a responder ao quadro macroeconómico do PS — falo do economista chefe do BCP, José Maria Brandão de Brito, e de Inês Domingos, do Núcleo de Economistas da Católica. Devem ter sido estes dois economistas que deram a indicação ao primeiro-ministro de que a economia cresceria muito mais: 1% em cadeia em vez de 0,4%, e cerca de 2,2% em vez de 1,4%”. “Este crescimento depende uma vez mais da procura interna e, sobretudo, do consumo privado, que em larga medida resultou da compra de automóveis”, acrescentou.

O PCP considerou o crescimento “insuficiente” e lembrou igualmente que o valor é inferior à previsão do Governo, considerando que o valor não se traduziu em qualquer melhoria da qualidade de vida da generalidade dos cidadãos.

O deputado comunista Paulo Sá diz que os dados do INE permitem concluir que “a procura interna abrandou — o que é um reflexo da insistência do Governo nas medidas de austeridade — e que se verifica um diminuto investimento público”. “O crescimento económico é inferior à previsão do Governo e também muito pequeno face às necessidades de desenvolvimento do país. Este crescimento não se traduz na melhoria das condições de vida dos portugueses, porque, paralelamente, os cidadãos estão a ser esmagados com medidas de austeridade — medidas que o Governo pretende continuar a aplicar no futuro”, insistiu.

Pelo Bloco de Esquerda, o líder parlamentar disse que os indicadores mostram que a economia “não está a responder ao essencial”. “Este resultado dos números da economia demonstra que há uma economia que não está a responder ao essencial”, disse Pedro Filipe Soares, acrescentando que “há muito por fazer numa economia que foi destruída durante quatro anos de austeridade e que está hoje ainda aquém do que era em 2010”.

“Os indicadores demonstram desigualdade e a vida real das pessoas mostra que os salários não chegam para pagar as contas no final do mês", afirmou o líder parlamentar bloquista, referindo que “a economia não cria o essencial e o essencial é riqueza e é a criação de emprego, essa é que é uma economia que responde às pessoas”. O líder parlamentar do BE sublinhou ainda que a economia está “mais destruída, com menos emprego e com muito menos salários do que anteriormente", referindo-se à "altura em que o Governo tomou posse”.

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