Cahiers du Cinéma prepara número especial sobre Oliveira para Maio

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Claquete do fime A Carta Enric Vives-Rubio

A revista francesa Cahiers du Cinéma está actualmente a preparar uma homenagem a Manoel de Oliveira para sair na edição de 9 de Maio, disse à Lusa o chefe de redacção da revista Stéphane Delorme.

“Estamos a preparar a nossa homenagem a Manoel de Oliveira. Vamos publicar provavelmente uma entrevista inédita com ele, vamos escrever sobre a sua obra e dedicar-lhe 25 a 30 páginas no próximo número. É importante para nós”, afirmou Stéphane Delorme, precisando que a edição de Maio vai coincidir com o Festival de Cannes.

Em entrevista à Lusa por telefone, o jornalista lembrou que a revista Cahiers du Cinéma tem uma grande ligação com o cineasta português e que o fundador da revista, André Bazin, “encontrou Manoel de Oliveira em 1956, 57 e publicou um artigo em 57”.

“Foi muito cedo. Oliveira não era de todo conhecido em Portugal. André Bazin foi ao Porto, encontrou-se com Oliveira, viu o documentário sobre o Douro e O Pintor e A Cidade. Eles simpatizaram e passearam juntos. Por isso, logo a partir de 1957 há um ponto de ligação entre a França e Oliveira através da Cahiers du Cinéma”, precisou Stéphane Delorme.

O chefe de redacção da revista mensal disse que a notícia da morte do cineasta português deixou “a redacção muito triste” até porque os jornalistas pensavam que a morte “nunca iria chegar porque ele continuava a filmar e parecia infinito”.

“Ficámos muito tristes e com a impressão de que caiu um monumento, ainda que nunca tenhamos tido a impressão de que ele fazia um cinema monumental. O cinema dele era elegante, irónico, inteligente. Ele evitava sempre o monumental mesmo quando fez uma obra-prima como Non ou A Vã Glória de Mandar, na qual não se sente o peso desta história de sucessos e de fracassos”, continuou.

Stéphane Delorme fez três entrevistas a Manoel de Oliveira, nas quais ficou com a impressão de uma pessoa “inteligente, bondosa e esquiva” que falava “imediatamente do Homem e da Vida”, um “verdadeiro cineasta - não apenas um realizador - com uma visão global do Homem e da História”, algo que “é raro nos realizadores de hoje em dia”.

“O percurso de Manoel de Oliveira é muito surpreendente desde o início até hoje. Ele trilhou um caminho próprio que é admirável e exemplar, mantendo uma liberdade relativamente a todos os movimentos. É um exemplo de liberdade e de visão superior”, declarou.

O chefe de redacção da Cahiers du Cinéma fez ainda questão de lembrar que a “grande ligação” do cineasta português com França ganhou um novo público de “jovens cinéfilos” e que o filme O Estranho Caso de Angélica (2010) era um dos temas de exame nos últimos dois anos para os finalistas do ensino secundário que escolheram a opção Cinema

“Houve um renovado interesse por Manoel de Oliveira com os filmes Singularidade de Uma Rapariga Loira e O Estranho Caso de Angélica que atraíram muitos jovens cinéfilos. É importante ressalvar que Oliveira tem um público de jovens e não apenas a elite cinéfila parisiense que o segue há muitos anos”, concluiu.

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