Quando o PS não incomoda Passos

Em política, os simples julgamentos morais são inconsequentes.

A não ser que surjam novos dados, a questão levantada pelo incumprimento de obrigações à Segurança Social por parte do primeiro-ministro pode ter terminado com o debate desta quarta-feira na Assembleia da República. Pelo menos é isso que se depreende da própria atitude da oposição.

No final, apenas o Bloco de Esquerda e os Verdes quiseram forçar uma consequência política deste caso, ao pedirem a cabeça de Passos Coelho. Catarina Martins (BE) alegando “falta de condições políticas objectivas” e Heloísa Apolónia invocando a erosão da “credibilidade” do chefe do Governo para ocupar o cargo. Mas nem o PCP nem o PS tocaram sequer na possibilidade de queda de Passos Coelho, como que assumindo a inexistência de matéria capaz de levar à queda do primeiro-ministro.

Aliás, é sintomático que a palavra demissão tenha partido das galerias, onde uma parte da assistência acabou por ser evacuada devido a protestos, e não da boca de nenhum deputado do maior partido da oposição. O que não deixa de ser algo surpreendente, sobretudo por se saber que António Costa se tinha deslocado propositadamente ao Parlamento para preparar este debate, dando assim sinal da importância que lhe atribuía. Mas o que se ficou a perceber logo na intervenção inicial de Ferro Rodrigues é que os socialistas não entendem que o facto de o actual primeiro-ministro ter estado cinco anos sem pagar contribuições devidas à Segurança Social seja motivo bastante para exigirem a sua cabeça. A sua estratégia perdeu-se num julgamento de ordem moral sobre a atitude de Passos, o que acabou por retirar qualquer eficácia política ao debate. “Este já não é o Passos Coelho do rigor”, lamentava o líder da bancada do PS. Resta perceber se o objectivo dos socialistas é voltarem (ainda) ao tema para desgastar Passos até às eleições, ou se se trata mesmo de inabilidade política da sua direcção. Para já, o chefe do Governo fica, mesmo sem pedir desculpas.

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