Segundo grande protesto contra Dilma traz menos pessoas às ruas

Manifestantes continuaram a chamar corruptos à Presidente do Brasil e o seu Partido dos Trabalhadores, na segunda grande marcha contra o Governo em menos de um mês.

Foto
Em Brasília, o protesto reuniu metade dos manifestantes de 15 de Março Wenderson Araújo / AFP

Passado quase um mês desde que mais de um milhão e meio de pessoas saíram à rua no Brasil para protestar contra Dilma Rousseff, a Presidente do Brasil enfrenta neste domingo mais um dia de contestação. Os protestos são semelhantes aos do dia 15 de Março mas, apesar de até ao final da tarde se terem contado milhares de manifestantes, a particpação ficou bastante aquém da registada na anterior marcha anti-governamental.

Até às 20h em Portugal, o maior protesto foi registado em Brasília, onde a Polícia Militar (PM) contou 25 mil manifestantes, praticamente metade dos 45 mil que as autoridades identificaram no mesmo local em Março. De acordo com o portal G1, da Rede Globo, que somou os números oficiais da Polícia Militar para as manifestações deste domingo, até ao final da tarde contaram-se 140 mil manifestantes. Citando um assessor não identificado do Governo de Dilma, o jornal O Globo avançava a meio da tarde que o executivo ficara “aliviado” com a queda dos números de manifestantes.

Mas ainda se esperavam os números oficiais para a manifestação em São Paulo, que foi o ponto fulcral dos protestos de há um mês. Só na Avenida Paulista, o instituto Datafolha contou 210 mil manifestantes em Março – uma avaliação que colidiu então com a estimativa oficial da Polícia Militar, que apontava para mais de um milhão de pessoas.

Tudo aponta, contudo, para que os protestos deste domingo tenham menos impacto do que os de Março. A fórmula foi a mesma: a convocatória foi organizada por vários grupos de cidadãos e tem como centro dos protestos o grande caso de corrupção na petrolífera do Estado, a Petrobras, que é associado a Dilma Rousseff e ao seu Partido dos Trabalhadores (PT). 

O clima que envolve a presidência de Dilma Rousseff mantém-se essencialmente o mesmo desde os protestos de dia 15. O Governo respondeu às manifestações de Março com um pacote de medidas anticorrupção, mas, apenas três dias depois dos protestos, a sua popularidade afundava para níveis históricos. O instituto de sondagens Datafolha anunciou então que 62% dos brasileiros estavam insatisfeitos com Dilma Rousseff – a pesquisa deste domingo apontou 60% –, valores muito próximos aos 68% que tinham a mesma opinião sobre Fernando Collor de Mello em 1992, quando este se demitiu do cargo de Presidente do Brasil no âmbito de um processo de corrupção que precipitou um processo de destituição.

Desde Março, as investigações sobre a gigantesca rede de corrupção na Petrobras avançaram e o cerco apertou-se ao tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Vaccari Neto, e a mais um ex-director da petrolífera, Renato Duque, nomeado para o cargo pelo PT. O Ministério Público formalizou as acusações de corrupção contra ambos e deteve pela segunda vez Renato Duque.

Apesar disto, Dilma Rousseff mantém-se relativamente distante dos desenvolvimentos do escândalo da Petrobras, conhecido no Brasil por Lava-Jato, o nome da investigação. Caso esta termine sem visar directamente Dilma Rousseff, o consenso é de que a figura jurídica do impeachment tenha uma aplicação muito difícil. No entanto, de acordo com os dados divulgados pelo Datafolha neste domingo, 63% dos brasileiros acreditam que a investigação da Lava-Jato já produziu resultados suficientes para que seja aberto um processo de destituição a Dilma Rousseff. Uma reivindicação que pode ser usada pelo Governo para desarmar o clima de contestação.

No rescaldo das manifestações de 15 de Março, uma das principais linhas de defesa do Governo de Dilma foi a de identificar nos protestos um clima de “golpismo”, nas palavras do secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto, surgido, de acordo com ele, do “impeachment infundado que atinge a democracia”. 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários