Nokia confirma interesse no grupo Alcatel-Lucent

Empresa finlandesa que dominou o mercado dos telemóveis durante anos está em negociações para adquirir o grupo franco-americano.

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Nokia vendeuo negócio de telemóveis à Microsoft Kacper Pempel/Reuters

A Nokia confirmou que está em “negociações avançadas” com a Alcatel-Lucent para comprar a multinacional franco-americana, uma operação que daria origem a uma das maiores empresas na área das infra-estruturas de telecomunicações.

Num comunicado divulgado esta terça-feira no seu site, a empresa finlandesa adianta que o negócio, se vier a acontecer, terá a forma de uma OPA (oferta pública de aquisição). Mas a esta altura “não há certezas de que as discussões terão como resultado qualquer acordo ou transacção”, sublinha. Não foram adiantados mais pormenores ou valores do negócio, nem as razões do interesse pela Alcatel-Lucent.

A Alcatel-Lucent é uma empresa de infra-estruturas de rede e telecomunicações com sede em França. Tal como a Nokia, já não está no negócio dos telemóveis, tendo vendido a participação que tinha na Alcatel OneTouch (que fabrica aparelhos de consumo, incluindo telemóveis e relógios inteligentes) à multinacional chinesa TCL Communication, que já tinha parte desta empresa. A Alcatel-Lucent é também dona dos icónicos Bell Labs, um centro de investigação nos EUA, por onde passaram vários cientistas galardoados com prémios Nobel.

A notícia do interesse da Nokia pela Alcatel surgiu na imprensa económica francesa e americana nesta segunda-feira, mas desde o ano passado que há especulações sobre uma possível venda das actividades móveis à empresa finlandesa. A Bloomberg referia nesta segunda-feira que a Nokia estava a tentar chegar a acordo com as autoridades francesas para manter postos de trabalho e centros de investigação e desenvolvimento (I&D) em França. A Alcatel emprega 53 mil pessoas e a Nokia 55 mil. “O Governo estará muito atento às possíveis consequências para o emprego e a actividade das unidades francesas da Alcatel-Lucent, que se destacam em I&D, assim como aos efeitos do negócio sobre o sector das telecomunicação em França", disse à AFP um porta-voz do Ministério da Economia francês.

A concretizar-se, a fusão dará origem a uma empresa com receitas conjuntas de 25,9 mil milhões de euros e mais de 100 mil trabalhadores, tornando-se numa das maiores no negócio de infra-estruturas de rede. A sueca Ericsson reportou uma facturação de 24,4 mil milhões de euros em 2014, ao passo que a chinesa Huawei registou, neste mercado, vendas de 23,6 mil milhões de euros.

A Nokia já teve uma parceria com a Siemens no mercado das infra-estruturas de rede, em que as duas multinacionais actuavam através da Nokia Siemens Networks. Em 2013, a Nokia (como parte da estratégia de saída do mercado de consumo) comprou a parte da Siemens. A Nokia Siemens Networks tornou-se uma subsidiária integralmente detida pela multinacional finlandesa e passou a chamar-se Nokia Newtworks.

A confirmação de que um negócio está a ser estudado foi bem recebida na Bolsa de Paris, onde a cotação da Alcatel subiu 16%. Contudo, em Helsínquia o mercado reagiu de forma negativa. Meia hora depois do comunicado, a Nokia perdia 6,44% em bolsa, terminando a sessão com uma quebra de 3,60%.

O gigante finlandês já fabricou borracha e televisores, mas decidiu, em 1992, dedicar-se ao chamado “quarto ecrã”. Depois de anos de sucesso, não conseguiu acompanhar a concorrência na era dos smartphones, nomeadamente da Samsung e da Apple, e vendeu, por cerca de 5,4 mil milhões de euros, o negócio dos telemóveis à Microsoft, numa operação que foi concluída em Abril de 2014. O principal negócio da Nokia passou então a ser o das infra-estruturas de comunicações, embora também tenha serviços de geolocalização, como mapas e GPS, e um negócio assente no licenciamento de propriedade intelectual. A Microsoft ainda tem à venda telemóveis da gama Lumia com a marca Nokia (a marca continua a ser propriedade da empresa finlandesa), mas os modelos mais recentes já foram postos à venda com a marca Microsoft.

História da Nokia: da produção de papel aos telemóveis

1865 – Fredrik Idestam constrói um moinho para fabricar papel nas margens dos rápidos Tammerkoski. Anos depois, constrói outro nas margens do rio Nokianvirta, que acabou por dar o nome à multinacional

1898 – Fundação da Finnish Rubber Works que, mais tarde, seria a unidade de negócio dedicada à borracha da Nokia

1912 – Fundação da Finnish Cable Works, o negócio da electrónica, que seria liderada em 1937 pelo campeão olímpico de luta Verner Weckman

1960 – A Cable Works começa a vender computadores e a fabricar televisões

1967– Fusão entre as três empresas (fábrica de papel, borracha e electrónica) para criar a Nokia Corporation

1981 – Começa a era dos telemóveis, com a construção da primeira rede telefónica

1987 – A Nokia lança o clássico Mobira Cityman, o primeiro telefone portátil

1992 – A Nokia deixa todos os outros negócios para se dedicar às telecomunicações

Abril 2014 – Depois de anos de sucesso, não acompanha a concorrência e vende a unidade de telemóveis à Microsoft por 5,4 mil milhões de euros. Passou a dedicar-se às áreas de redes e infra-estruturas. 

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