Atentado põe em causa recuperação do turismo

País tentava recuperar um sector fundamental para a sua economia, no meio de uma quebra nos preços do petróleo e da crise em muitos países da União Europeia.

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Duas empresas de cruzeiros cancelaram as escalas em Tunes SOFIENE HAMDAOUI/AFP

Para além das pelo menos 23 vítimas mortais, o sangrento atentado de quarta-feira na capital da Tunísia já teve consequências no sector do turismo, um dos mais importantes para a economia do país. As empresas de cruzeiros italianas MSC e Costa anunciaram a suspensão das escalas dos seus navios em Tunes e várias outras empresas do sector anularam excursões na cidade.

No momento do ataque contra o Museu Bardo, cuja autoria foi reivindicada pelo autoproclamado Estado Islâmico, as duas empresas de cruzeiro tinham dois paquetes ancorados em Tunes, com mais de 3000 passageiros.

Dos 20 turistas mortos no ataque (para além de três tunisinos), nove tinham saído do paquete MSC Splendida, que entretanto partiu em direcção a Barcelona. Na tarde desta quinta-feira, a empresa adiantou que outros 12 dos seus passageiros tinham sido feridos e seis estavam desaparecidos.

A empresa Costa revelou que três das vítimas mortais figuravam na lista dos passageiros do paquete Costa Fascinosa, e que oito ficaram feridos e dois não tinham ainda sido encontrados. Este paquete saiu nesta quinta-feira em direcção a Palma de Maiorca.

Para contornar a passagem pela capital da Tunísia, os paquetes da MSC vão agora fazer escala em Malta, Palma de Maiorca e Cagliari, e os navios da Costa também vão evitar o país do Norte de África, apesar de ainda não serem conhecidas as novas paragens.

O atentado desta quarta-feira veio pôr em causa os esforços de crescimento do sector turístico na Tunísia, que sofreu um forte abalo na sequência da revolução de 2011 e da consequente queda do Presidente Ben Ali.

Num sinal da importância do turismo não só para a economia tunisina mas também para o sector a nível mundial, a Organização Mundial de Turismo veio condenar os "ataques horríveis" no Museu Bardo. "O turismo é crucial para a economia da Tunísia, e nós vamos fazer tudo para que continue a oferecer oportunidades de desenvolvimento ao seu povo", disse o secretário-geral da agência das Nações Unidas, o jordano Taleb Rifai.

"Este acto de violência deve ser condenado por toda a comunidade internacional. Como parte da família global de turismo, estamos chocados com estes ataques horríveis. Os familiares e amigos das vítimas estão nos nossos pensamentos, e mais uma vez expressamos a nossa solidariedade com as pessoas e o Governo da Tunísia", disse ainda o responsável.

O ataque de quarta-feira – que vem lançar também o espectro da violência jihadista sobre um país visto até agora como um pouco mais seguro do que os seus vizinhos na região – surge num momento particularmente difícil para a economia tunisina, que sofre também com a queda dos preços do petróleo e com as fracas prestações das economias europeias, principais destinos das suas exportações.

Os dados de consultoras internacionais indicam que o turismo representou mais de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) directo da Tunísia em 2013 – um valor que pode ter subido para 9% no ano passado. Se forem somados os impactos indirectos, como a criação de emprego associado ao turismo, a importância do sector no país poderá atingir os 15% do PIB.

Apesar das subidas dos últimos dois anos, o país estava ainda aquém da importância que assumia no panorama turístico internacional antes da revolução de 2011 – um ano antes, em 2010, a Tunísia conseguiu atrair sete milhões de turistas, e as autoridades apontavam para um máximo de 6,4 milhões até ao final deste ano.

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