Sem apoio, as pessoas pedem ajuda nas aldeias arrasadas do Nepal

Chegaram dezenas de equipas de resgate, mas há ainda uma grande escassez de recursos e falta de pessoal médico. Número de mortos ultrapassa os 4000.

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Muitas pessoas passaram a noite de chuva de domingo no exterior. Desalojadas ou com receio de sequelas, muitas não tinham tenda.
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Muitas pessoas passaram a noite de chuva de domingo no exterior. Desalojadas ou com receio de sequelas, muitas não tinham tenda Prakash Mathema/AFP
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À entrada para o terceiro dia de réplicas do sismo que devastou o Nepal no sábado, as equipas de resgate e busca ainda não tinham chegado a muitas das localidades rurais mais próximas do epicentro. Com a chegada de dezenas de equipas em missão internacional, as operações produziram mais avanços nas zonas rurais nesta segunda-feira do que ao longo de todo o fim-de-semana, mas há apelos desesperados vindos das aldeias montanhosas e isoladas da região de Gorkha, entre a capital Katmandu e a segunda cidade do Nepal, Pokhara.

As primeiras notícias que surgiram dos locais mais próximos do epicentro, ao início da tarde de segunda-feira, diziam que o número de mortos não era tão alto como se esperava inicialmente. Mas confirmaram o que já se esperava: a esmagadora maioria das habitações ficou completamente destruída pelo abalo de 7,8 pontos na escala de Richter.

“Não temos abrigos, nem comida e todos os corpos estão espalhados”, disse Parbati Dhakal ao The New York Times a partir de uma aldeia de Gorkha, à qual ainda não tinha chegado nenhuma equipa de salvação. “As coisas estão muito más neste distrito”, disse um alto-responsável da região à Associated Press. “Tive notícias de aldeias em que 70% das casas ficaram destruídas”, acrescentou.

Ainda com várias localidades por alcançar, as autoridades foram aumentando a passo rápido o número de vítimas ao longo do dia. Ao início da tarde contavam-se já mais de 4000 mortos e sete mil feridos. Pela primeira vez falou-se de um número de desalojados que se poderá aproximar das 100 mil pessoas. E, também pela primeira vez, há estimativas para aquele que pode ser o número total de mortos no país: 5000, segundo um responsável nepalês à Reuters; 15 mil de acordo com uma fonte de uma organização humanitária ao diário britânico The Guardian

A maior parte da população nepalesa vive em zonas rurais. Apenas 17% moram em localidades urbanas. Mas é nestas últimas, especialmente no populoso distrito do vale de Katmandu, nos arredores da capital, que se descobre a maior parte dos mortos e que se torna mais evidente a impotência nepalesa face à escala do desastre.

É preciso mais ajuda
O Governo do Nepal disse repetidamente que a ajuda era urgente, mas só nesta segunda-feira é que o apoio internacional começou a surgir em maior volume. Aterraram no aeroporto de Katmandu dezenas de elementos de equipas de emergência, toneladas de alimentos, água potável e medicamentos, mas há ainda escassez de recursos.

A ajuda tem chegado sobretudo da Índia, que já enviou para o país centenas de socorristas, mas também em larga medida da China, Paquistão e Israel – na segunda-feira, continuavam desaparecidos cem dos cerca de 600 israelitas que estavam no Nepal quando ocorreu o sismo. Alguns países vizinhos, como o Sri Lanka e o Butão, também estão a enviar apoio, assim como os grandes blocos ocidentais e países do Pacífico. Da Europa partiram duas equipas de resgate, da França e da Alemanha.

Para além do apoio internacional, o Exército do Nepal está quase todo a trabalhar nos esforços de busca e resgate – 90% dos cem mil efectivos, segundo disse o porta-voz dos militares à Associated Press.

No entanto, há ainda muitas queixas de falta de apoio e cuidados médicos – mesmo no vale de Katmandu, a área onde se concentraram as operações de resgate nos últimos dias. “Tornámo-nos refugiados”, disse à Reuters Sarga Dhaoubadel, acompanhada da família e de centenas de outros nepaleses, no acampamento que foi improvisado no pátio da escola de Bhaktapur. E explicou: “Ninguém do Governo nos veio oferecer sequer um copo de água. Ninguém veio sequer ver como é que estávamos de saúde. Estamos totalmente sozinhos aqui.”

A ajuda não chega para colmatar a escassez de recursos. Falta água potável, comida e não há electricidade. As autoridades começam também a alertar para o crescimento de doenças infecciosas: a Unicef estima que perto de um milhão de crianças tenham sido afectadas e diz que um dos principais riscos para a saúde pública está na água imprópria para consumo. No domingo, a diarreia já se alastrara pela capital, de acordo com a ONU.

O foco de maior preocupação continua a ser a falta de cuidados médicos. O Nepal precisa de mais de 1000 camas hospitalares para dar resposta ao grande número de feridos e de mais pessoal médico. Nas contas que antecederam o terramoto, o país tinha apenas 2,1 médicos e 50 camas hospitalares para cada dez mil habitantes.

Êxodo de Katmandu
Katmandu continua a sofrer réplicas. Apesar de terem perdido intensidade desde domingo, as réplicas do grande abalo ainda representam perigo para os edifícios periclitantes, despertam o pânico entre os sobreviventes e impedem o avanço mais rápido das operações de resgate. As sequelas provocaram também um êxodo de milhares de nepaleses que encheram nesta segunda-feira as estradas de saída da capital.

A Reuters fala de um cenário de desespero: “As estradas que saem de Katmandu estavam bloqueadas de gente, algumas pessoas com bebés nos seus braços, tentando trepar para cima de autocarros ou conseguir uma boleia em carros e camiões que partem para a planície.”

Desde o grande abalo de sábado registaram-se mais 65 sequelas com uma magnitude de cinco ou mais pontos na escala de Richter. Os habitantes com receio de voltarem a casa e os desalojados ficaram no exterior, expostos a aguaceiros que só pararam na manhã desta segunda-feira. Espera-os pelo menos um terceiro dia fora de casa.

Algumas famílias não conseguiram uma tenda. Mesmo para os que engrossaram as pequenas cidades de telhados de tecido que foram surgindo na capital, a noite foi difícil. “Não temos alternativa, a nossa casa é instável”, disse à AFP Rabi Shrestha, que acampava numa tenda encharcada. “A chuva está a infiltrar-se, mas o que é que podemos fazer?” 

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