Presidente dos IPO assegura que tem sido possível “superar constrangimentos”

Francisco Ramos admite dificuldades sobretudo na contratação de recursos humanos mas garante que a "elevada qualidade dos cuidados" tem sido mantida.

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Francisco Ramos, que agora preside aos três IPO Daniel Rocha

O presidente do grupo hospitalar dos institutos portugueses de oncologia (IPO), que inclui as unidades de Lisboa, Coimbra e Porto, assegurou que apesar da crise que afectou o país nos últimos anos o tratamento do cancro tem mantido “elevados padrões assistenciais” e o sector conseguiu “superar constrangimentos”.

A posição de Francisco Ramos, emitida através de um comunicado, surgiu depois da audição de quarta-feira do presidente cessante da Sociedade Portuguesa de Oncologia na comissão parlamentar de saúde. Joaquim Abreu de Sousa reafirmou perante os deputados alguns alertas que tinha feito em Março. O oncologista defendeu que a área do cancro está “subfinanciada e suborçamentada”, assegurando que faltam camas, meios técnicos e meios humanos que fazem com que as instituições trabalhem “no limite da sua capacidade” e no “risco vermelho”.

O médico deu como exemplo um dado de 2014 do serviço de cirurgia que dirige no IPO do Porto: “Houve 266 doentes que chegaram um dia ao IPO para serem operados e não tiveram camas”. Avançou também com vários dados preocupantes e que colocam Portugal atrás da média europeia, Ao todo, surgem no país 50 mil novos casos de cancro todos os anos e as pessoas com menos de 35 anos têm uma probabilidade de vir a ter cancro de 24% e de 10% de morrer da doença. Além disso, Portugal gasta 53 euros per capita a tratar o cancro quando a União Europeia gasta mais do dobro e Abreu de Sousa indexa esta diferença aos também resultados distintos.

Francisco Ramos, em reacção às “notícias veiculadas e susceptíveis de criar alarmismo”, insiste que “Portugal continua a registar elevados padrões assistenciais no tratamento oncológico” e “não obstante os constrangimentos decorrentes do Memorando de Entendimento com os credores internacionais de Portugal, foi possível continuar a corresponder às necessidades da população nesta área prioritária da saúde”. O presidente do grupo hospitalar dos IPO dá como exemplo os “investimentos tecnológicos” e “melhorias significativas nas instalações” dos três IPO.

Ainda assim, o responsável admite que “as principais dificuldades encontram-se nas limitações de contratação de recursos humanos, actualmente comuns a todos os serviços públicos". "Contudo, o esforço e competência dos profissionais dedicados aos doentes oncológicos têm permitido superar esses constrangimentos e manter a prontidão e elevada qualidade dos cuidados”, acrescenta. Sobre o tema das contratações, Francisco Ramos reforça ainda que “existe confiança de que as restrições à contratação de pessoal possam ser aligeiradas num futuro próximo, sem que se assinale qualquer quebra no acesso e na qualidade das prestações de saúde em oncologia”.

Do lado da tutela, ainda em Março, aquando das primeiras declarações de Joaquim Abreu de Sousa, o ministro da Saúde não negou que os três IPO tenham falta de camas perante o aumento do número de casos oncológicos, mas garantiu que a tutela tem respondido aos pedidos das instituições e foram os próprios institutos a definir outras prioridades. Paulo Macedo garantiu também que o Ministério da Saúde tem aprovado os investimentos prioritários definidos pelos IPO, mas adiantou que as instituições têm antes solicitado aparelhos de radioterapia e renovação dos blocos operatórios.

Macedo referiu-se, em concreto, ao IPO de Lisboa, onde está a ser feito um investimento de mais de sete milhões de euros para agregar os laboratórios na antiga escola de enfermagem e libertar espaço para atendimento. “No IPO do Porto, as prioridades apresentadas foram a instalação do acelerador linear e a organização do ambulatório”, especificou. Sobre o mesmo tema, o secretário de Estado adjunto da Saúde, Fernando Leal da Costa, defendeu que parte do problema está no facto de os IPO continuarem a centralizar toda a actividade e afirmou que os doentes “podem ser desviados para outros hospitais onde há cirurgia oncológica”.

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