Assolado por réplicas, o Nepal está inundado de feridos e de cadáveres

Já se contaram 2500 mortos e pelo menos 5000 pessoas feridas. As réplicas continuam a assolar o país, os hospitais estão perto do colapso e não há espaço para tantos cadáveres.

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Uma rapariga monta uma tenda em Katmandu para abrigar a sua família Adnan Abidi/REUTERS
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Estrada destruída nos arredores de Katmandu PRAKASH SINGH/AFP
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Crematórios ao ar livre em Katmandu, onde as pessoas queimam os cadáveres dos seus familiares mortos no sismo PRAKASH MATHEMA/AFP
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Sri Lanka enviou equipas e bens para apoiar as primeiras necessidades da população afectada AFP PHOTO/Chandan KHANNA
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China, também afectada pelo abalo, já enviou ajuda AFP PHOTO/Chandan KHANNA
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Pelo menos 17 pessoas morreram após avalanche no Evereste, 15 feridos já chegaram a Katmandu AFP PHOTO/ROBERTO SCHMIDT
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Sri Lanka enviou equipas e bens para apoiar as primeiras necessidades da população afectada AFP PHOTO/ISHARA S. KODIKARA
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Exército ajuda a população a procurar sobreviventes REUTERSNavesh Chitrakar
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Depois do sismo, continuam as réplicas de grande intensidade REUTERSNavesh Chitrakar
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Construções pouco resilientes desmoronaram com o terramoto REUTERSNavesh Chitrakar
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O abalo provocou também avalanches no Monte Evereste Roberto SCHMIDT/AFP
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PRAKASH MATHEMA/AFP

O Nepal continuou neste domingo a sofrer impactos sísmicos em várias zonas, réplicas do grande abalo de magnitude 7,8 de sábado que alarmaram novamente a população e complicaram ainda mais os difíceis processos de resgate. Um novo sismo de 6,7 pontos na escala de Richter atingiu o país. Foi a maior réplica até ao momento, embora já se tenham contado mais de 40 acima de 4 de magnitude na escala de Richter. A meio da tarde de domingo, contavam-se pelo 2500 mortos e mais de 5000 feridos. Isto sem que as equipas de salvamento tivessem atingido as zonas mais rurais.

A grande réplica deste domingo propagou-se, tal como o fizera o sismo de sábado, à vasta cordilheira dos Himalaias. O novo sismo provocou outra vez avalanches na montanha do Evereste, o que interrompeu as operações de resgate dos montanhistas feridos no sábado. Na montanha mais alta do mundo mantém-se o número de 18 mortos causados pela avalanche de sábado e de cerca de 60 feridos.

O Nepal, por si só, é incapaz de dar resposta à catástrofe. Há relatos de violência nas ruas do Vale de Katmandu, que estão a abarrotar de gente, segundo o testemunho de um habitante ao New York Times. As operações de resgate centraram-se nesta área, a mais populosa do país e onde morreram mais de 700 pessoas.

Mas, um dia depois do principal abalo, havia ainda várias zonas às quais não chegara ainda apoio humanitário, muitas nas imediações do epicentro, a 80 quilómetros da capital. Apenas 17% da população no Nepal vive em centros urbanos e estima-se que à volta de 80% das frágeis construções rurais tenham desabado. “Estamos extremamente preocupados com o destino das comunidades nas zonas rurais mais próximas do epicentro”, disse em comunicado Jagan Chapagain, o director da Federação Internacional da Cruz Vermelha.

Mesmo as operações no Vale de Katmandu aconteceram a uma velocidade relativamente lenta, por falta de apoio técnico e material pesado. São comuns as imagens de pessoas a utilizarem as próprias mãos para chegarem aos sobreviventes e corpos aprisionados nos destroços de edifícios. Os hospitais tratam a maior parte dos feridos nas ruas. Há o risco de que as réplicas do tremor de terra afectem os edifícios de apoio médico, mas há também um grave problema de falta de espaço. Hospitais privados e públicos já não têm lugar onde depositarem os corpos das vítimas.

A Reuters visitou o edifício do hospital universitário de Tribhuvan e descreveu o panorama. “Os corpos estão empilhados numa sala escura, alguns cobertos com tecido, outros não. Um rapaz que teria à volta de sete anos perdeu metade da cara e tinha a barriga inchada como uma bola de futebol. O fedor de morte era esmagador”. Neste domingo, a agência internacional de notícias da Ásia publicou fotografias de piras utilizadas para cremações em massa de vítimas.

Algum apoio humanitário já chegou ao país, sobretudo vindo dos países vizinhos. Principalmente da Índia, onde morreram pelo menos 50 pessoas no sábado. Enviou para o Nepal material médico e pelo menos três centenas de membros das suas equipas de salvamento. Chegou ajuda também da vizinha China, que contribuiu com uma equipa de emergência médica de 60 pessoas, e do Paquistão, além do auxílio de organizações de apoio humanitário.

Mas, ainda assim, muitos dos apoios e mantimentos prometidos ainda não chegaram e os relatos que surgem dos trabalhadores humanitários no terreno apontam todos para o mesmo: falta material médico. “Para esta nova vaga de pacientes provavelmente não haverá medicação suficiente para chegar ao final do dia”, disse neste domingo à Reuters Rashila Amatya, responsável pelo hospital do distrito de Dhading, a leste de Katmandu.  

Chuva, frio e relento

As réplicas continuam a fustigar o Nepal e não é possível antecipar o seu fim ou a sua magnitude. “Não há maneira de prever a intensidade das réplicas, por isso as pessoas vão ter de estar alerta durante os próximos dias”, disse o responsável do instituto climático da Índia. Por essa razão, a população do Nepal preparava-se para um segundo dia ao relento, no exterior dos edifícios frágeis e geralmente construídos sem respeito pelas regras de segurança.

Com falta de cuidados médicos e milhares de pessoas a acamparem a céu aberto, as condições meteorológicas representam um sério problema para os sobreviventes. As temperaturas devem cair para os 14 graus Celsius durante a noite e prevêem-se fortes aguaceiros e trovoadas em várias partes do país. Helicópteros de salvamento enviados pela Índia já tiveram de interromper operações de resgate neste domingo por causa das difíceis condições meteorológicas.

As Nações Unidas começaram a alertar para o risco do alastramento de doenças no Nepal. Num relatório publicado no domingo, a organização diz que a diarreia já se tornou num problema generalizado no Vale de Katmandu. 

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