Quatro aves únicas de São Tomé e Príncipe à beira da extinção

Alerta é da Sociedade Portuguesa para Estudos das Aves.

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Galinhola (Bostrychia bocagei) encontrada na casa de um caçador na localidade de São João dos Angolares, na ilha de São Tomé Hugo Sampaio
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Anjolô (Neospiza concolor) num selo de São Tomé e Príncipe DR

Quatro espécies de aves endémicas de São Tomé e Príncipe “estão no limiar de extinção”, alerta Hugo Sampaio, da Sociedade Portuguesa para Estudos das Aves (SPEA), que trabalha num projecto para evitar o seu desaparecimento definitivo.

Entre as aves em vias de extinção está a galinhola (Bostrychia bocagei), o anjolô (Neospiza concolor) e o picanço-de-são-tomé (Lanius newtonii), só existentes em São Tomé e em mais nenhuma outra parte do mundo. A quarta espécie é o tordo-do-príncipe (Turdus xanthorhychus), que também só existe naquela ilha.

“Estas quatro espécies estão na categoria do mais alto perigo de extinção. São de populações pequenas e o seu habitat é só no Ôbo”, disse Hugo Sampaio à agência Lusa, referindo-se à floresta densa do Parque Nacional do Ôbo, e atribuindo a iminência do desaparecimento dessas aves à “desflorestação para aproveitamento agrícola”.

“Por si só, os seus habitats já são reduzidos, porque são ilhas pequenas, mas havia muito mais florestas primárias, tanto em São Tomé como no Príncipe. Depois de o homem ter reduzido ainda mais o seu habitat com a desflorestação para a introdução de algumas culturas, essas aves correm sério risco de desaparecer.”

Outro factor de perigo para estas espécies está nos predadores, alerta o biólogo. “As espécies quando aqui evoluíram, não evoluíram com predadores, havendo casos de aves em que o homem pode chegar e apanhá-las com a mão, tal como acontece por exemplo nas ilhas Galápagos”, explicou. “Mas agora existem os ratos, gatos, lagaias, macacos e cobras pretas e esses animais alimentam-se das aves e dos seus ovos.”

A equipa da SPEA está agora mais concentrada nas três espécies em vias de extinção em São Tomé, prevendo a deslocação para a ilha do Príncipe no período da gravana (estação seca naquele arquipélago, entre Junho, Julho e Agosto), para trabalhar no tordo. “Começámos a trabalhar em São Tomé em 2013. Havia o problema da desflorestação pela Agripalma [projecto de plantação de palmeiras para produção de óleo de palma], por isso havia mais urgência em permanecer aqui para tentar evitar que houvesse a desflorestação toda.”

Além da desflorestação e dos predadores, existe ainda outro problema que contribui para o desaparecimento das aves endémicas são-tomenses: “Normalmente, são os caçadores de porcos selvagens que matam as galinholas. Elas vivem muito para o interior das florestas e os porcos também estão a ficar cada vez mais escassos. Dá-se o caso de muitas vezes os caçadores penetrarem nas florestas e não encontrarem porcos. E para não regressarem de mãos vazias, caçam algumas galinholas para comerem”, disse Hugo Sampaio.

Das três espécies únicas de São Tomé em vias de extinção, a galinhola é a que está mais ameaçada, segundo a SPEA, que estima a sua população entre apenas 50 e 250 membros. Em São Tomé e Príncipe há pelo menos 28 espécies que só existem nestas ilhas.

Esta sociedade portuguesa trabalha para a conservação das aves e seus habitats, particularmente as aves em vias de extinção ou o grupo das aves mais ameaçadas. Em São Tome e Príncipe, a SPEA pretende avançar com um “projecto de conservação directa” destas espécies, criando, conjuntamente com a Direcção do Ambiente do país, um plano de gestão nos parques naturais das duas ilhas, que inclui guardas, vigilantes e monitorização constante das espécies.

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