Jihadistas em fuga da cidade iraquiana de Tikrit

Forças pró-governamentais já chegaram ao centro. Radicais respondem com atentados contra Ramadi, capital da província de Anbar e único bastião do Governo nessa região.

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A maioiria dos que combatem do lado do Governo iraquiano são xiitas AHMAD AL-RUBAYE/AFP

Dez dias depois de ter lançado uma ofensiva para reconquistar a cidade de Tikrit aos combatentes do autoproclamado Estado Islâmico, o Governo iraquiano estava esta quinta-feira perto de poder reclamar vitória.

Alguns responsáveis dizem que os jihadistas restantes, uns 150, estão concentrados no centro da cidade de Saddam Hussein, 160 quilómetros a norte de Bagdad. Outros garantem que já nem há radicais em Tikrit, só as armadilhas e os explosivos improvisados que estes deixaram para trás, como garantiu à televisão nacional um chefe militar, Khalid Khazraji.

Na prática, as forças pró-governamentais estão agora presentes em todos os bairros da cidade mas ainda não a podem declarar sob controlo. Esta é a primeira grande operação contra os jihadistas desde que estes tomaram vastas zonas de território e importantes cidades, no Verão do ano passado. Com 23 mil homens envolvidos, contra umas centenas de combatentes extremistas, a vitória militar nunca esteve em dúvida.

O problema é que a esmagadora maioria das forças envolvidas nesta ofensiva, perto de 20 mil, são membros das Unidades de Mobilização Popular, uma coligação de milícias xiitas financiada pelo Irão. Juntam-se a estas milicianos árabes sunitas, mas em muito menor número, e uns 3000 soldados do Exército regular. A população de Tikrit, na província de Saladino, é sunita e teme retaliações por parte dos milicianos xiitas, como já aconteceu noutras zonas.

Já na quarta-feira, quando estas forças entraram na cidade, líderes políticos iraquianos descreviam como os jihadistas estavam a roubar carros à população e a tentar fugir.

Em Washington, numa audiência do Comité de Relações Externas do Senado, o chefe do Estado-Maior Interarmas do Estados Unidos afirmou-se certo de que a operação seria um sucesso. “De certeza que eles vão correr [com os radicais] de Tikrit”, afirmou o general Martin Dempsey, que esteve em Bagdad no início da semana.

“A questão é o que vai acontecer depois, se vai haver vontade para deixar as famílias sunitas regressarem aos seus bairros, se eles vão trabalhar para restaurar os serviços básicos que vão ser necessários, ou se isto vai resultar em atrocidades e vinganças”, avisou Dempsey.

A maioria da população de Tikrit fugiu da cidade para evitar ser apanhada no meio dos confrontos, mas também com receios de represálias.

Antes dos primeiros avanços militares, Hadi al-Ameri, que lidera as Unidades de Mobilização Popular, pediu à população que abandonasse a cidade para que fosse possível “vingar Speicher” – nome de uma base militar nos arredores onde os jihadistas massacram centenas de jovens soldados xiitas quando conquistaram a zona. Muitos iraquianos de confissão xiita acreditam que o fizeram com a ajuda de tribos sunitas.

Prestes a serem derrotados em Tikrit, e sabendo que a seguir deverão esperar uma ofensiva contra Mossul, a segunda maior cidade do país, os jihadistas lançaram entretanto uma série de atentados em Ramadi, capital da província de Anbar, que se estende dos subúrbios de Bagdad até à fronteira com a Síria, a ocidente.

Desde quarta-feira, pelo menos 21 carros armadilhados explodiram em ataques coordenados que mataram pelo menos dez pessoas e feriram 30. Ramadi fica apenas a 100 quilómetros da capital iraquiana e é a única cidade que o Governo controla na região.

Anbar foi a primeira província onde os jihadistas se instalaram, ainda no fim de 2013, aproveitando os confrontos entre tribos locais e forças governamentais, depois de Bagdad ter recusado negociar uma série de reivindicações da população local, árabe sunita. Foi também aqui que nasceu a Al-Qaeda no Iraque, durante a ocupação norte-americana, grupo que haveria de dar origem ao actual Estado Islâmico.

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