Investigadores acreditam ter encontrado restos mortais de Cervantes

O esqueleto não está inteiro, mas algumas das ossadas localizadas em Janeiro podem mesmo ter pertencido ao autor de Quixote e à sua mulher.

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Cientistas com fragmentos do caixão com as iniciais “MC” Sociedad de Ciencia Aranzadi/AFP

Os arqueólogos e cientistas forenses que há um ano procuram o túmulo de Miguel de Cervantes no Convento das Trinitárias Descalças, em Madrid, terão mesmo achado os restos mortais do autor de D. Quixote de la Mancha, segundo a Efe, a agência de notícias espanhola, citada por vários jornais.

A informação baseada nos primeiros dados laboratoriais terá sido avançada por uma “fonte próxima do projecto”, mas não tem ainda confirmação oficial por parte da autarquia madrilena, impulsionadora deste estudo que visa identificar um corpo sepultado há 400 anos.

Explicam os cientistas que as ossadas “compatíveis” com as de Cervantes (1547-1616), encontradas junto às da sua mulher, Catalina Salazar, não estavam no local da sua sepultura primitiva e sim na cripta para onde terão sido transladadas a partir de 1673, ano em que começaram as obras de renovação da igreja deste convento do Bairro das Letras, em pleno centro da cidade (terminaram em 1690).

Para afirmar com absoluta certeza que identificaram os restos mortais do escritor, os especialistas precisam ainda de aprofundar os estudos. Mas, depois de os ter submetido a um espectómetro de massa (aparelho que permite identificar as diferentes moléculas que compõem uma substância), a equipa dirigida pelo antropólogo forense Francisco Etxeberría chegou à conclusão preliminar de que, pela composição óssea e a datação dos fragmentos, é plausível que pertençam a Cervantes.

Segundo o jornal ABC, os cientistas, que têm concentrado atenções num fragmento de mandíbula, fazem questão de sublinhar, no entanto, que os ossos estão em muito mau estado, o que pode dificultar futuras análises.

Ferido em batalha

No final de Janeiro, a equipa de Etxeberría anunciou com grande entusiasmo que tinha encontrado na cripta desta casa religiosa – um espaço de 70 metros quadrados que fica quase cinco metros abaixo do solo da igreja, com 36 nichos ocupados por ossadas – um caixão de madeira em avançado estado de decomposição com as iniciais “MC” gravadas em ferro. Iniciou-se, então, um complexo processo de análise dos vestígios, apostado em identificar provas de lesões nos ossos do escritor e dramaturgo.

Cervantes foi ferido no peito e na mão esquerda na Batalha de Lepanto, a que em 1571 apôs a República de Veneza e os reinos partidários do Papa ao império otomano, o que levou os especialistas a procurarem, por exemplo, marcas do impacto de balas no esterno e traços de atrofia óssea.

A mandíbula e outros ossos que agora dizem ser “compatíveis” com os de Cervantes foram retirados deste caixão, onde estavam misturados com ossadas infantis. Na cripta das trinitárias, precisa o jornal El País, foram identificados vestígios de mais de 200 crianças. Os cientistas, lembra ainda este diário espanhol, sempre disseram que não esperavam encontrar um esqueleto completo.

De acordo com as fontes históricas, Cervantes foi sepultado neste convento a seu pedido, já que era um grande devoto da ordem trinitária, que o terá salvado do cativeiro em Argel, onde esteve cinco anos.

Os resultados desta fase de trabalhos, que coincide com os 400 anos da publicação da segunda parte de D. Quixote de la Mancha e que antecede o quarto centenário da morte do escritor universal, deverão ser apresentados à imprensa nos próximos dias.

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