Queda do petróleo atenua subida de importações de gasolina e gasóleo

Compras de produtos refinados aumentaram 13,2%, com a gasolina a subir 18,6% e o gasóleo 14,6%. Mas o saldo importador de produtos energéticos atingiu o valor mais baixo desde 2010 graças à queda de preços

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No ano em que a refinaria da Galp em Sines esteve 40 dias parada, as importações portuguesas de produtos refinados subiram 13,2%, para 4,2 milhões de toneladas, revelam as estatísticas da Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) sobre a factura energética portuguesa. É preciso recuar até 2009 para chegar a um patamar mais elevado de volume de importação de produtos refinados (4,5 milhões de toneladas), segundo as estatísticas anteriores consultadas pelo PÚBLICO. Entre 2013 e 2014, as exportações de gasóleo aumentaram 14,6% e as de gasolina 18,6%.

De acordo com a DGEG, as quantidades de petróleo bruto compradas ao exterior no ano passado recuaram 4%, para cerca de 11,1 milhões de toneladas. E enquanto a descida do preço do crude nos mercados internacionais, que se tornou visível na segunda metade do ano, fez encolher a despesa de Portugal com a matéria-prima em cerca de 16,6%, para 6,1 mil milhões de euros, o valor de importação dos produtos refinados subiu 3,3% em 2014.

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Segundo a DGEG, chegou aos 2,24 mil milhões de euros (bastante acima dos 1,47 mil milhões que foram pagos em 2009 por uma quantidade maior de produtos refinados). Em quantidade, entre os produtos que registaram maiores aumentos de importações face a 2013, destacam-se o butano, o propano, as gasolinas e gasóleos (incluindo os de aquecimento) e os lubrificantes.

No conjunto, no ano passado, a factura do país com as importações de produtos energéticos melhorou 8,4%, atingindo o valor mais baixo desde 2010, quando a diferença entre aquilo que Portugal importa e aquilo que consegue exportar se saldou em 5,56 mil milhões de euros.

Em 2013, o saldo importador tinha sido de 6,23 mil milhões. Mas se nesse período o balanço beneficiou de um aumento das exportações (impulsionadas pelos investimentos de reconversão nas refinarias de Sines e de Matosinhos e o consequente aumento de produção), em 2014 foi a queda generalizada de preços dos produtos de energia que permitiu compensar o efeito quer da redução do volume de vendas ao exterior, quer da descida de preços que também se verificou na exportação, explicam os dados da DGEG.

O relatório da entidade liderada por Carlos Almeida mostra que no ano passado Portugal importou produtos energéticos no valor de 10,42 mil milhões, o que representa uma descida dos encargos de 9,5% face a 2013. Mas, em contrapartida, as exportações também encolheram 10,8%, para 4,7 mil milhões. “Como a generalidade dos preços (de importação e de exportação) dos produtos energéticos baixou, e como a relação do câmbio euro/dólar se manteve estável em 2014 face a 2013, isso contribuiu para diminuir a pressão da queda das exportações”, assinala a DGEG, a propósito da melhoria do saldo importador.

Se os produtos petrolíferos representam 80% do total da factura, as importações de gás natural aumentaram o seu peso para 15,4% do total no ano passado (embora os volumes importados tenham caído 4,2% face a 2013), custando ao país 1,6 mil milhões. O valor traduz um aumento de 7,3% dos gastos com esta fonte energética.

Os preços internacionais do gás natural tendem a acompanhar as cotações do petróleo com um atraso de vários meses, pelo que em 2014 a desvalorização do Brent não teve o mesmo efeito no preço do gás. Este começou recentemente a reflectir alguma folga, o que contribuiu para a descida das tarifas reguladas de gás natural anunciada recentemente pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).

Do lado das exportações, que em 2013 tinham beneficiado essencialmente do aumento das vendas de gasóleo da Galp, mas que em 2014 se viram penalizadas precisamente pela paragem programada da refinaria de Sines, em Março, a DGEG destaca a queda de 11,6% das vendas ao exterior de produtos refinados, que se fixaram em 4,3 mil milhões de euros. Ainda assim, como nota a entidade, estes produtos (onde se destacam em valor o fuelóleo, os gasóleos, o jet e as gasolinas) representaram mais de 91% do valor global das exportações. Segundo os dados da Galp, apesar de as suas vendas de produtos refinados a países como a Espanha, os Estados Unidos e a França terem diminuído em 22% (para 3,2 mil milhões), a empresa manteve-se em 2014 como o maior exportador nacional (cerca de 7% do total).

A DGEG destaca ainda a descida de 26,3% das reexportações de gás natural (118 milhões de euros). Em sinal contrário verificaram-se aumentos nas reexportações de carvão (17 milhões de euros) e exportações de energia eléctrica (154 milhões de euros), quer em quantidades (72,5% e 30,1%, respectivamente), quer em valor (57,6% e 23,9%). Ainda assim, nota a DGEG, estas duas classes de produtos representam apenas 3,7% do valor total das exportações.

O peso da importação dos produtos energéticos no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 6% em 2014 (valor que compara com os 6,8% de 2013 e 2012 e que é igual ao registado em 2011). Já o peso do saldo importador no PIB recuou de 3,7% para 3,3%.

Azerbeijão e Cazaquistão no mapa das importações
A maioria do petróleo bruto que Portugal importa continua a vir de África (55,5%), segundo revela a DGEG. Mas se Angola se mantém como o principal mercado de origem das importações portuguesas (26,1% em 2014),  tem visto o seu peso descer (menos 31,3% face a 2013), enquanto outros protagonistas assumem destaque.

Entre eles, duas nações asiáticas que não fazem parte da OPEP, o chamado cartel dos produtores e exportadores de petróleo.  Ainda sem a Líbia no mercado, foi do Azerbeijão e do Cazaquistão que veio um quinto do petróleo bruto que Portugal importou em 2014. O Azerbeijão foi responsável por 9,2% do fornecimento, cabendo ao Cazaquistão uma fatia de 9,7%.

Ainda assim, o preço médio de importação de cada tonelada de crude destes dois países (773 dólares e 821 dólares, respectivamente) superou o preço médio do petróleo oriundo de Angola (694 dólares). O preço médio por tonelada pago pelo crude do Azerbeijão foi o mais elevado em 2014, enquanto o mais barato proveio do Iraque (596 dólares).

Os outros principais fornecedores portugueses em 2014 foram a Arábia Saudita (líder da OPEP e apontada como estando na origem da guerra de preços com os EUA que fez afundar a cotação internacional do crude), com 12,6% das importações nacionais, a Argélia (9,9%) e a Nigéria (9,1%). De África chegaram 6,1 milhões de toneladas de petróleo bruto e, da Ásia, 4,1 milhões de toneladas. Ao continente americano importaram-se 703 mil toneladas e as importações europeias totalizaram 82 mil toneladas.

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