Google faz parceria com editores de media europeus e investe 150 milhões de euros

Parceria prevê apostas no desenvolvimento de produtos, apoio à inovação e formação e investigação na área do jornalismo digital.

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O Google agrega gratuitamente conteúdos dos media, mas os sites podem optar por não ser listados Enric Vives-Rubio

O Google e alguns dos principais editores de media europeus anunciaram esta segunda-feira um acordo “para apoiar o jornalismo de alta qualidade na Europa através da tecnologia e da inovação”. No âmbito desta parceria, que ficará conhecida como Digital News Initiative (DNI), o motor de busca comprometeu-se a avançar com 150 milhões de euros destinados a projectos que “apresentem novas abordagens para o jornalismo digital”.

O Google tem medido forças com alguns países por causa do seu serviço Google News. No final do ano passado, por exemplo, o motor de busca acabou por encerrar a página em Espanha, depois de o país ter reforçado as suas políticas de protecção dos direitos de propriedade intelectual.

Entre as medidas aprovadas pelo Conselho de Ministros espanhol destacou-se a que exige a motores de busca e agregadores, como o Google, que paguem pelos excertos de conteúdos que publicam, o que não acontece actualmente.

À semelhança de Espanha, também a Alemanha, a França e a Bélgica adoptaram medidas como esta, mas no caso espanhol a directiva veio acompanhada da aplicação de uma taxa considerada “indispensável” pelos editores de media do país. Para o Google, a imposição de uma espécie de imposto por Madrid tornou inviável o Google News e a página foi encerrada em Espanha.

À excepção de Espanha, que exige o pagamento pela reprodução de notícias no motor de busca, o Google conseguiu estabelecer acordos com os editores belgas, franceses e alemães. Em França, por exemplo, a empresa norte-americana acordou em financiar em 60 milhões de euros a transição digital de alguns editores.

Esta segunda-feira, durante a conferência do Financial Times, que decorreu em Londres, o Google firmou a parceria DNI com o El Pais, Unidad Editorial, Grupo Vocento, Grupo Godó, Grupo 20minutos e El Confidencial, todos de Espanha, com o francês Les Echos, o alemão FAZ, os jornais britânicos Financial Times e The Guardian, o NRC Media (Holanda), o La Stampa (Itália) e o Die Zeit (Alemanha). A este grupo juntam-se ainda as organizações European Journalism Centre, Global Editors Network e a International News Media Association, avança o motor de busca numa nota.

Este é apenas um grupo inicial, já que o Google pretende que a DNI seja alargada a outros editores de media europeus. Segundo a empresa, “qualquer outra entidade envolvida na indústria da produção de notícias online poderá participar na totalidade ou em parte desta iniciativa”.

“Através da Digital News Initiative, o Google irá trabalhar lado a lado com editores de notícias e organizações de jornalismo para ajudar a desenvolver modelos mais sustentáveis para o sector da produção de notícias. Isto é apenas o início e lançamos o repto para que outras pessoas se juntem a nós”, sustentou o presidente para as relações estratégicas do Google na Europa, Carlo D’Asaro Biondo.

Investimento de 150 milhões em novos projectos
A DNI vai desenvolver-se em três áreas: desenvolvimento de produtos, apoio à inovação e formação e investigação. Para a primeira área, vai ser criado um grupo de trabalho com o objectivo de “explorar o desenvolvimento de produtos que contribuam para aumentar receitas, o tráfego e o envolvimento com as audiências”. Aqui, questões como publicidade, vídeo, aplicações, conhecimento, análise de dados, conteúdos jornalísticos pagos e no Google News vão estar no centro das atenções.

O apoio à inovação no jornalismo online vai ser feito ao longo de três anos, período durante o qual o Google pretende avançar com 150 milhões de euros a aplicar em “projectos que apresentem novas abordagens” para esta área. “Qualquer um que trabalhe na inovação na indústria das notícias online poderá candidatar-se, incluindo editores já estabelecidos no mercado, editores exclusivamente online e mesmo startups de base tecnológica que actuem no sector das notícias”, explica a empresa em comunicado, sem adiantar de que forma a verba irá ser aplicada.

Outra das apostas do Google é a “formação e desenvolvimento das competências de jornalistas e das redacções na Europa”. Nesse sentido, vão ser criadas equipas em Paris, Hamburgo e Londres para “trabalharem com redacções nas competências digitais”. A formação irá ser feita com o apoio de organizações como o European Journalism Centre, WAN-IFRA, GEN, o Center for Investigative Reporting e a Hacks/Hackers, uma organização que junta jornalistas e especialistas em tecnologia.

No âmbito da iniciativa DNI, vão ainda ser criadas bolsas para investigação na área do jornalismo digital e elaborado um relatório pelo Reuters Institute Digital sobre o consumo de notícias e o comportamento dos utilizadores em 20 países europeus.

O director-executivo da International News Media Association acredita que a DNI irá “ajudar a acelerar” a formação e o desenvolvimento do digital. “Acelerar as competências digitais quer ao nível da gestão, quer dos colaboradores do ecossistema da indústria de notícias, é crucial para a transformação do negócio das marcas de notícias”, defende Earl J. Wilkinson.

Wilfried Ruetten, director do European Journalism Centre, considera que o investimento que irá ser feito na “formação e no desenvolvimento de novas ferramentas e técnicas” é “muito bem-vindo”, “particularmente quando vem de uma das maiores forças impulsionadoras da Internet tal como a conhecemos hoje em dia”.

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