Dois mil migrantes recolhidos nas costas da Indonésia e da Malásia em dois dias

A maioria são muçulmanos rohingya que fogem de perseguições e de violência étnica na Birmânia. Já cerca de 25 mil tentaram a travessia para a Malásia em 2015.

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Imagem de alguns dos cerca de 600 rohingya resgatados no domingo na costa da Indonésia Roni Bintang - Reuters

Em apenas dois dias foram recolhidos mais de 2000 migrantes nas costas da Indonésia e da Malásia. Ao início da manhã desta segunda-feira, na hora local (primeiras horas do dia em Portugal), as autoridades dos dois países anunciaram que tinham sido encontrados mais de mil migrantes nas costas da ilha turística de Langkawi, na Malásia, e que cerca de 400 pessoas tinham sido resgatadas de um barco à deriva na costa de Aceh, na Indonésia. Neste último local, foram socorridas mais de 600 pessoas no domingo, que se encontravam à deriva em dois barcos de madeira, abandonadas pelos traficantes.

Os migrantes são na maioria rohingya da Birmânia que partiram da Tailândia, mas há também migrantes do Bangladesh. Os rohingya, muçulmanos, são originários da província de Rakhine, na Birmânia, de maioria budista, onde têm sido sistematicamente alvo de perseguições e de violência étnica. Dezenas de milhares fogem todos os anos e há cerca de 200 mil a viverem actualmente em campos de refugiados no Bangladesh, onde enfrentam a ameaça de deportação.

Os mil migrantes que deram à costa no resort turístico da ilha Langkawi foram detidos pelas autoridades da Malásia. A Al-Jazira escreve que chegaram em “condições muito más” e que sofriam de “sede e fome severa”. Entre os migrantes estão dezenas de crianças.

A polícia diz que saíram de três barcos de traficantes ao longo da madrugada de domingo para segunda-feira, percorreram as águas de baixa profundidade e foram detidos à medida que chegavam a terra. Um dos barcos foi capturado pelas autoridades, escreve a Reuters, mas não se sabe ainda se foram encontrados os traficantes.

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) diz que o número de rohingya que tentaram este ano a travessia para a Malásia atingiu o dobro do que fora registado por esta altura em 2014. A ACNUR afirma que, até Março, já 25 mil rohingya tentaram entrar na Malásia e que pelo menos 300 morreram a fazê-lo.

A rota mais comum faz-se desembarcando primeiro no Sul da Tailândia, em Ranong, onde existem vários campos de traficantes. Uma vez desembarcados, os migrantes podem passar dezenas de dias até partirem para o que esperam ser o seu destino final. A partir de Ranong, a travessia faz-se por vezes a pé, pela fronteira com a Malásia, ou novamente de barco.

“As condições nos campos dos traficantes são horríveis”, escreve a ACNUR, que diz ainda que mais de metade das pessoas que entrevistou desde Outubro relataram mortes durante a sua travessia.

A agência descreve a vida nesses campos: “[Os] espancamentos são comuns e há relatos de violações. Os que tentam fugir arriscam-se a serem abatidos a tiro.”

Tailândia reforçou segurança
A Tailândia tem apertado o cerco aos traficantes de rohingya. Em Maio foram encontradas várias valas comuns em campos de traficantes tailandeses, o que acabou por intensificar as operações de combate ao tráfico humano. Por esta razão, os traficantes têm alterado as suas tácticas e adoptado rotas mais distantes – a chegada de centenas de migrantes à Indonésia é sinal disso.

Uma das maneiras em que o reforço de controlo tailandês tem alterado a actividade dos traficantes é a utilização dos barcos como “campos provisórios”, nos quais os migrantes passam por vezes dias em condições precárias. Também se tem registado um aumento de sequestros. Segundo a ACNUR, são cada vez mais os relatos de traficantes que exigem resgates pelos migrantes que mantêm em barcos, no oceano. 

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