Os direitos televisivos e os direitos dos futebolistas colidiram em Espanha

A partir de 16 de Maio, as competições profissionais deverão parar. Federação e Liga espanholas estão em clima de guerra aberta.

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Cristina Quicler/AFP

Foi na presença de vultos do futebol espanhol como Iker Casillas, Andrés Iniesta ou Xavi que o sindicato dos jogadores (AFE) confirmou nesta quinta-feira, em Madrid, que vai mesmo avançar para a greve. Um dia depois de a Real Federação Espanhola (RFEF) ter ameaçado com a paralisação a partir de 16 de Maio, o organismo que representa os futebolistas assinou por baixo: “Foram atacados os nossos direitos”, justifica o presidente, Luis Rubiales.

Em causa está o novo modelo de repartição das receitas televisivas previsto num recente decreto-lei aprovado pelo Governo. Segundo a legislação, que ainda terá de ser apreciado no Parlamento, 90% dos direitos passam a ser distribuídos pelos clubes da I Liga e 10% pelos da II Liga, num formato centralizado que rompe a tendência até agora seguida no país. De resto, não é contra a centralização dos direitos televisivos que a RFEF e a AFE se manifestam, mas contra as percentagens atribuídas.

“Decidimos parar para nos defendermos do que entendemos ser um ataque aos nossos direitos. Isto não pode ser feito desta forma”, argumenta Rubiales, reclamando “uma menor diferença entre a primeira e a segunda divisões”. “Desapareceu qualquer alusão às garantias dos futebolistas. Há garantias para a agência tributária, para a Segurança Social... Isso é imprescindível, mas também é preciso acautelar os que fazem parte da modalidade”, acrescenta.

Para a RFEF, este novo modelo representa uma perda de autonomia, já que ficará privada da gestão de parte dos fundos que até aqui recebia para distribuir, posteriormente, pelas associações regionais. Mas as críticas vertidas pelo organismo no comunicado também apontam noutra direcção: “Passados três meses desde a primeira comunicação formal do ministro da Educação, Cultura e Desporto, não se resolveu nenhum dos problemas que afectam gravemente o futebol amador”.

É com base nesta argumentação que é anunciada a greve a partir de meados do mês e que, a confirmar-se, porá em causa não só as duas últimas jornadas da Liga espanhola (17 e 23 de Maio) mas também a final da Taça do Rei, entre Barcelona e Athletic Bilbau, no dia 30.

Muita água promete correr ainda debaixo da ponte, porém. Até porque a direcção da Liga espanhola de futebol (LFP) não demorou a reagir às intenções da AFE e da RFEF. Ao início da noite desta quinta-feira, o presidente do organismo, Javier Tebas, emitiu um comunicado em que considera “a convocatória e os objectivos da greve ilegais”, bem como “um claro incumprimento do convénio colectivo vigente entre a LFP e a AFE”. Nessa linha, promete apresentar já nesta sexta-feira uma queixa junto da Audiência Nacional, com especial pedido de urgência, e reclamar uma indemnização pelos eventuais prejuízos causados.

Horas antes, Javier Tebas já tinha denunciado o que considera ser uma “chantagem” da RFEF e apontado o dedo acusador ao líder da federação, Ángel María Villar: “É uma loucura, uma ousadia e uma irresponsabilidade de uma instituição que não sabe o rumo que deve tomar o futebol profissional e amador”.

Críticas semelhantes sopram do lado do Conselho Superior do Desporto (CSD): “O senhor Villar pensa que o Governo do seu país deve esperar pela sua bênção e pela sua autorização para fazer alguma coisa”, contesta o presidente, Miguel Cardenal, em declarações à rádio pública espanhola, depois de ter ouvido o líder da RFEF reprovar as “ingerências contínuas” do CSD. “Eles querem utilizar o dinheiro privado do futebol [o CSD vai reter 1% das receitas] para pôr em prática políticas que beneficiam actividades alheias ao futebol”.

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