Nepal acusado de dificultar entrada de ajuda humanitária

Coordenador da ONU diz que o país devia suspender todas as taxas, mas o Governo queixa-se de receber alguma ajuda que "não serve para nada".

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O Governo diz que tem mantimentos, mas não consegue fazê-los chegar aos mais necessitados de uma forma rápida Adnan Abidi/Reuters

A chegada de ajuda humanitária às vítimas do terramoto no Nepal está a ser dificultada não só pelas condições no terreno mas também por questões burocráticas, acusa as Nações Unidas. O Governo nepalês já suspendeu o pagamento de taxas para acelerar a entrada no país de tendas e lonas, mas diz que muita da ajuda que tem chegado "não serve para nada".

"Temos recebido coisas como atum e maionese. Isto não nos serve para nada. Precisamos de cereais, sal e açúcar", disse o ministro das Finanças nepalês, Ram Sharan Mahat, sem responder à acusação da ONU, e insistindo para que as organizações internacionais e os governos de outros países enviem tendas, lonas e produtos alimentares essenciais.

Antes, o irlandês Jamie McGoldrick, coordenador das Nações Unidas no Nepal desde 2013, dissera que o Governo do país "não devia aplicar a metodologia aduaneira que é usada em tempos de paz" – é por causa das dificuldades burocráticas, disse o responsável, que alguma da ajuda que tem chegado ao Nepal não passa do aeroporto de Katmandu.

Parte do problema poderá começar a ser resolvida a partir deste sábado, com o arranque da operação norte-americana, que foi acordada com o Governo nepalês no início da semana passada.

Ao Nepal estão a chegar quatro aviões militares de carga e dois helicópteros, e também equipamento pesado para levantar estruturas, que será operado por uma centena de marines norte-americanos. A operação inclui também um grupo de controladores de tráfego aéreo.

"É preciso não deixar que os mantimentos se amontoem" no aeroporto de Katmandu, disse à agência Reuters o brigadeiro-general norte-americano Paul Kennedy, responsável pela operação dos EUA. O militar deu como exemplo o seu próprio voo, num avião C-130, que quase foi afectado por "um problema de combustível" depois de ter sobrevoado o aeroporto de Katmandu várias vezes por falta de condições para aterrar.

Apesar das acusações de excesso de burocracia e de atraso na entrega da ajuda às vítimas, o Nepal teria sempre dificuldades em lidar com as consequências de um terramoto como o que atingiu a região de Katmandu no sábado passado, com uma magnitude de 7,8.

"O Nepal é usado pelos militares como exemplo do pior cenário possível" em caso de terramoto, disse o brigadeiro-general norte-americano em Katmandu, citado pela Reuters. "Não tem saídas para o mar e há poucos campos que podem ser usados para pousar aviões militares", explicou o responsável.

Para além do aeroporto internacional de Katmandu, as equipas de socorro internacionais vão tentar usar um aeroporto em Pokhara, 200 quilómetros a Oeste da capital, e outro em Bhairahawa, mais a Sul, junto à fronteira com a Índia.

Face às acusações de atraso no envio de ajuda às vítimas do terramoto, o Governo nepalês diz que há poucos camiões para fazer chegar comida e outros bens às zonas mais remotas, e também são poucas as pessoas disponíveis para prestar esse serviço – muitos dos habitantes de Katmandu regressaram às vilas e aldeias onde nasceram para ajudarem as suas famílias.

"Os nossos armazéns estão cheios, temos muita comida, mas não conseguimos transportar mantimentos a um ritmo mais acelerado", disse Shrimani Raj Khanal, da Agência Alimentar do Nepal.

As equipas de resgate continuam a tentar encontrar sobreviventes entre os destroços, mas as esperanças vão sendo cada vez menores com o passar dos dias. Até ao momento foram recuperados 6621 corpos, e mais de 14.000 pessoas ficaram feridas. De acordo com as estimativas das Nações Unidas, o balanço final poderá ficar próximo dos 10.000 mortos, com 600.000 casas destruídas e oito milhões de pessoas afectadas, numa população de 28 milhões.

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