Os dias perdidos

As enxaquecas são dinossauros venenosos que estão – Deus queira – à beira da extinção.

Há um milhão de portugueses que têm enxaquecas. Felizmente que já ninguém as confunde com dores de cabeça, até porque as dores de cabeça podem às vezes ser piores e mais dolorosas do que algumas enxaquecas.

A minha mãe tem enxaquecas, que passou para mim e que eu passei para a minha filha Sara. As minhas enxaquecas eram horríveis (brilhos nos olhos, dor martelada atrás do olho esquerdo, vómitos, frio, ecos ensurdecedores), mas as piores foram dos 15 aos 55 anos. Foram só 40 anos de martírio.

A Sara, coitadinha, continua a sofrer a terrível herança. Também a Maria João, sem ser por minha culpa, tem enxaquecas tenebrosas. Tanto ela como a Sara são vítimas heróicas: mesmo quando levam com o tormento diabólico continuam a trabalhar.

A minha geração, tal como as anteriores, deita-se num quarto escuro à espera de vomitar e de adormecer, graças aos vários triptanos entretanto inventados.

A Maria João e a Sara são mais corajosas, mas sofrem mais por causa disso. Graças a Deus, temos no glorioso Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a sábia e curiosa neurologista e investigadora Isabel Pavão Martins que os sofredores de enxaquecas podem consultar por nada, com resultados imediatos que garantem uma qualidade de vida sem dores ou surpresas insuportáveis.

A dor não é o pagamento de uma dívida (de pecados ou de existir): é apenas um sinal que qualquer coisa não está bem. As enxaquecas são dinossauros venenosos que estão – Deus queira – à beira da extinção.

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