Topografia, leveza, informalidade

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Estádio Olímpico de Munique John MacDougall/AFP

Em Setembro de 2014, a revista italiana Casabella publicou um artigo-manifesto a defender o prémio Pritzker 2015 para o arquitecto Frei Otto. O mais importante prémio atribuído a arquitectos foi de facto para este arquitecto alemão que, contudo, não chegou a viver para o receber numa cerimónia. Morreu no dia 9 de Março e tinha 89 anos. A sua obra dividiu-se entre a prática da arquitectura, o ensino, a militância ambientalista e a investigação sobre temas estruturais que contribuíram para a sua fixação disciplinar na leveza e na informalidade.

O panorama europeu no segundo Pós-Guerra implicou na arquitectura erudita uma investigação sobre as relações entre esta disciplina e a antropologia, um interesse pela cultura popular e a afirmação da arquitectura para o maior número com projectos de grande escala. Apesar de os principais protagonistas insistirem nas conexões da arquitectura com a vida quotidiana, não deixava de prevalecer uma certa gravidade nas obras produzidas. Daí emergiram as tentativas de circunscrever as práticas com nomes como Brutalismo, Metabolismo, entre outros. 

O arquitecto Frei Otto parte deste contexto social, mas a sua obra foi noutra direcção, no sentido do imaginário da transformabilidade do espaço tenda, do que é nómada e não perene, numa arquitectura topográfica e informal. Para isso, foi necessário mergulhar numa investigação sobre estruturas tensionadas e leves, das quais se tornou um pioneiro e um inventor. Tornou-se um arquitecto-engenheiro. Mas a tecnologia, no caso de Frei Otto, parece não ter sido nunca um tema em si mesmo. Parece nunca se ter sobreposto à síntese que a melhor arquitectura pode operar.

Os seus projectos entre a década de 1950 e o presente são variações sobre o mesmo tema conceptual, numa progressiva apuração tecnológica e trabalho sobre as telas e a luz difusa. Entre o Budensgartenschau de Kassel, construído em 1955, e as obras mais recentes, como a que realizou em co-autoria com Shigeru Ban para o Pavilhão do Japão na Expo 2000 em Hanover, Alemanha, existe um filão claro que envolve a interrogação sobre o significado da estrutura por analogia ao mundo da biologia; e o significado do espaço fluido por analogia ao meio não transformado pelo homem.

Os desenhos de Frei Otto assemelham-se a levantamentos topográficos em planta. As secções remetem-nos para uma aparente fragilidade estrutural, no limite das suas possibilidades estáticas, necessária para a leveza ambicionada.

Uma das obras mais celebradas de Frei Otto foi a estrutura de cabos utilizada no Pavilhão da Alemanha na Expo 67 em Montreal, Canadá, onde Buckminster Fuller, um arquitecto americano também interessado nos mesmos temas, construiu uma cúpula geodésica. O projecto para a Expo 67 foi construído na Alemanha, levado para o Canadá e aí montado. A luz interior constante, como se dentro de uma tenda, e as variações formais ditadas pela estrutura fizeram deste projecto um protagonista. Outro foi a cobertura do Estádio Olímpico de Munique, de 1972. A sua expressão é a de uma rede sem gravidade lançada sobre as bancadas do edifício. 

Sendo um arquitecto associado a membranas, cabos, estruturas tensionadas, quando lhe perguntaram sobre as suas referências, Otto Frei refere um escultor da gravidade e da massa: Brancusi. 

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