Estado Islâmico expande-se para a África Ocidental ao aceitar a fidelidade do Boko Haram

O porta-voz do grupo jihadista pediu a todos os muçulmanos para se mobilizarem para a nova frente de guerra.

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O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, num dos vídeos do grupo AFP

Os radicais do Estado Islâmico (EI) aceitaram a filiação dos jihadistas nigerianos do Boko Haram, segundo uma mensagem áudio em que um porta-voz diz que o grupo se expandiu para a África Ocidental.

Foi na semana passada que o Boko Haram anunciou que jurava fidelidade ao EI (ou DAESH, o acrónimo pelo qual é conhecido no Médio Oriente). Numa mensagem destinada aos jihadistas que controlam vastos territórios da Síria e do Iraque, onde autoproclamaram um califado (o seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, é tratado por califa Ibrahim), os islamistas ultra-radicais nigerianos pediam para pertencer à organização.

Na gravação áudio da resposta, o porta-voz do EI, Mohammed al-Adnani, diz que o pedido foi aceite. “Temos para vos anunciar a boa nova da expansão do califado para a África Ocidental, pois o califado aceitou a fidelidade dos nossos irmãos sunitas na oração e na jihad.” O porta-voz pede, na mensagem, que os muçulmanos se juntem à luta na África Ocidental e sugere que, ao contrário do que os media ocidentais têm publicado, a coligação internacional que combate os jihadistas na Síria e no Iraque não tem tido qualquer sucesso.

O EI tem vindo a fazer alianças estratégicas com grupos jihadistas no Norte de África e na Península Arábica. No sábado, foi a vez do Boko Haram. “Anunciamos a nossa entrada no califado e juramos obedecer-lhe na dificuldade e na prosperidade. Pedimos a todos os muçulmanos que jurem fidelidade ao califado”, ouvia-se na gravação divulgada no sábado pelo grupo nigeriano.

Uns dias antes, o grupo extremista nigeriano divulgou na Internet uma gravação em que diz ter decapitado dois prisioneiros, replicando o comportamento do EI — a técnica de edição e estrutura de vídeo também eram, pela primeira vez, semelhantes às usadas pelo DAESH.


O Boko Haram (que significa “a educação ocidental é proibida”) iniciou em 2009 uma campanha militar para criar um estado islâmico na Nigéria. O conflito, que escalou no último ano, já ultrapassou as fonteiras nigerianas e envolve também países como o Chade, o Níger e os Camarões. Os jihadistas já controlam um vasto território no Nordeste da Nigéria e fazem incursões em zonas de fronteira nos países vizinhos.

Um dia depois de o Boko Haram ter formalizado a sua lealdade ao Estado Islâmico, o Níger e o Chade, que tinham anunciado a criação de uma força comum para combater os jihadistas e impedi-los de progredir nos seus territórios, lançaram a primeira grande ofensiva contra o grupo.

Alguns analistas consideram que a decisão de filiação no EI se deve em parte ao facto de o Boko Haram estar a perder terreno e a precisar de apoio militar e estratégico. O exército nigeriano e os aliados do Chade e dos Camarões fizeram progressos nas últimas semanas, recuperando território que os jihadistas tinham conquistado. No fim-de-semana, tropas nigerianas e chadianas reconquistaram Bosso e Diffa, no Níger, e já tinham reconquistado a cidade de Damasak, que caíra nas mãos dos jihadistas em Novembro.

O Governo da Nigéria anunciou esta semana ter reconquistado 36 povoações no Nordeste e que iniciou uma grande ofensiva em Adamawa, um dos três estados onde o Boko Haram está fortemente implantado. Estas conquistas não foram verificadas por fontes independentes, referem as agências noticiosas, mas a AFP cita Thomas Hansen, da empresa de consultadoria internacional de segurança Control Risks, que diz que as informações são “bastante credíveis”.

O Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, adiou as eleições presidenciais em que espera ser reeleito para 28 de Março e prometeu derrotar o Boko Haram até lá.

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