Projecto de estudantes de medicina leva a saúde à porta de 26 idosos de Lisboa

Todas as semanas, moradores da Estrela e de Campo de Ourique recebem nas suas casas futuros médicos, que acompanham o seu estado de saúde e se necessário fazem o encaminhamento para consultas de especialidade.

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Serviços disponibilizados pelas plataformas ainda se concentram nos grandes centros urbanos Foto: Fábio Teixeira

Por enquanto são 26 os idosos das freguesias da Estrela e de Campo de Ourique que beneficiam do Saúde Porta a Porta, mas a ambição da Câmara de Lisboa é alargá-lo a outras zonas da cidade. Da iniciativa da Faculdade de Ciências Médicas de Universidade Nova de Lisboa, este programa de voluntariado pretende “colmatar”, junto dos mais carenciados, “as lacunas existentes no acesso aos cuidados mais básicos de saúde”.

Desde o passado mês de Janeiro, dois estudantes de medicina visitam semanalmente um munícipe que tenha sido referenciado para este programa. Na sua casa, realizam um conjunto de procedimentos, entre os quais registo do peso, auscultação cardíaca e pulmonar, medição da pressão arterial e do nível de glicémia e pesquisa de edemas. Aos voluntários compete ainda “averiguar e sinalizar eventuais necessidades de apoio social” e, quando se justificar, fazer o encaminhamento para consultas de especialidade.

O presidente da Junta de Freguesia da Estrela sublinha as muitas vantagens deste programa, que permite que idosos que até aqui “não tinham acesso a serviços e cuidados médicos” passem “a ter acompanhamento desse ponto de vista”. Luís Newton não hesita em dizer que o Saúde Porta a Porta “já está a salvar vidas”, na medida em que permitiu que fossem “devidamente sinalizadas” situações “complexas”, que de outra forma teriam passado despercebidas.

Na freguesia da Estrela são 17 os idosos que neste momento beneficiam do programa, mas já há outros 14 à espera de uma oportunidade para o integrarem. A escolha dos potenciais beneficiários é feita pela junta, com o envolvimento da comissão social da freguesia, que engloba a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e o Centro de Saúde da Lapa. Luís Newton explica que os idosos em causa apresentam uma “situação frágil” em termos sócio-económicos, pelo que a junta acaba por apoiar também a compra de medicamentos e de “ajudas técnicas”, como fraldas e muletas.

Muito positivo é também o balanço feito pela Junta de Freguesia de Campo de Ourique, que indicou nove idosos para serem acompanhados pelos estudantes de medicina. Como explica o presidente da junta, estão em causa pessoas “carenciadas, isoladas e com problemas de saúde”, que foram sinalizadas pelo posto de atendimento social da junta, pela Associação Crescer na Maior, pela SCML e pela Unidade de Saúde Familiar Santo Condestável.

Pedro Cegonho e os técnicos da freguesia envolvidos no Saúde Porta a Porta acreditam que este programa constitui um contributo para “diminuir o isolamento social”, através das visitas destinadas a fazer o acompanhamento do seu estado de saúde. O autarca destaca ainda a importância desta iniciativa para os estudantes que nela participam. “É uma mais-valia para a sua formação. Passam a ter conhecimento e atenção para as situações reais”, diz.        

“O feedback é bastante positivo”, observa por sua vez Beatriz Porteiro, da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas de Universidade Nova de Lisboa, explicitando que a satisfação com o programa é partilhada por voluntários, representantes das juntas de freguesia e idosos. Face a isso não é de estranhar que haja uma pergunta que, como conta a estudante, tem sido feita várias vezes: “Não têm mais voluntários?”.

Beatriz Porteiro destaca o papel que tem neste programa o Hospital CUF Infante Santo. Com médicos deste hospital, os estudantes realizam periodicamente “sessões clínicas”, através das quais se procura obter, como se lê no protocolo firmado entre os diferentes parceiros do Saúde Porta a Porta, “apoio técnico e científico (...), particularmente na conciliação terapêutica e aconselhamento médico”. Nos termos desse acordo, a instituição compromete-se ainda a “facultar o acesso gratuito a consultas de especialidade, de acordo com a disponibilidade do hospital, e em situações específicas de necessidade urgente”.

No próximo ano o objectivo da associação de estudantes é fazer crescer este projecto, envolvendo mais voluntários e estendendo-o a outras freguesias da cidade. Para que tal fosse possível, Beatriz Porteiro não esconde que seria importante conseguir patrocinadores para a compra do material médico de que os estudantes necessitam para fazer as suas visitas domiciliárias.

A ambição de fazer o Saúde Porta a Porta crescer é partilhada pela Câmara de Lisboa, que tem neste programa um papel de ligação com as juntas de freguesia e formação generalista dos voluntários. “É um projecto replicável noutras juntas, com outras escolas, com outros parceiros”, diz o vereador dos Direitos Sociais, João Afonso, sublinhando no entanto que isso “exige disponibilidade das pessoas, numa base de voluntariado”.

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