Morreu um dos linces libertados em Mértola e ninguém sabe ainda porquê

A fêmea Kayakweru foi encontrada morta nesta quinta-feira. ICNF diz que é normal.

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Três casais de linces-ibéricos foram libertados desde Dezembro na região de Mértola João Silva

Durou pouco, apenas duas semanas, a experiência do lince Kayakweru em liberdade perto de Mértola. Era um dos seis linces ibéricos reintroduzidos na natureza na região desde Dezembro, no âmbito de um projecto de recuperação desta espécie animal que desaparecera do país ao longo do século XX. Quatro já viviam completamente soltos e dois ainda aguardam a ordem de alforria, enquanto se adaptam à vida selvagem numa área cercada com cerca de dois hectares.

Kayakweru, uma fêmea, foi encontrada morta na manhã desta quinta-feira. Não tinha qualquer sinal que indicasse uma causa humana visível, como ter sido abatida a tiro ou colhida por um automóvel. “Não havia traumatismos, não havia sinal de atropelamento”, afirma Sofia Castelo Branco, vogal do conselho directivo do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

O animal foi necropsiado na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa mas, até às 18h desta sexta-feira, o ICNF ainda não tinha recebido os resultados. “Só as análises é que poderão indicar as causas de morte”, diz Sofia Castelo Branco. 

Foi o sistema de monitorização dos linces em Mértola que permitiu identificar que algo não estava bem com Kayakweru. Cada animal tem uma coleira electrónica no pescoço, que transmite a sua posição através de sinais de rádio e por um cartão de telemóvel. Além disso, há foto-armadilhas espalhadas numa zona alargada em torno do cercado onde os animais passam algumas semanas a adaptar-se e depois são soltos. 

Ao notarem que o lince não estava a mexer-se, os técnicos do ICNF aproximaram-se até o encontrarem morto. Ainda no dia anterior, às 19h, Kayakweru tinha sido avistada e apresentava “comportamentos normais da espécie”, segundo um comunicado do ICNF.

A fêmea tinha sido colocada no cercado de adaptação a 7 de Fevereiro. No dia 25 do mesmo mês, ganhou a liberdade total. Morreu a 12 de Março, quinze dias depois.

“É uma situação natural em projectos de reintrodução como este. É normal que haja mortalidade, por causas naturais ou outro tipo de causas”, refere Sofia Castelo Branco. 

Em Espanha, onde a reintrodução dos linces começou mais cedo e já há uma população de algumas centenas de animais, o principal factor de mortalidade têm sido os atropelamentos. Houve nove em 2012, 14 em 2013 e cerca de duas dezenas em 2014. Este ano, já foram dois. 

Uma das razões para mais atropelamentos, além do aumento da população de linces, é a falta de coelho-bravo, o principal alimento da espécie. Os linces estão a ir mais longe à procura de comida e acabam muitas vezes por dar com estradas.

Para já, a monitorização em Mértola indica que os linces se mantêm na mesma zona onde está o cercado. “Os animais têm estado por aquela região e têm tido um comportamento absolutamente normal”, diz Sofia Castelo Branco. 

Há poucas semanas, o próprio ICNF entrou em alvoroço quando circularam internamente imagens de um lince atropelado, mas que afinal eram de um exemplar de Espanha.

A perda de Kayakweru não irá atrasar o projecto de reintrodução, segundo o ICNF. Os casal que está neste momento no cercado será solto quando estiver preparado. E, ao longo deste ano, mais quatro linces deverão ser libertados. 

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