Doentes esperam sete vezes mais por exames à apneia do sono no SNS

Doença respiratória afecta sobretudo homens adultos e está relacionada com a obesidade e a hipertensão. Estudo da Direcção-Geral da Saúde aponta para necessidade de melhor diagnóstico.

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As estimativas apontam para que a apneia afecte até um total de 10% da população adulta PÚBLICO

Os doentes com apneia obstrutiva do sono, uma doença respiratória que afecta sobretudo os homens acima dos 40 anos, esperam em média quase sete meses por um exame que confirme a patologia no Serviço Nacional de Saúde. Já os que acabam por recorrer ao sector privado conseguem ter uma resposta no período de um mês. O dado faz parte de um relatório publicado nesta quinta-feira pela Direcção-Geral da Saúde intitulado “Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono: epidemiologia, diagnóstico e tratamento”.

O documento do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias tem como base um estudo da Rede Médicos-Sentinela, que é constituída por um grupo de 117 médicos de família que trabalham nos centros de saúde e que recolhem voluntariamente dados sobre vários indicadores. Os dados reportados pelos médicos, que incluem doentes até 31 de Dezembro de 2013, apontam para a existência de 311 casos de apneia, com os doentes com uma idade média de quase 63 anos.

Os valores dos médicos sentinela, extrapolados para a população, correspondem a uma prevalência de apenas 0,67%, muito inferior ao que se sabe existir, pelo que os autores alertam tanto para problemas de registo como de diagnóstico. E insistem que o facto de os diagnósticos não serem feitos com maior rapidez pode trazer vários problemas aos doentes, já que a apneia pode ter “repercussões cardiovasculares”, além de “efeitos na morbilidade e mortalidade e também alterações neuropsicológicas que propiciam a ocorrência de acidentes laborais e de viação”. Em metade dos casos identificados os sintomas eram já graves.

Regra geral, outros estudos indicam que a apneia do sono afecta sobretudo os homens com mais de 40 anos e as estimativas apontam para que possa afectar até um total de 10% da população adulta. No geral, a proporção é de quase nove homens por cada mulher afectada. Uma diferença que se justifica por vários factores, como a forma como a gordura nos homens se distribui, concentrando-se mais no pescoço, maior comprimento da via respiratória e ausência de protecção hormonal através dos estrogénios.

Quanto a exames, o trabalho da Direcção-Geral da Saúde diz que a quase totalidade dos doentes com o diagnóstico de apneia realizou um estudo do sono. O exame mais comum foi a polissonografia, seguida da poligrafia do sono, ambas feitas em mais de 80% dos casos através do Serviço Nacional de Saúde. A polissonografia é o exame que se costuma realizar de forma mais frequente para confirmar a presença da doença, uma vez que permite perceber quando é que o doente tenta respirar e não consegue devido a uma obstrução.

Contudo, os autores destacam diferenças importantes no tempo de espera entre públicos e privados: “A média do tempo de espera em instituições públicas foi de 6,8 meses (mínimo de 0 meses e máximo de 36 meses). O tempo de espera para realização de estudo do sono em instituição privada foi de 1 mês, variando entre um mínimo de 0 meses e um máximo de 9 meses”. O estudo alerta que “embora os tempos de espera aconselhados rondem os 6 meses, salienta-se que em 29,1% dos casos estudados o tempo de espera foi superior ao recomendado (nalguns casos cerca de 3 anos)”.

“Tendo em conta que o diagnóstico e instituição precoce de tratamento previne a evolução da doença para formas mais graves, reduzindo, desse modo, a ocorrência das complicações cardiovasculares e neuropsicológicas, os resultados sugerem a vantagem em investir na melhoria da acessibilidade ao diagnóstico e, quando for caso disso, na redução de eventuais iniquidades em saúde”, acrescenta. Os dados permitiram também confirmar a associação entre a apneia do sono e outras características, como a obesidade que estava presente em quase 85% dos doentes. Além disso, 74,8% das pessoas tinham também hipertensão arterial e 38,7% diabetes.

O problema é que os doentes muitas vezes não percebem o que têm e são outros sintomas, como acordar muito cansado ou com dificuldades respiratórias, que lançam o alerta para a apneia, que se traduz em colapsos das vias aéreas superiores que se fazem sentir de forma intermitente durante o sono. Os afectados ficam com a respiração irregular e normalmente despertam várias vezes de noite.

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