Especialistas criam site Dói-me as Costas para melhorar diagnóstico

Site com o apoio da Sociedade Portuguesa de Reumatologia em parceria com a Associação Nacional de Espondilite Anquilosante quer ajudar a distinguir a dor comum daquilo que pode já ser uma doença crónica. Dores mais intensas na segunda metade da noite, que duram há mais de três meses e que melhoram com o exercício são sinal de alerta.

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A espondilite anquilosante manifesta-se normalmente antes dos 45 anos e quando não tratada compromete a qualidade de vida Paulo Ricca

As dores de costas são comuns entre novos e velhos, homens e mulheres. É um sintoma que tem vindo a crescer de mãos dadas com o sedentarismo e a obesidade. Mas nem sempre este mal-estar é igual de pessoa para pessoa e há alguns sinais que o devem retirar da banalidade. O site Dói-me as Costas pretende precisamente ajudar a distinguir quando é que se pode estar perante algo de mais sério, como uma espondilite anquilosante – e ajuda a trocar por miúdos o nome desta doença inflamatória. “Nem todas as dores nas costas são comuns e transitórias. Algumas podem corresponder a doenças crónicas que merecem uma atenção particular”, avisa o reumatologista Fernando Pimentel, em declarações ao PÚBLICO.

Para o especialista do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental – Hospital de Egas Moniz um dos principais sinais de alerta está na persistência da dor. “Quando as dores duram há mais de três meses e surgem antes dos 45 anos de idade merecem uma especial atenção. As dores banais nas costas são dores que se agravam quando as pessoas fazem movimentos e que aliviam quando a pessoa pára a realização desses movimentos. Quando as dores têm o ritmo oposto, quando se agravam quando as pessoas param e melhoram quando há actividade, é um sinal de alerta”, explica o também professor da Nova Medical School, reforçando que quando se está perante a espondilite anquilosante os doentes costumam também acordar mais na segunda metade da noite e sentir rigidez muscular pela manhã. Estima-se que possam existir em Portugal 50 mil pessoas com a doença.

O Dói-me as Costas (doimeascostas.pt) é uma iniciativa da farmacêutica MSD, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Reumatologia e da Associação Nacional de Espondilite Anquilosante. O site foi reformulado nesta semana para dar respostas mais interactivas aos visitantes. De perguntas mais frequentes a descrições sobre as dores nas costas, as doenças e sintomas, até a um questionário que os doentes podem imprimir para mostrar ao médico, são várias as formas de comunicar as patologias que passam muitas vezes despercebidas. Entre os primeiros sintomas e o diagnóstico chegam a passar cinco a dez anos, ilustra Fernando Pimentel, que reforça que o público em geral pode encontrar também informação simples no site da sociedade e da associação de doentes.

“O principal problema para o atraso no diagnóstico é que, como é um sintoma comum, apesar de as pessoas terem muito acesso a informação, acabam por estar sempre à espera que passe e só quando compromete o dia-a-dia é que se lembram de consultar um médico”, sublinha o reumatologista. “Quando as pessoas acordam e a rigidez dura mais de meia hora isso é um terceiro aspecto que diferencia estas dores da lombalgia comum”, reforça o médico, que admite que também existem alguns atrasos na referenciação entre os médicos de medicina geral e familiar e os reumatologistas.

Em relação ao diagnóstico, Fernando Pimentel garante que agora é mais fidedigno, uma vez que se alargaram os critérios. Antes era tomada em consideração “uma radiografia da bacia com evidência de inflamação entre o osso sacro e o ilíaco, que é um sinal muito tardio da evolução da doença”. Agora os especialistas contam também com a ressonância magnética e com uma análise ao marcador genético HLA-B27, já que o diagnóstico precoce permite um melhor controlo. O médico explica que esta alteração está presente sobretudo na população caucasiana, mas apenas em 8% a 9% das pessoas. Dentro destas, apenas 5% das pessoas sem historial na família evoluem para as chamadas espondiloartrites. Nas pessoas com casos próximos o valor passa para 20% “mas não há uma hereditariedade directa”.

Os tratamentos começam com anti-inflamatórios não esteróides e, quando estes não resultam ou a doença é mais avançada, há também a hipótese de recorrer aos chamados imunomoduladores e aos biológicos, com Fernando Pimentel a salientar que têm chegado ao mercado cada vez mais alternativas promissoras para assegurar a qualidade de vida dos doentes e reduzir o absentismo. “Pode ter-se uma vida muito próxima da que teria uma pessoa saudável e voltar a dormir melhor”, garante, dando como exemplo uma corrida que terá lugar em Maio no âmbito de um simpósio da Sociedade Portuguesa de Reumatologia e que conta com a participação dos doentes.

De acordo com um estudo publicado na revista Lancet em 2007, as dores nas costas afectam 632 milhões de pessoas em todo o mundo. O valor subiu cerca de 45% nos últimos 20 anos. Estima-se que mais de 80% das pessoas tenham em algum momento da vida dores relacionadas com a coluna vertebral. Aliás, segundo a Organização Mundial de Saúde as dores nas costas são uma das principais causas de consultas médicas. Em relação a Portugal, um estudo realizado no ano passado no âmbito de uma campanha intitulada Olhe pelas Suas Costas indicava que mais de 28% dos inquiridos sentiam que a vida profissional tinha sido prejudicada por este sintoma.

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