Uma crisálida colorida para mostrar que a natureza vem sempre primeiro que a arquitectura

Projecto do pavilhão da Serpentine Gallery nos jardins de Kensington é assinado pela dupla espanhola José Selgas e Lucía Cano. Abre a 25 de Junho.

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O projecto de Selgas Cano já foi descrito como um "labirinto psicadélico" Cortesia: Selgas Cano/Serpentine Gallery
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À noite os jogos de luz e cor deverão ser ainda mais evidentes Cortesia: Selgas Cano/Serpentine Gallery

A dupla de arquitectos Selgas Cano é conhecida pelos seus edifícios orgânicos e transparentes que recorrem a materiais coloridos. Não é, por isso, de estranhar que o seu projecto para o pavilhão da Serpentine Gallery, nos jardins londrinos de Kensington, seja uma “crisálida” translúcida, de formas lúdicas, que procura misturar-se com a paisagem, convidando o visitante a entrar.

Foi em Dezembro que a galeria de arte britânica anunciou que os autores do seu pavilhão de Verão – que resulta de um programa de arquitectura que existe desde 2000 e que é como um prémio ou uma montra a que nem os Pritzker dizem não – seriam os espanhóis José Selgas e Lucía Cano, arquitectos que estabeleceram o seu atelier madrileno em 1998 e são hoje considerados, segundo o diário britânico The Guardian, nomes em ascensão na arquitectura europeia, embora ainda pouco conhecidos fora de Espanha.

O pavilhão proposto por Selgas Cano, que deverá ficar de pé de 25 de Junho a 18 de Outubro, é uma espécie de crisálida colorida construída em plástico e permite um diálogo permanente entre o interior e o exterior, marca habitual dos projectos destes arquitectos madrilenos.

“Mantendo a sua reputação de desenhos travessos e com um uso arrojado da cor, a estrutura de Selgas Cano será uma extraordinária proposta de crisálida, tão orgânica como os jardins circundantes”, disseram os directores da galeria, Julia Peyton-Jones e Hans Ulrich Obrist, citados pelo ArchDaily, um site especializado em arquitectura. “Mal podemos esperar para entrar e experimentar a luz difusa através dos painéis coloridos.”

O projecto anterior, do chileno Smiljan Radic, também propunha uma “comunhão” entre natureza e tecnologia. E também se assemelhava a um casulo, lembra o crítico de arquitectura e deseign do Guardian, Oliver Wainwright.

A dupla explica o projecto começando por dizer que o conceito se baseia numa relação directa entre desenho e natureza capaz de produzir um objecto que se mistura com a paisagem e que em momento algum funciona como um corpo estranho.

“Procurámos criar uma maneira de permitir ao público experimentar a arquitectura através de elementos simples: estrutura, luz, transparência, sombras, leveza, forma, sensibilidade, trocas, surpresa, cor e materiais. Desenhámos um pavilhão que incorpora tudo isto”, escreveram. Mas, para “experimentar” não basta olhá-lo de fora – é preciso entrar. “As qualidades espaciais do pavilhão só se apreendem quando se acede à estrutura, quando se está imerso nela. Cada entrada permite uma viagem específica pelo espaço caracterizado por cor, luz e formas irregulares com volumes surpreendentes.”

Tudo isto é criado por uma carapaça dupla feita de plásticos ETFE, especialmente resistentes à corrosão e a diferentes amplitudes térmicas, escuros e translúcidos, numa grande variedade de cores. No coração do pavilhão, como quase sempre nestas 15 edições, há um espaço de reunião e cafetaria.

Wainwright chama-lhe "labirinto psicadélico" e, embora estime que fará sucesso entre o público infantil, defende que só depois de construído se saberá se resulta ou não porque, como quase sempre neste programa da galeria londrina, "o diabo está nos pormenores".

Dois projectos em Londres
Almanaque de grandes arquitectos, laboratório de experiências com conceitos, formas, materiais e técnicas de construção, o pavilhão da Serpentine é destino obrigatório no Verão londrino.

Zaha Hadid inaugurou este programa da Serpentine há 15 anos e desde aí por lá já passaram Daniel Libeskind, Rem Koolhaas, Oscar Niemeyer, Herzog & de Meuron, Sou Fujimoto, Ai Weiwei ou os portugueses Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, que assinaram o pavilhão de 2005.

O de Selgas Cano, garante o diário espanhol El Mundo, deriva de trabalhos anteriores, como os centros de congressos nas regiões de Murcia e Cáceres e a Fábrica de Movimiento Juvenil de Mérida. Ao mesmo tempo, a dupla de arquitectos está a trabalhar noutro projecto na capital britânica. Second Home, assim se chama, é um conjunto de pequenos ateliers/escritórios para indústrias criativas no bairro tecnológico de Shoreditch. Os espanhóis desenharão os interiores.

Arriscamos dizer que, depois do Verão e da Serpentine, a carreira de José Selgas e Lucía Cano, que continuam a dizer que primeiro do que a arquitectura vem sempre a natureza, pode vir a conhecer novos episódios. Internacionais.

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