Cinco detidos no Quénia depois de massacre na universidade

Três dos detidos tentavam fugir para a Somália e os outros foram encontrados em Garissa. Ataque fez 148 mortos. Milícia promete continuar uma “longa e terrível guerra” contra o Quénia.

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Soldado guarda entrada da Universidade de Garissa Carl de Souza / AFP

O Governo do Quénia anunciou ter detido cinco suspeitos de terem ligações ao ataque executado pela Al-Shabab na Universidade de Garissa, no Quénia, em que foram mortas 148 pessoas. Oferece ainda uma recompensa de 200 mil euros por Mohamed Mohamud, o ex-professor suspeito de ser "o cérebro" da operação.

Três dos suspeitos foram interceptados quando tentavam atravessar a fronteira para a Somália, a 100 quilómetros de Garissa, e dois foram encontrados na sexta-feira ainda nas instalações da universidade. Um deles foi identificado como Rashid Charles Mberesero, um cidadão da Tanzânia que “estava na posse de granadas”. O outro é Osman Ali Dagane, um queniano de etnia somali, que a polícia suspeita de ter “facilitado” a entrada do comando armado. Os restantes foram também identificados como quenianos de etnia somali.

Foi na madrugada de quinta-feira que um grupo armado com explosivos, granadas e metralhadoras entrou no campus da Universidade de Garissa. Os atacantes começaram a interrogar os estudantes acerca da sua religião, executando os cristãos que encontrassem. Durante a operação de resgate dos 587 estudantes que se encontravam nas instalações da universidade, foram abatidos quatro dos autores do ataque.

Receia-se que o número de mortos ainda possa aumentar. Pelo menos 79 pessoas ficaram feridas, muitas com gravidade, e há ainda um número indefinido de desaparecidos, escreve a Reuters.

Em pleno luto nacional, o Quénia debate agora como foi possível que este ataque tenha sido executado tão facilmente. A imprensa local revelou que havia informações de que podia acontecer um atentado do género numa instituição de ensino superior.

No entanto, havia apenas dois guardas a proteger o campus de Garissa, e a população questiona porque não foi reforçado o dispositivo de segurança. “É por causa da permissividade do Governo que estas coisas estão a suceder. É inaceitável que isto aconteça quando há estes rumores [sobre possíveis ataques]”, disse o empresário Mohamed Salat, citado pela BBC. Os próprios estudantes terão alertado as autoridades para possíveis ataques à universidade e algumas testemunhas disseram que os autores do atentado pareciam conhecer bem o local.

Mohamed Mohamud, o suspeito de ter liderado o comando da Al-Shabab, passou a infância na cidade e chegou a dirigir uma escola corânica na cidade, antes de se ter radicalizado, diz a AFP.

O Presidente queniano, Uhuru Kenyatta, garantiu que a polícia irá acelerar a formação de dez mil novos recrutas à luz deste ataque. O Quénia “sofreu desnecessariamente” por causa da falta de forças de segurança, lamentou Kenyatta.

O incidente está também a reavivar o debate sobreda enorme população de refugiados somalis no Quénia. Um deputado da oposição, Aden Duale, pediu a deportação dos refugiados que moram em Dadaab — que, com mais de 500 mil habitantes, é o maior campo de refugiados do planeta. Este apelo também foi ouvido em 2013,  após o ataque ao Centro Comercial de Westgate, em Nairobi, em que morreram 67 pessoas, também da autoria do grupo sedeado na Somália.

A relação entre a população de refugiados somalis e os naturais do Quénia sempre foi problemática. Várias ONG têm denunciado abusos policiais e expulsões forçadas por parte das autoridades. No final de 2013, os Governos dos dois países vizinhos assinaram um acordo mediado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que prevê o regresso voluntário dos somalis que queiram voltar ao seu país. No entanto, a contínua instabilidade na Somália coloca em dúvida a vontade dos refugiados em abandonar o país de acolhimento, embora no Quénia os ataques da Al-Shabab provoquem incriminações que se estendem a toda a comunidade somali.

A milícia islamista Al-Shabab, com ligações à Al-Qaeda, prometeu, entretanto, continuar uma “longa e terrível guerra” contra o Quénia. O país foi escolhido como alvo por participar na missão da União Africana na Somália que combate o grupo extremista. 

O grupo ameaça novos ataques, dizendo que vai encher as cidades quenianas de "vermelho de sangue", numa mensagem revelada este sábado. "Nenhumas medidas de precaução ou segurança serão suficientes para garantir a vossa segurança, frustrar outro ataque ou impedir que outro banho de sangue ocorra nas vossas cidades", garantiu o grupo, num comunicado citado pela Reuters.

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