Casa do Infante no Porto inaugura “corredor complexo” sobre o Navegador

Centro interpretativo é inaugurado na próxima terça-feira, às 18h.

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A Casa do Infante teve 40 mil visitantes em 2014. Este ano, são esperados 100 mil MARIA JOÃO GALA

A Casa do Infante, no centro histórico do Porto, tem praticamente pronto um novo espaço destinado ao público, centrado na figura do Infante D. Henrique, nos Descobrimentos e na relação de ambos com a cidade. A inauguração do que o vereador da Cultura da Câmara do Porto, Paulo Cunha e Silva, designa de “corredor complexo” está agendada para a próxima terça-feira. É um centro interpretativo, com peças históricas à mistura e alguns “elementos de espanto contemporâneo”, que se quer tornar em mais um pólo de atractividade da cidade.

Há perguntas e respostas sobre a vida do Infante D. Henrique, apelidado de O Navegador, ao alcance dos ponteiros de um relógio. Há uma cópia gigante do primeiro Atlas do Brasil (o original, de 1612, está na Biblioteca Pública Municipal do Porto), que ganha vida quando se toca nos círculos vermelhos espalhados pelas páginas, fazendo aparecer informação sobre as diferentes capitanias estabelecidas naquele território.

Há um globo, associado a um ecrã táctil, que nos mostra a fauna e flora que os portugueses encontraram quando chegaram ao Brasil e à Índia. Há uma vitrina repleta de porcelana chinesa do século XVII e XVIII que escurece misteriosamente, deixando à vista apenas a peça que seleccionamos com um toque dos dedos, e a informação que a ela está associada.

O novo centro de interpretação da Casa do Infante é para visitantes “dos 8 aos 80 anos”, garante Paulo Cunha e Silva, e a exposição confirma-o. Porque há interactividade em cada canto, mas há também painéis apelativos, com informações em português e inglês, e peças antigas a povoar o local – como a esfera armilar do século XVI, em pedra, que estava depositada no Museu Nacional Soares dos Reis e agora está ali, já sem o pelourinho onde se acredita que teve a primeira morada.

O vereador da Cultura diz ter expectativas “muito grandes” para este espaço cuja concretização já estava definida no momento em que chegou à câmara, mas ao qual ainda foi capaz de introduzir um pequeno cunho pessoal. Para isso foram incluídas quatro instalações contemporâneas em vídeo, que Sofia Alves, directora do departamento municipal de Cultura, diz terem sido recebidas da melhor maneira. Só foi preciso encontrar um espaço para elas no projecto concretizado graças ao apoio mecenático da ADCLP – Associação para Divulgação da Cultura de Língua Portuguesa e de fundos comunitários.

Por isso, quem passear entre as informações históricas deste “corredor complexo” vai deparar-se com vídeos de Albuquerque Mendes, Pedro Tudela, João Onofre e Júlio Sarmento. Aos quatro foi pedido que evocassem a figura do Infante e todos realizaram obras centradas no mar. Cunha e Silva argumenta que, sendo o Infante uma figura algo misteriosa da história portuguesa, se pretendia uma “amplificação desse mistério, mas sem o estrangular”. Ele agora anda por ali, em ondas que parecem nascer no céu, ou noutras perpendiculares ao seu rumo normal, num mar que reage a quem o olha de frente ou atrás de um chapéu-de-sol vermelho, oscilando ao vento.

Se o Infante e os Descobrimentos têm um papel central no centro interpretativo, o mesmo acontece com a interligação de ambos com o Porto. “Este local reposiciona o Porto na sua ligação aos Descobrimentos e à expansão portuguesa, e reivindica a figura do Infante para a cidade. A cidade teve uma vocação muito grande na história da expansão portuguesa, que não lhe é simbolicamente atribuída.

Este trabalho permite-nos reforçar a importância do Porto na descoberta de novos mundos”, defende Paulo Cunha e Silva. Sofia Alves complementa as palavras do vereador, explicando que a relação da cidade com essa fase da história nacional está comprovada em diversos documentos que atestam, por exemplo, a preparação, nos estaleiros portuenses, da armada que partiria à conquista de Ceuta, ou na relação das naus que saíram do Porto para a Índia.

O vereador da Cultura defende que o centro histórico do Porto “precisa de mais conteúdos culturais, que discutam o próprio local e que introduzam algum espanto e perplexidade”. É também essa, diz, a função do novo núcleo da Casa do Infante, que nasce com o difícil objectivo de levar, já este ano, 100 mil visitantes ao local – foram 40 mil em 2013.

A inauguração é às 18h de terça-feira. Meia hora antes será inaugurada a 2.ª obra do roteiro de arte pública da cidade – uma obra de João Louro, da série “Highway Painels”, em torno da poesia e, sobretudo, da obra poética de Sophia de Mello Breyner.

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