Schäuble desafia Atenas a avançar com referendo

Para o ministro das Finanças alemão, pode ser útil deixar os gregos “decidir se estão dispostos a aceitar o necessário, ou se querem algo diferente”.

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Schäuble nesta segunda-feira em Bruxelas EMMANUEL DUNAND/AFP

Na ausência de decisões do Eurogrupo, esta segunda-feira ficou marcada pelo desafio aberto lançado pelo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, ao Governo grego, à entrada da reunião dos ministros da zona euro. “Se o Governo grego acha que deve fazer um referendo, então que faça um referendo”, disse Schäuble, questionado por jornalistas sobre os rumores que afirmam que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, poderá submeter um acordo com os parceiros europeus a aprovação popular. O ministro das Finanças alemão acrescentou que pode ser útil deixar os gregos “decidir se estão dispostos a aceitar o necessário, ou se querem algo diferente.”

Estas declarações marcam uma ruptura com a atitude até agora assumida pelos líderes europeus, que se têm recusado a discutir sequer essa possibilidade. A hipótese de organizar um referendo sobre o acordo com os parceiros europeus já tinha sido avançada pelo próprio Tsipras em Abril, que enfrenta grande oposição dentro do seu próprio partido às reformas exigidas pela União Europeia e pelo FMI. Mas a perspectiva de um referendo continua a não ser vista com bons olhos por estas instituições, que temem mais atrasos. “Presumivelmente, se houver um referendo, não se começará a implementar reformas antes de ter um resultado”, disse nesta segunda-feira o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.

Ninguém esperava que a reunião dos ministros das Finanças da zona euro trouxesse novidades de maior, depois de na semana passada o próprio ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, ter dito que não esperava nenhum acordo final. “A reunião serviu apenas para fazer um ponto da situação”, confirmou no final a ministra portuguesa, Maria Luís Albuquerque. No entanto, tanto Dijsselbloem como o comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, tentaram mostrar-se optimistas, sublinhando os “progressos significativos” nas negociações entre a Grécia e as instituições. Alertaram, contudo, que o tempo está a esgotar-se para a Grécia chegar a um acordo que permita desbloquear a última tranche do empréstimo europeu, a tempo de evitar que o país entre em incumprimento.

E a situação é grave, admitiu o próprio ministro das Finanças grego depois da reunião: “A questão da liquidez é extremamente urgente”, disse Varoufakis. “Em termos de calendário, estamos a falar de algumas semanas”, revelou.

“À medida que o tempo passa, a situação de liquidez piora, incluindo para pagamentos internos”, disse por sua vez Dijsselbloem, quando questionado sobre a situação das finanças gregas.

O Governo grego confirmou que já autorizou o pagamento dos 750 milhões de euros que Atenas tem de pagar ao FMI nesta terça-feira, mas há quem duvide que o Estado tenha reservas de liquidez suficientes para pagar os salários e pensões no final deste mês.

E se Varoufakis tinha esperança que o Eurogrupo apoiasse o pedido grego, de que o BCE facilitasse, aumentando os limites de emissão de dívida de curto prazo por parte do Tesouro grego, foi rapidamente esclarecido. “O BCE é absolutamente independente, e não será guiado por declarações do Eurogrupo, e o Eurogrupo não vai adoptar declarações para dizer ao BCE o que fazer”, disse Jeroen Dijsselbloem, ainda antes da reunião.

No final, Varoufakis reiterou que o Governo já cedeu nalgumas promessas eleitorais, mas que há pontos sobre os quais não pode haver compromissos, citando a necessidade de acabar com o “ciclo deflacionista” e a “distribuição dos sacrifícios dos mais fracos para os menos vulneráveis.”

Relativamente a Portugal, Maria Luís Albuquerque confirmou que o país ainda não pediu autorização ao Eurogrupo para reembolsar integralmente o FMI. Esse pedido é necessário porque significaria que Portugal estaria a reembolsar essa instituição antes dos parceiros europeus que também emprestaram dinheiro ao país. Mas a ministra não antecipa dificuldades em obter essa autorização, até porque “a própria Irlanda já fez esse pedido”. A poupança poderia rondar os 700 milhões de euros, recordou.

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