PSD defende "novos consensos"

“Temos de aprender com os nossos erros transformando-os numa sabedoria partilhada, capaz de servir de base para os novos consensos de que o país tão urgentemente necessita”, disse o deputado Fernando Negrão.

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“A União Europeia que tem a sua unidade comprometida no longo arco das políticas fragmentadas dos Estados", assumiu Assunção Esteves Miguel Manso

Foi o PSD quem defendeu a ideia do consenso, na cerimónia comemorativa do 25 de Abril, no Parlamento, como arma contra os erros que haviam empurrado o país para “três intervenções externas que obrigaram os portugueses a enormes provações”. “Temos de aprender com os nossos erros transformando-os numa sabedoria partilhada, capaz de servir de base para os novos consensos de que o país tão urgentemente necessita”, disse Fernando Negrão, já depois de deixar uma crítica implícita à Europa, que tinha “o dever de não se deixar fortificar”, lembrando as mortes de imigrantes no Mediterrâneo. Ainda assim, reconhecendo a “escolha natural” pela Europa depois do 25 de Abril.

Também Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, assumiu “inquietação” sobre a Europa. “A União Europeia que tem a sua unidade comprometida no longo arco das políticas fragmentadas dos Estados: o direito criminal sem uma política verdadeiramente comum. A quase ausência de uma política europeia externa e de segurança, com o risco de marginalização no cenário internacional”, afirmou.

Assunção Esteves referiu-se mesmo às políticas económicas e financeiras de Bruxelas, num tom crítico. “A convergência orçamental sem uma base mínima de regras sociais comuns, do emprego e da segurança social”, disse a Presidente, acrescentando “as políticas europeias de desenvolvimento e imigração, vistas a partir de Lampedusa, Ceuta ou Melila”. 

Em contrapartida, o socialista Miranda Calha marcou a diferença ao carregar também nas críticas à Europa ao mesmo tempo que lembrava o espaço atlântico na identidade nacional. “A Europa, aliás, não pode auto-bloquear-se ao mundo à sua volta, desde logo à imigração, para mais uma Europa onde séculos de emigrantes saíram para procurar vingar por todas as latitudes”. Falando no mar, o deputado defendeu que “é no Atlântico, no cruzamento entre a Europa, a África, a América do Norte e a América do Sul, que Portugal se reflecte e supera”.

Antes, o deputado constituinte focara na sua intervenção, a construção do regime desde as primeiras eleições livres, até à actualidade. “Vemos como o desemprego marca hoje gerações, feitas esquecimento e empurradas para a emigração ou para o silêncio e para a dependência. Vemos como a submissão a uma economia especulativa e sem qualquer vontade de mudar o mundo para melhor cria pobreza à sua volta”, afirmou.

O deputado assinalou os “falhanços sociais das políticas” que são “incensados como virtudes”. E foi crítico do depauperamento de “um património que deveria estar acima da gestão circunstancial da coisa pública”, referindo-se à ideia de “Estado”, “soberania nacional” e “desígnios futuros”. Uma dessas ideias é a presença de Portugal no Mundo. 

Pelo CDS-PP, Michael Seufert aproveitou os 41 anos do 25 de Abril para tentar cunhar uma nova senha à direita. Aos que acusavam a direita de trair Abril considerou “legitimo” perguntar-lhes: “Onde é que tu estavas quando Portugal foi conduzido à bancarrota?”

E seguiu na mesma linha. Depois de agradecer o “legado da democracia”, falou noutra “herança que bem dispensaria. A herança da dívida pública”. Que levou o deputado do CDS a desafiar os que se queixavam da troika e reclamavam “contra a austeridade” a responder com uma pergunta: “Não devia ter sido para isso que se fez o 25 de Abril.”

Questionou até a “abrangência” da Constituição de 1976, apesar das suas “muitas virtudes”. Incapaz de garantir o “direito” de “uma geração tomar democraticamente as rédeas do país sem ter de estar limitada pelas despesas, dívidas e projectos do passado e com isso impedida também de ser inteiramente dona do seu destino”.

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