Corrida ao Novo Banco já deixou 12 candidatos pelo caminho

Popular, BBVA, Bank of China e BPI estão fora de jogo, e restam agora cinco interessados. Fernando Ulrich ainda não revelou se vai contestar a decisão do Banco de Portugal que afastou BPI por causa do preço.

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O Novo Banco surgiu em Agosto com a separação, pelo Banco de Portugal, do BES em duas entidades Miguel Manso

Depois de o BPI ter sido excluído pelo Banco de Portugal do processo de compra do Novo Banco, e do Popular, BPi e Bank of China terem ficado pelo caminho, mantêm-se na corrida cinco grupos estrangeiros: um espanhol, dois chineses e dois norte-americanos, sendo que apenas um desenvolve actividade bancária em Portugal. Até ao momento, desconhece-se se o grupo liderado por Fernando Ulrich tem intenção de contestar a decisão do BdP, que considerou o valor avançado pelo banco demasiado baixo. O processo começou com 17 interessados.

O espanhol Santander, os chineses Fosun e Anbang Insurance e os norte-americanos Apollo Global Mangement e Cerberus (este último avançado pelo Jornal de Negócios) integram o lote de finalistas que disputa o controlo do Novo Banco, a instituição que herdou os activos bons do BES, o que em 2014 revelou prejuízos superiores a 4000 milhões de euros.

Cinco grupos com lógicas distintas
Apenas o Santander, através de uma filial, o Santander Totta, desenvolve actividade em Portugal, e a sua participação na “privatização” do Novo Banco pode ter sido desencadeada ou pela presença inicial do BPI, o seu concorrente directo, que entretanto ficou pelo caminho, ou pela ambição de consolidação no mercado português.

Não é expectável que o Santander se mantenha na corrida a qualquer preço, até por, ao contrário dos restantes quatro grupos, estar cotado em bolsa e ter de responder perante os seus accionistas. Através do Santander Totta, a instituição espanhola é também a única com dinheiro em “jogo” no Fundo de Resolução que investiu e gere o Novo Banco.

Já o fundo de investimento Fosun adquiriu ao Estado português a seguradora da CGD, a Fidelidade, e comprou a área da saúde do Grupo Espírito Santo, enquanto a seguradora Anbang Insurance não está referenciada como tendo presença em Portugal. O “apetite” dos dois grupos chineses num banco já instalado no mercado, como é o Novo Banco, pode ser determinado pelo interesse em entrar no sector financeiro europeu. 

Dos investidores norte-americanos, só a Apollo opera em Portugal, tendo adquirido, por cerca de 40 milhões de euros, a  Tranquilidade, a seguradora da esfera do GES. Os dois fundos de private equity, Apollo e Cerberus, pela natureza da actividade que desenvolvem, podem estar disponíveis a pagar para depois retalhar o Novo Banco e valorizar o seu investimento.

BPI fora de jogo
A passagem à terceira fase da “privatização” do Novo Banco exige aos cinco grupos, caso se mantenham na corrida, que assumam um compromisso firme de compra avançando com uma proposta vinculativa. E só nesta etapa, que tem associado um risco, se pode avaliar o verdadeiro interesse de cada entidade. Admite-se que até 17 de Abril, o BdP comunique quais as instituições que vão estar na final do “concurso”.

O desfecho da venda do Novo Banco, ou seja o encaixe, vai ditar o balanço final do resgate ao BES. Se o comprador cobrir ou “tapar” os 4900 milhões injectados no Novo Banco pelo Estado e pelo Fundo de Resolução, e assim gerar um lucro ou eliminar um prejuízo, o governador do BdP Carlos Costa e a ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque podem afirmar que a polémica intervenção foi um êxito.

O Jornal de Negócios noticiou esta terça-feira que o BPI foi afastado do processo, por ter avançado com uma oferta de valor, não vinculativa, considerada insuficiente. Desconhece-se se Fernando Ulrich vai recorrer da decisão do BdP, pois fonte oficial do grupo bancário declinou fazer comentários e recordou que está sujeito a um compromisso de confidencialidade. 

Não é claro que tipo de influência terá a exclusão do BPI do lote de potenciais compradores do Novo Banco, no seu futuro, dado estar em curso uma OPA lançada pelo principal accionista, o espanhol CaixaBank (da mutua La Caixa), e uma proposta de fusão com o BCP, apresentada pelo segundo maior investidor, a Santoro de Isabel dos Santos. Sublinhe-se que Ulrich avançou com a oferta de compra de Novo Banco (não vinculativa) já depois do La Caixa e da Santoro se terem movimentado.

O afastamento do quarto maior banco português de uma consolidação com o Novo Banco tem pelo menos duas consequências: restringe as escolhas dos accionistas do BPI a duas opções, ou aceitam a OPA, o que torna o BPI uma mera filial do La Caixa, ou avançam para a fusão com o BCP e criam o maior banco português. Manter tudo na mesma (com o actual equilíbrio de forças) já não é uma possibilidade, pois o maior accionista reclamou um poder equivalente ao investimento que fez no banco (44% das acções), em confronto com a Santoro (cerca de 20%).

Mas o tema da desblindagem dos estatutos (que restringe os direitos de voto a 20% do capital) colocado em cima da mesa pela OPA do La Caixa vai continuar no centro do debate accionista no BPI. O La Caixa já tinha condicionado o apoio à oferta de compra do Novo Banco, na passagem à final, a poder votar com o investimento realizado no BPI. Uma tese que se vai manter na hipotética fusão com o BCP, que também tem os estatutos bloqueados.

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