Quando é que o eterno namorado vai aceitar dizer sim?

Foi o primeiro a assumir que podia ser candidato, ditou os timings para os anúncios, mas permanece teimosamente sentado no banco. Marcelo anda a tomar o pulso aos apoios e sabe que lhe falta o da cúpula. A sua resposta só deve chegar mesmo em Outubro.

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Marcelo quer a economia a crescer Sérgio Azenha

Parece um namoro de adolescência aquele que Marcelo Rebelo de Sousa mantém sobre as presidenciais com os sociais-democratas, com os eleitores não PSD e mesmo com a opinião pública. Umas vezes muito perto, outras bem mais longe de Belém. O professor-comentador foi dos primeiros a pôr o pé na linha de partida para as presidenciais, ainda em Outubro de 2013. Na TVI, referindo-se a si na terceira pessoa, admitiu que “em teoria pode ser” candidato e disse haver um “dever moral” de avançar de quem estivesse melhor colocado nas sondagens (e elas dão-lhe sempre lugar de destaque).

Três meses depois, Passos Coelho dava uma machadada nas pretensões do antigo líder: na moção ao congresso escreveu que o Presidente deve ser um “moderador” e evitar ser um “cata-vento de opiniões erráticas”. O professor enfiou a carapuça e disse que o presidente do PSD “quis excluir o candidato Marcelo” – o que era “perfeitamente legítimo” e por isso “a questão está resolvida”: recuou.

Entretanto, o ruído das presidenciais subiu de tom e Santana Lopes apareceu a não se excluir, apontou a Primavera como prazo para o anúncio. Marcelo deu então meia volta: afinal ainda não decidiu o que vai fazer e a melhor altura para qualquer candidato da direita avançar é depois das legislativas para não ficar chamuscado com os resultados eleitorais de Passos. Santana Lopes ponderou e mudou o seu calendário, alinhando-o com Marcelo.

O professor alimenta o suspense todos domingos – é ele que escolhe de antemão os temas que debate na TVI e Belém é sempre chamado à mesa. Tem insistido na candidatura de Rui Rio, deixando directrizes que vai aplicar a si próprio: devem olhar-se as sondagens e o melhor colocado (na verdade ele próprio) deve esperar pelas legislativas.

O resultado das eleições é hoje impossível de prever e pode deixar o país muito perto da ingovernabilidade. Se o candidato da direita for apressado e aparecer a terreiro antes de Setembro, convém fazer uma campanha independente, à margem das caras do Governo, para não se queimar com as políticas dos últimos quatro anos. Marcelo também aqui julga somar pontos: tem a vantagem de mostrar a sua independência todos os domingos com as críticas, por vezes ferozes, ao primeiro-ministro.

Na prática, o professor põe e dispõe neste namoro. Com os diversos proto-candidatos à disposição no PSD, Marcelo sabe que Passos não precisará de esconder o desagrado que tem por si nem precisará de o apoiar. O candidato ideal para Passos Coelho era Durão Barroso, de quem é próximo. Mas o antigo líder quer manter-se livre para outros voos internacionais.

Na lista dos mais próximos de Passos aparece depois Santana Lopes – mas o seu possível eleitorado não sai dos limites do PSD, o que é pouco. Oferecer Belém a Rio é uma forma de Passos o afastar da corrida à liderança do partido. Fazendo as contas, as possibilidades de Marcelo ser o candidato do PSD são cada vez mais escassas. O seu consolo é saber que, se quisesse, mesmo concorrendo contra o partido, tinha grandes chances de chegar ao palácio cor-de-rosa.

Mais do que seguir as sondagens (que as segue), responder aos apelos nos comícios do PSD (que ouve muitos), o professor aguardará, pacientemente, pelos resultados de uma noite eleitoral de Outubro. Falta saber se aproveitará o ecrã da TVI, onde deverá comentar os resultados das legislativas, para o fazer no mesmo dia.

Marcelo tem sido figura assídua das comemorações dos 40 anos do partido, que se prolongaram por mais de um ano. Nos últimos meses, calcorreou milhares de quilómetros, quase todos os distritos de tom laranja forte,  A intenção da cúpula do PSD era ter na rua os antigos líderes, mas alguns não colaboraram - como Manuela Ferreira Leite ou Luís Filipe Menezes. E o professor não se nega, seja ao partido, à JSD ou aos TSD. Ou aos rotários, a clubes desportivos a que tenha ligação, como o Cascais, às autarquias das terras de Basto, a prefácios e apresentações de livros (como o do ex-bloquista Daniel Oliveira, na próxima semana).

Até o apresentador da SIC Daniel Oliveira lhe cobrou esta semana uma promessa suspensa há três anos para ir ao programa Alta Definição – onde Rui Rio também esteve este sábado, outra imagem para reforçar a imagem de Marcelo em lume brando para Belém.

Anda a sentir o pulso à rua sob a desculpa de que, se o partido o chama, ele deve participar. Já não vai parar entre Junho e Julho, como disse ao Expresso há um mês, porque os convites têm-se acumulado, mesmo para os tempos quentes de Verão. Até ao fim de Maio, tem pelo menos três eventos por semana, boa parte deles do partido. Para Junho a agenda tem já um por semana, igualmente sob o signo laranja. Nessa altura, Rui Rio pode até já ter feito orelhas moucas aos conselhos de Marcelo e cedido às investidas de Marco António Costa (que já mostrou ter pressa em agrilhoá-lo ao compromisso), anunciando que é candidato.

O professor-comentador sabe alimentar o romantismo do namoro quando a noite cai ao domingo. Tem sido sempre apontado para candidato a tudo, mas desde que deixou a liderança do PSD, em 1999, quando se desentendeu com Paulo Portas com quem celebrara um acordo de coligação, acabou por nunca mais dar o passo para entrar em qualquer corrida.

Presidente da Fundação Casa de Bragança, professor catedrático, jurista e dono e senhor de um espaço de antena de 40 minutos, em horário nobre na televisão, seguido por cerca de milhão e meio de espectadores, para dizer o que lhe apetece. Estará Marcelo disposto a perder toda a sua liberdade para se casar novamente com a política durante, pelo menos, cinco anos?

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